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Inicia-se amanhã a entrega dos Nobel com o anúncio do(s) vencedor(es) do prémio referente à Medicina e Fisiologia.
Como de costume, nos próximos dias, os jornais e blogues (este um hábito mais recente) vão encher-se de gente enfurecida com a fundação sueca, a que chamam irrelevante, tornando difícil perceber por que gastarão tanta cera gasta com tão ruim defunto.
O motivo será o galardão dedicado à literatura, pois embora admitam o analfabetismo quanto às outras distinções, todos estão convencidos de quem sabem ler. Desfeita no ano passado a raiva por Llosa nunca ter vencido o prémio, apenas por ser de Direita, continuarão este ano resfolegando se a coisa, irrelevante vincarão, não premiar Philip Roth ou Salman Rushdie.
Têm da literatura a visão paroquial daquele editor da Newsweek que em 2008, ano em que Le Clézio venceu, anunciou que nem conhecia o premiado. Claro que não se pode conhecer toda a gente, mas eu - que nunca lera (nem li entretanto) nenhum livro do francês - até o incluira numa lista pessoal de onde imaginaria ver sair o vencedor de 2007. Venceu no ano seguinte, mas acertei na Doris Lessing (não disse que era uma lista?).
Esta claque esquece-se que quase todos os países do mundo terão alguém com dimensão para vencer o prémio. De Portugal pode sair Lobo Antunes, um favorito recorrente, como de Espanha pode sair um Juan Goytysolo sem que isso signifique que tenham menos valor o sueco Thomas Transtömer (a Escandinávia tem andado arredada das vitórias) ou o sírio Adonis ("eu não vos dizia que o prémio tem intuitos políticos?", dirão os críticos esquecendo que agora a coisa até lhes agradaria).
Não deixarão no entanto de apontar o facto indecoroso de Kafka e Pessoa não terem vencido o prémio. O facto de ninguém ter dado por eles antes de morrerem será pormenor de somenos. Um tipo não tem de perceber um bocadinho de literatura, da sua história e estética para escrever sobre ela, pois não?
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