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No Expresso Emprego -- a parte mais lida do grosso semanário de Pinto Balsemão -- o espanto é imenso. A mim o que admira é ter sido preciso os Deolinda fazerem uma canção para os jornais acordarem.
Falam dos diplomados precários e espantam-se. Dizem eles que o "número de licenciados desempregados ou com vínculos de trabalho precários mais do que duplicou numa década. Depois de anos em silêncio, eis que a música inspirou toda uma geração a sair à rua."
Mas esta gente não vive nos jornais onde todos os meses os estagiários curriculares são substituídos por outros igualmente sem remuneração?
Em estágios onde na esmagadora maioria parte dos casos não se ensina nada?
Em processos onde se verifica que quem chega das escolas de ciências da comunicação está completamente impreparado, embora os arautos da coisa digam que nunca se fez tão bom jornalismo?
Não vivem nos mesmos jornais onde os novos jornalistas são ensinados a estar calados para renovarem o contrato?
Treinados a trabalhar meses e meses a fio, durante mais de dez horas diárias, e para várias secções em simultâneo, se quiserem ser apreciados? Sem tempo para aprofundarem seja o que for?
Para no final, se souberem calar-se, a recompensa vir brunida pelo salário mínimo ou por pouco mais?
Hipócritas é o que somos.
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