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Estou desejoso de que Cavaco abandone Belém para se poder começar a tratar a figura tal como ela merece e sem risco de se ir condenado por ofensa à presidencial instituição.
Os jornalistas de política a merecer respeito dos leitores esgotam-se, quase de certeza, em menos de uma mão. Estão longe de servir a informação e depois admiram-se com as vendas e com os falhanços.
Nas últimas semanas, quase tudo tem servido para noticiar dificuldades negociais entre os partidos da esquerda parlamentar: Dos excessos revolucionários do BE e da CDU, da profunda divisão e oposição interna socialista, do protagonismo de Catarina Martins, da subida do salário mínimo para seiscentos euros já a partir de amanhãzinho cedo, do não conhecimento atempado de um programa, da ausência de ministros dos partidos contrários aos compromissos internacionais do Estado português, do excesso de moções de rejeição e de acordos a assinar, da demora das negociações. O Governo de esquerda corre o risco de chegar e os jornalistas não darem por ele.
Um jornal de referência terá mesmo conseguido desencantar um dirigente comunista capaz de dizer que Costa não tinha condições de ser primeiro-ministro por não ter vencido as eleições. Outros interpretaram estados de alma e garantiram o descontentamente dos eleitores do PS, BE e CDU com as negociações à esquerda, pouco interessando que sondagens feitas entretanto nada sugerissem quanto ao tão propalado e anunciado desencanto.
Na sexta-feira, o PCP emitiu um comunicado dando conta do fecho do acordo com o PS. Foi preciso esperar pelas três quase em ponto da tarde de ontem para que os órgãos de comunicação - pela mão de Paulo Pena, um dos poucos jornalistas políticos que vale a pena ler - começassem a reparar, timidamente, no que dizia o comunicado:
Estão "reunidas as condições para [...] a adopção de uma política que assegure uma solução duradoura."
Andou Cavaco a exigir uma solução estável, comentadores garantindo ser melhor um governo da direita por dez dias do que um governo viabilizado pela esquerda durante um ano e meio, e quando um dos partidos excluíveis do sistema fala em "solução duradoura", o esmagador e ruidoso grosso dos jornalistas de política nem sequer reparou na frase.
Agora, a comissão nacional do PS aprovou por esmagadora maioria o resultado das negociações da esquerda e o programa de um Governo já cá está fora; o BE aprovou o acordo com os socialistas; os Verdes - que noutras circunstâncias teriam já sido dados como uma simples correia de transmissão comunista - já deram o aval a uma solução de Governo dirigida por António Costa. E, mesmo assim, ainda há quem mantenha a esperança e sonhe com o colossal recuo que hoje há-de sair da reunião do comité central do PCP.
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