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(Foto: metroecuador.com.ec)
A nacionalização de quatro filiais da Iberdrola, na Bolívia, foi recebida com espanto e horror por uma boa parte dos comentadores online do Público.
Na cabeça daquela gente, a nacionalização faz parte do cardápio das ditaduras e qualquer empresa pública tem falência e ruína como destinos inevitáveis. Catequese, não mais que catequese.
É um mesmo tipo de fé que se vê nos militantes da National Rifle Association. Num e noutro caso, quem pode dizer a um crente que aquilo em que acredita está bem longe da cair no domínio da infalibilidade?
Evo Morales, o presidente boliviano, diz que as filiais da pretrolífera espanhola cobram o dobro das tarifas nas zona rurais do país. Que não pode ser. Que toda a gente tem direito à energia. E se se expropria a propriedade da Iberdrola, não se deixa de prever o pagamento de indemnizações. A energética espanhola vai querer receber mais, o Estado boliviano vai querer pagar menos. Mas não se trata de um saque.
Depois, nada, absolutamente nada, nas "leis" da Economia dita a gestão pública como pior que a privada. Que haja quem, em muito lado, se encarregue de o fazer parecer, são contas de outro rosário.
De qualquer forma, atendendo aos custos das parcerias público-privadas para as contas do Estado português, talvez fosse chegada a altura de muitos decisores meterem o missal na gaveta. O ano de 2013 corre o risco de vir a reformar vários sacramentos intocáveis.
Há uns dias, Vasco Pulido Valente voltou à carga com a sua ideia infundada de que não existe cultura em Portugal.
Rezam as más línguas que o homem não sai de casa. Quem produz cultura, garante que nunca o viu numa sala de teatro, em exposições.
Isso não o impede de opinar. Nesse texto, publicado no Público, Pulido Valente garante que não existe Cinema em Portugal.
Bem pode Miguel Gomes, por exemplo, ter vencido vários prémios, estrear filmes em 46 salas francesas, ou ter um dos seus filmes escolhido como um dos melhores de 2012 pelos Cahiers du Cinéma ou pela Sight & Sound.
Que interessa isso ao homem que por acaso escreveu o argumento de O Delfim, de Fernando Lopes, uma das muitas obras que prova a existência de Cinema em Portugal?
Vasco Pulido Valente, sempre com o amor-próprio patologicamente em baixo, é tão amargamente cioso da sua visão pessimista e elitista do país que nem a si próprio se poupa.
Uma lenda do western fordiano e do cinema como o cinema devia sempre ser.
O Cinema Novo em estado puro.
... é acabar com os subsídios. Como, aliás, se disse aqui atempadamente, como a CGTP acusou e como anteontem vincava Isabel Moreira - deputada que nem sequer entrou pela esquerda no grupo parlamentar do PS.
A "razoabilidade" dos mais fracos (em casos claros, a tibieza, cumplicidade ou mesmo intencionalidade) parte a corda sempre para o mesmo lado. Aceitar o pagamento dos subsídios em duodécimos apenas vai permitir baixar mais os salários prosseguindo o desígnio do país de baixo custo terceiro-mundializado.
(Foto: m.publico.pt)
Enquanto à esquerda se prossegue sem dar indicações reais ao eleitorado de que se pode contar com ela na governação, no Partido Socialista vive-se alinhado com o habitual. Com a lógica e alianças que conduziram o país ao ponto em que está.
Ontem, apenas quatro parlamentares do PS votaram contra o pagamento em duodécimos de metade dos subsídios de férias e de Natal no sector privado. Seis abstiveram-se. Os restantes votaram ao lado da maioria que suporta o Governo, de onde veio a ideia.
A deputada Isabel Moreira tem andado muitas vezes desalinhada com o PS. Foi uma das que votou contra. Mais uma vez o grupo parlamentar do Partido Socialista não contou com o seu voto. A justificação é límpida: "O que aqui está é o abrir da porta para a eliminação dos subsídios, os quais, sendo remunerações, são direitos fundamentais."
No PS não se entende a coisa da mesma maneira. Tal como não se entendeu quando Vieira da Silva agravou o Código do Trabalho de Bagão Félix. Ou como quando, já com Passos Coelho, otou a favor de mais alterações ao mesmo diploma. No essencial, desde Bagão Félix que se tiram direitos aos trabalhadores transferindo-os para o lado mais forte da relação laboral. Sempre com os votos favoráveis do PS.
Ao contrário do que alguns defendem, nenhum partido português é imprevisível. São todos aliás de uma previsibilidade notável. Bem pode o PS apresentar no comentário publicado dezenas de pontos de vista contestando a austeridade do Governo PSD/CDS-PP. Quando se trata de votar questões ligadas às questões salariais e das relações de trabalho - assuntos matriciais num partido socialista -, o PS tem sistematicamente votado ao lado dos partidos da Direita. Mesmo quando - é o caso agora - o seu voto contrário em nada impediria a aprovação da medida.
Em recente entrevista ao Diário de Notícias, Vital Moreira considerou um equívoco aquilo que designou como "flirt" do PS com os partidos à sua esquerda. Apenas mais um ponto de vista semelhante a outros que tem manifestado. E todos bastante mais adequados ao sentido geral de actuação do PS do que os de Isabel Moreira, uma das deputada que vai dizendo coisas de esquerda aos eleitores.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira in Cancioneiro de Natal
(Foto: fotograma de Saló ou Os 120 Dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini)
O primeiro-ministro demissionário italiano, Mario Monti, não concorre às eleições mas diz-se pronto a liderar um governo caso haja "apoio dos partidos" à sua agenda.
Trocando por miúdos, os eleitores votam nos programas que os partidos lhes propõem, para depois os partidos escolherem um chefe de Governo que fará o que muito bem lhe apetecer.
Monti não diz a ninguém que é um democrata ou sequer que acredita na democracia. O que propõe é um golpe de Estado. Um simulacro descarado de democracia. É esta agenda de decisões que a democrática Europa vai promovendo. E o saneamento das contas públicas é apenas um pretexto como outro qualquer para destruir o sistema democrático.
Há sempre um rol com as melhores, mais justas e mais razoáveis razões do mundo para justificar o injustificável. E os que defendem a democracia, vão tendo de viver com o que lhes propõem os partidos dos factos consumados.
O primeiro-ministro disse aos portugueses para deixarem o pessimismo e para se tornarem "soldados contra a crise".
Faz-se o possível. Do ano de 2013, Passos Coelho e seu bando irresponsável de gaspares, relvas e portas não conseguirão passar.
Podia haver melhor notícia para o país no campo político?
Podia, mas 2013 não é um ano de presidenciais.
O comentário próximo do Governo anda para aí numa labuta pegada tentando mostrar que tudo que se disse sobre a privatização da TAP não passou de má-língua de gente ainda pior intencionada.
É um truque tão bom como qualquer outro. Mas as privatizações da lucrativa ANA - uma inovação nacional - e de quase 50 por cento da RTP também estão previstas e eventualmente melhor encaminhadas.
A ver a que argumentário recorrerão entretanto os fiéis do Executivo.
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