Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A contas com uma opinião pública envenenada pela história, pelo medo insano da inflação e por um infundado sentimento de superioridade, Angela Merkl é a mulher errada no momento errado.
Manifestamente, não sabe o que fazer quando tudo arde em seu redor. Quando já toda a gente viu (até à Direita a quem a crise serve) por onde vão euro e Europa. Manifestamente, o continente está falho de líderes como Mário Soares lembra mais uma vez.
A mediocridade convive mal com a diferença. Conseguiu evacuá-la de tudo que é lugar de influência. Os que resistem ou levantam a voz têm mau feitio ou defeitos piores. Ainda por cima a vitória da razão não põe comida na mesa. Por sobre a mediania apenas se ouvem as vozes dos que remam para o mesmo lado: os barretos, os medinas carreiras ou os pulidos valentes.
Frau Angela Merkl não é uma líder, empurra com a barriga. Faz apenas o que a mandam fazer. Não tem o conforto das ideias próprias, nem a inteligência para pereceber que talvez não esteja certa contra a realidade que a bate com a teimosia de uma onda.
Não tem sequer a desculpa de remar contra uma ideia que outros sabotam e minam. Não. Angelka Merkl navega no barco que construiu. No meio das ondas que ela própria vai soprando.
Num outro contexto, o de Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt teorizou sobre a banalização do mal. Sobre aquele grupo de gente que, apanhada numa cadeia de comando, se desculpou com o cumprimento de ordens para o facto de ter de assassinado e torturado.
As voltas da história apanham Angela Merkl como figura do meio numa outra hierarquia de poder. Uma força de outra ordem e carácter, com outros métodos e excessos mas que também anda às voltas com o medo e a destruição.
A chanceler alemã manda tanto como aqueles gauleiters que William Holden desconsiderava em O Inferno na Terra. E está tão destinada ao fracasso como os militares interpretados por Sig Ruman em filmes de Wilder ou de Lubitsch. Infelizmente não tem um décimo da sua graça.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.