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Cavaco, primeiro-ministro, legou a Guterres um país sem indústria produtiva, sem pescas e sem agricultura, sem parte significativa de transferências devidas da segurança social e com milhares de funcionários de Estado a recibo verde. Legou também o modelo das parcerias público-privadas, que o engenheiro tratou de multiplicar, não pondo fim ao processo de desindustrialização nem de ruína do sector primário. Seguiu com a Expo, que transformou um parque industrial envelhecido num aglomerado suburbano mas caríssimo e à beira-rio. Construiu estádios de futebol.
Quando Guterres se lembrou de taxar as mais-valias bolsistas, os jornais trataram de lhe desfazer o estado de graça. Taxar pelo mesmo imposto pequenos utilitários e jipes, retirados da classificação de viaturas de trabalho, foi na mesma altura considerado um escândalo pelo mercado automóvel.
Vieram Barroso, Portas e Ferreira Leite, sucedidos por Santana, Portas e Bagão Félix e por Sócrates e Teixeira dos Santos. Nem se apostou na Indústria, nem na Agricultura e Pescas, nem no fim das ruinosas parecerias público-privadas. Já eram os tempos do euro, da moeda. Atropelado pela auteridade e por cortes o país lá ia convergindo para o cumprimento do défice, os portugueses para a pobreza, pelo menos os do costume.
Entretanto O BCP e o BPN cresciam. Ocupavam mercado financeiro com figuras de proa do laranjistão à frente. Depois foi o descalabro. Com sortes diferentes, Oliveira e Costa e Dias Loureiro são apenas duas das figuras envolvidas na trapalhada. Suspeitas de crime, constituição de arguidos, nacionalizações. Os lucros privados dos ex-ministros, e outros, resultando na socialização dos prejuízos. O défice trepando brutalmente para evitar "riscos de contágio". O PS voltando a pedir ao FMI para aterrar na Portela.
Agora, sabe-se que as contas da Madeira, secularmente governada pelo PSD local, eram tudo menos fiáveis. Com a tróica bem instalada e com os seus comanditados querendo mostrar serviço, o défice de 2008, 2009 e 2010 terá mais uma vez de ser revisto.
Os comentadores mais sonoros não têm deixado de unir o PS inteiro na responsabilidade da situação que o país atravessa. Afinal, os congressos do socratismo foram marcados pelas vitórias monolíticas do primeiro-ministro. Mas já era tempo de lá juntarem o PSD, que apesar da intervenção dos bancos e da Madeira parece acabar sempre por fugir entre as gotas da chuva. Vantagens de se ser um saco de gatos.
Num dos casos, dizem que era gente de outro chefe, eles que se amanhem que o PSD e a sua cultura nada têm a ver com isso. No outro é uma pandilha que só vai a votos sob a égide do PSD, mas aquilo até é outra coisa, outro partido, como o comprova o M de Madeira, acrescentado à frente do nome.
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