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Na semana passada, Silva Pereira voltou à carga com a responsabilidade do PCP e do BE na chegada da actual maioria ao Governo. A história vai sendo largada enquanto mantra para auto-consumo dos militantes desde o chumbo das propostas contidas do quarto Pacote de Estabilidade e Crescimento apresentado por José Sócrates ao país.
A questão é bem mais importante do que parece aos demagogos que constroem algumas das narrativas do PS. E verdadeiramente destruidora da Democracia e da Política. Mas o tremendamente grave é que se mostrem incapazes de o perceber.
No essencial, é uma narrativa de onde está ausente qualquer crença na democracia e na política, é a concepção pragmática que levou todos os partidos sociais-democratas à morte logo com a queda do muro de Berlim.
Em Portugal, Guterres, com as agendas liberais de correias de campos, bessas e mateuses atreladas foi já o cadáver nauseabundo de um partido transformado em terceira via. Uma coisa sem ideias suas, sem programa seu, sem convicções próprias. As da Banca - ainda há pouco escoradas em Maastricht por um primeiro-ministro que a afastamento bem medíocre retornou e que aldrabaria eleitores até chegar a Belém - serviam bem. Aliás, serviam muito bem, como se veria muitos anos depois com o inevitável e responsável (viu-se) Tratado de Lisboa.
Por essa altura, as ligações política-negócio tinham-se corporizado em gente como Jorge Coelho. Mas havia ainda a relativização dos direitos humanas e o autoritarismo do desejado António Costa posto em letra de citação postal e em mandados de busca e captura cumpridos madrugada fora; ou nos voos da CIA à conta da traição neo-conservadora de Luís Amado e ignorados por Sócrates na sua tese sobre Tortura em Democracia.
Pelo menos desde a queda do muro de Berlim que os sociais-democratas (família onde o PS se inclui) não têm uma ideia sua. Terão uma maneira sua de pôr em pé a ideia de Outro, ou, muito vezes uma maneira-outra de pôr em prática a ideia de Outro. Em Portugal, privatizações, PPP, mexidas neo-liberais no Código Laboral, despaisamento e desertificação, esvaziamento de serviços públicos.
Quando no PS se afirma que PCP e BE são responsáveis pela chegada ao poder de Passos Coelho, Paulo Portas e da tróica, estão na realidade a recusar a existência do debate democrático e político. Reservam aos partidos à sua esquerda, uma espécie de papel de tutor do PS para se manter no poder. Recusam que PCP e BE discutam a democracia e a política nos moldes em que esses dois partidos pensam a sociedade.
No argumentário de Pedro Silva Pereira (peditório para que curiosamente o seu muito próximo Sócrates não tem dado) só existia uma opção política e democrática em cima da Mesa. E essa tinha de ser tomada nos exactos termos do debate democrático balizado pelo PS, PSD e CDS-PP. Em cima da mesa, segundo este ponto de vista socialista, ou o PEC e o PS, ou a tróica com o seu conjunto de medidas da mesma família ideológica das previstas nos PEC e a actual maioria.
Os partidos representantes das ideias de cerca de 15 por cento do eleitorado tinham pois de excluir os seus pontos de vista da discussão pública.
E é aqui que no PS se faz o jogo neo-liberal. Ao recusar que PCP e BE tenham e defendam a sua própria mundividência política, o PS exclui dos dois partidos de qualquer debate democrático. Mas vai mais longe. Pois exclui um conjunto de eleitores da participação cívica, recusando-lhes o direito de pensar fora do pragmatismo hegemónica. Remete esses partidos, essas ideias, esses eleitores para fora da ordem estabelecida e da qual se sente legítimo representante.
Ou seja, o PS que aplaude estas ideias de Silva Pereira reserva-se um papel na ordem estabelecida, mas remete outros – na melhor das hipóteses uma multidão irracional – para o papel dos excluídos da história, da política e da democracia. O PS faz-se pois representante de um dos pontos de vista mais reacionário e mais contrários à social-democracia. O ponto de vista daqueles que acham que duas pessoas bem intencionadas com a mesma informação escolhem sempre a mesma solução.
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