Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Problemas dos referendos num par de respostas do escritor Ian McEwan, em entrevista ao Diário de Notícias:
Os referendos sobre o futuro de um país tendem a amarrar os povos a posições definitivas, ao contrário das eleições que permitem mudar políticas de quatro em quatro anos. Não dá para saírem e voltarem a entrar quando se fartarem. E terá sido nisso que Cameron pensou. Segundo o escritor, o ex-primeiro-ministo britânico acreditava que através do referendo amarraria sucessivas gerações de governantes à União Europeia.
Na semana passada, John Kerry, secretário de Estado norte-americano, esteve em Bruxelas. Acerca do Brexit disse que
"É absolutamente fulcral que nos mantenhamos focados para que ao longo deste período de transição ninguém perca a cabeça, adopte atitudes arrogantes ou comece a promover abordagens menos reflectidas ou vingativas."
Apesar de encontros unilaterais de países fundadores do Mercado Comum, a chanceler alemã também disse que:
"Isto deve ficar muito claro. Não poderá haver negociações informais antes da Grã-Bretanha ter declarado oficialmente a sua saída da União Europeia."
Para já ninguém dá pelas consequências destes apelos ao bom senso. Angela Merkel não fala a sério e está apenas armada em polícia boa.
John Kerry, secretário de Estado norte-americano estará longe de ser um radical. Mas às vezes parece:
"É absolutamente fulcral que nos mantenhamos focados para que ao longo deste período de transição ninguém perca a cabeça, adopte atitudes arrogantes ou comece a promover abordagens menos reflectidas ou vingativas".
As declarações foram feitas depois de uma reunião com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e com a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini.
Bruxelas quer impor sanções a Portugal e Espanha por causa do falhanço do seu próprio plano de ajustamento - um regime de empobrecimento e de tranferência de riqueza que é soberana, económica e socialmente criminoso.
Logo no seguimento do Brexit, ameaçaram o Reino Unido com retaliações e deixaram claro ser eles os donos da Europa. De modo cobarde, esperaram pelas eleições em Espanha - não fossem prejudicar o PP, partido que lhes fez os fretes.
Oito anos de crise espalhada e ainda não perceberam nada da Europa que criaram nem das consequências da hostilidade, humilhações e ressentimentos que teimam em cultivar. Se têm mesmo vontade de manter o projecto de pé, não se nota muito.
O referendo proposto ontem por Catarina Martins na convenção do Bloco de Esquerda, pode não ter cobertura constitucional, mas possivelmente já antecipava a notícia desta segunda-feira. Alguma coisa terá de fazer-se. E se a coisa não é reformável por dentro, bem se pode criar algo de limpo e asseado ao lado.
Pelo menos no discurso, Paulo Rangel chegou a ultrapassar pela esquerda um candidato do PS ao parlamento europeu. E venceu Vital Moreira. Depois disso lá acertou agulhas e nos últimos anos tornou-se um político desinteressante e demagogo.
Anteontem, na TVI24, justificava a bondade da reunião conjunta dos ministros dos negócios seis países fundadores da CEE. Que têm todo o direito de se encontrar e discutir o Brexit entre eles, dizia.
Para justificar a atitude dos seis países europeus que se acham mais europeus que os outros países europeus, Rangel até se lembrou de sugerir uns encontros portugueses com os estados atlantistas da União Europeia.
Embora o modelo sugerido pelo euro-deputaddo do PSD fosse mais o dos contactos diplomáticos que os de um encontro clubístico, serviu-lhe a coisa para justificar a exclusivista reunião dos seis auto-denominados donos da Europa.
Perante a crise provocada pelo Brexit, meia dúzia de países e os seus capatazes embarcam na retaliação e no acentuar das divisões internas de um corpo mais que doente. Fuga para a frente, pela enésima vez. Perante exigências de que o Reino Unido saia depressa, que outras conclusões tirararam os ministros dos negócios estrangeiros dos seis (Alemanha, França, Itália e Benelux)?
"Não deixarão ninguém tirar-nos a nossa Europa", disse o ministro dos negócios estrangeiros alemão.
O uso do possessivo não os recomenda a ninguém. Mas há quem alinhe cegamente. Paulo Rangel junta à estridência, a incapacidade para entender os problemas da Europa. A indiferença (e até o apreço) à humilhação dos povos e o cultivar instrumental do ajojar da soberania - os fins justificam os meios - fá-lo justificar o injustificável. É dessa massa que o grosso dos poíticos europeus é feita. Não perceberam nada, nem vão perceber.
Como, no mesmo programa da TVI 24, o comunista João Oliveira respondia a Paulo Rangel, "é verdade que os seis países têm o direito de fazer as reuniões que quiserem. Mas os outros também têm o direito de tirar as suas ilações".
E, já agora, alguém acredita que perante tão evidente cerrar fileiras, os outros estados e povos europeus não começarão a confirmar algumas ideias disruptivas acerca dos interesses, desígnios e vontades destes voluntariososos directórios e dos seus defensores?
O juízo é cena que não tem propriamente assistido aos líderes europeus.
Do ponto de vista dos defensores da União Europeia, que sentido fará realizar amanhã uma já por si estranha reunião dos ministros dos negócios estrangeiros dos seis países fundadores da CEE?
Depois de aprovado o Brexit, faz mesmo sentido evidenciar um directório de países que se consideram mais europeus que os restantes. Uma iniciativa que, está-se mesmo a ver, tem tudo para fazer outros povos sentirem-se desejados no projecto.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.