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Com a opinião pública terraplanada pelo boicote das estações televisivas, pelos oficiais do espectáculo mediático, pelos jornais que dizem que a lei diz o que não diz, com o tiro de partida dado por Passos Coelho, a nas últimas semanas tão pedida alteração da lei da cobertura jornalística eleitoral conta, desde ontem, com o alto patrocínio do inadjectivável Cavaco.
Mas, afinal, o que diz a lei?
No Artigo 49º - Comunicação Social – alínea 1 refere que “[o]s órgãos de comunicação social que façam a cobertura da campanha eleitoral devem dar um tratamento jornalístico não discriminatório às diversas candidaturas”
Suscita dúvidas? A mim não suscitou. Como a lei é de 2001 e já foi aplicada nas eleições locais de 2005 e de 2009, em princípio não deveria implicar divergências interpretativas. Mas um grupo poderoso de jornalistas resolveu opor-se a esta lei que garante o pluralismo.
Directores de informação alegam terem surgido interpretações "posições mais restritivas" e que “não é humana e tecnicamente possível” dar o mesmo destaque a todas as candidaturas.
Mas que disse realmente e desta vez o presidente da CNE sobre o artigo em causa?
Que interesses servem estes jornalistas? O da informação não é de certeza. E quer Cavaco, quer Passos Coelho, com as responsabilidades que lhes advêm dos cargos Executivos que ocupam, já colheram a, em nada democrática, vontade de alteração da lei da cobertura eleitoral que directores dos canais televisivos e de algumas rádios semearam.
Alguém arranjou maneira de pôr o Público a noticiar hoje, dia de reflexão eleitoral, que em Bruxelas se prepara um segundo resgate para Portugal.
Confesso não saber que efeito terá a notícia plantada em primeira página.
Do meu ponto de vista, um segundo resgate em curso prejudicaria a actual gestão nacional. Mas também me parece que a actual gestão nacional acredita que pregar sustos aos portugueses convence a maioria dos eleitores a não se meterem em grandes mudanças.
Estou em pulgas. A SIC tem na calha os inamovíveis e imparciais Marques Mendes e António Vitorino para comentar amanhã os resultados das autárquicas. Mais uma vez, uma aposta de gabarito.
(Fonte: arepublicano.blogspot.pt)
Este post anda para ser escrito desde dia 16. Nesse dia, já em fim de artigo, com origem na Lusa, dera com repetição de declarações de presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) sobre a cobertura jornalística das autárquicas.
Grosso modo, dizia-se aquilo que já aqui tinha sido dito: que absolutamente nada obrigava a que fosse feita a cobertura jornalística das 308 autarquias, conforme haviam propalado, histéricos, centros de poder da comunicação social.
Esta interpretação entra em evidente colisão com o ponto de vista convertido em boicote dos três canais televisivos. E, ao contrário do que se passou com as direcções de informação da RTP, SIC e TVI, quem aqui tinha chegado a essa conclusão tinha sido um jornalista formado em engenharia, que nunca teve o apreço das chefias, nem sequer dos pares, mas sem qualquer auxílio de gabinetes jurídicos. Apenas com um entendimento muito diferente do que é o dever de isenção e pluralismo e do que é jornalismo e a obrigação de informar.
Claro que entra também em óbvio confronto com o apelo à desobediência civil de prestigiados jornalistas da praça. Uns com um passado lustroso (e profissionalmente vantajoso) de confronto pessoal com um primeiro-ministro; outros com uma mão-cheia de livros publicados - quando eu só tenho um, a meias, e, ainda por cima, embora o tema até o facilitasse, sem embarcar em escândalos próprios de coscuvilheiras.
A campanha intoxicante da comunicação social contra a lei da cobertura jornalística das eleições tem como origem a tresleitura de um simples artigo, o 49º. Pouco interessa que o artigo não diga o que tanta gente de responsabilidade diz que diz. O que exigem é a mudança da lei toda, embora se saiba bem quem lucrará com isso. E não será o leitor, nem o espectador. Um editor de televisão até escreveu sem confirmar e sem contraditório que a lei remontava aos tempos de um dos governos do general, quando afinal foi produzida em 2001.
No dia 17, embora ainda na véspera a Lusa tivesse transcrito as declarações de Fernando Costa Santos, presidente da CNE transcritas acima, prosseguia a desinformação aos leitores.
No Público, em “Novo membro da CNE eleito por maioria, p. 12, escreveu-se que “os três canais de televisão […] decidiram não acompanhar as candidaturas locais, mas apenas noticiai a participação dos líderes nacionais na campanha autárquica com o argumento de que a CNE exigia igualdade de tratamento para todas as candidaturas para todas os candidatos.Na passada semana, o presidente da CNE, Fernando Costa Santos, reiterou a posição daquele órgão, dizendo que «as candidaturas têm todo o direito de serem ouvidas pelas televisões»”.
O pior é que faltava acrescentar o que Costa Santos dissera mais:
Transcrever a totalidade das declarações tornava falsa a notícia que tanta comunicação social tem tentado fazer passar. Afinal, já vários dirigentes partidários se chegaram à frente, na última semana, defendendo a mudança da lei que não precisa para nada de ser mudada. O artigo 49º não obriga a que se faça a campanha nos 308 municípios. Alegando a liberdade de informar, órgãos de comunicação e alguns dos seus profissionais activos afunilam a escolha para o lado que lhes interessa. Semeiam menos pluralismo, menos democracia, menos isenção. Mais propaganda, mas menos jornalismo.
... e tenho pena que não se tenha feito aquilo que há mais de dois anos me pareceu que se ia fazer.
Há prosas de tal modo satisfeitas que um tipo fica na dúvida se se deverão a deformação profissional, resultante de uma vida entregue à diplomacia, se de hipertrofia da auto-estima.
* frase lendária atribuída a um qualquer lente regressado de uma conferência
(Fonte: dn.pt)
A TVI 24, que é assim uma espécie de canal oficial da Fundação Francisco Manuel dos Santos, lá tem transmitido directos da conferência Presente no Futuro. Portugal Europeu. E agora?
Em zapping, notei que um dos painéis incluia Manuel Villaverde Cabral, Augusto Mateus e António Barreto, moderados por Teresa de Sousa. Ou seja, pelo que se conhece do discurso público dos quatro oradores, uma enorme convergência de ponto de vista.
Acho que é isto que se entende em Portugal como um debate pluralista. Muitas pessoas a dizerem a mesmíssima coisa. Uma variante de Dupond e Dupont sem a qualidade estética do Hergé.
"Exigir que não se pague uma dívida é absolutamente crime […] O investimento estrangeiro em Portugal é vital", dizia ainda agora na TVI24 um tipo que transferiu para a Holanda a sede das suas empresas.
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