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Depois de deixar o Parlamento Europeu, Mário Soares andou por aí alinhado em várias causas de esquerda. Participou em manifestações contra Bush filho, conviveu com comunistas e bloquistas, aproximou-se de Carvalho da Silva. Conviveu criticamente com Sócrates e seu Governo.
Depois vieram as presidenciais. E o antigo Presidente da República foi metido num saco pelo primeiro-ministro. Talvez agradecido pelo apoio nunca mais foi capaz de ser explícito nas críticas ao Executivo de Sócrates.
Soares é demasiado humano para não ser complexo e contraditório. Ao contrário de maioria dos políticos portugueses assume esse lastro de ser em simultâneo Algo e o seu Contrário.
Se teve a presciência de pedir a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia e adivinhar as consequências imediatas, defendeu sempre, depois, que Portugal estivesse ao lado de todos os projectos europeus. Fossem quais fossem.
Se o timorato Cavaco meteu Portugal na camisa de forças do bom aluno, à sua maneira, Soares acabou por defender Maastricht, o Euro, a Constituição Europeia. Recusou (ou não pediu) referendos e a participação cidadã. Sempre com o argumento de que longe da perfeição era, no entanto, o melhor dos mundos e que não podiamos ficar de fora dele.
Viu-se o resultado. O país deitou borda fora a capacidade produtiva, alienou soberania e foi empurrado para uma moeda para a qual não estava preparado.
Soares - que respeito - pode fazer apelos angustiados nos jornais, mas o tempo que aí vem já não será o dele.
Nos moldes democráticos (com sérias limitações participativas) em que temos vivido até aqui, o projecto que ajudou a construir está num beco sem saída. Apenas continua a tentar derrubar a parede às cabeçadas em vez de voltar para trás e procurar outro caminho.
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