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Independentemente da opinião que se tenha sobre José Sócrates, se se optar por manter um registo educado torna-se complicado catalogar as declarações de Cavaco a propósito do ex-primeiro-ministro.
Cada vez que se manifesta, o Presidente da República, agora transformado em comentador político, mostra a falta de estofo para o cargo que ocupa. Dispende energias em rodriguinhos mesquinhos, pequeninas vinganças, ressabiamentos pessoais.
Noutro país, a inventona das escutas teria sido mais do que suficiente para provocar uma hecatombe institucional. Em sítios como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos - sempre tão apreciados pelos correligionários partidários do chefe de Estado - Cavaco teria sido forçado a demitir-se.
Em Portugal não. Cavaco passou entre as gotas da chuva e os jornalistas que denunciaram o assessor presidencial envolvido no episódio acabaram castigados pela Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Meses depois, Cavaco recandidatava-se a um segundo mandato em Belém. Desde então não parou de surpreender os seus próprios eleitores. Muitos ainda tentam justificar o voto com a falta de qualidade dos outros candidatos. Mas é, no mínimo, duvidoso que estes se metessem nas alhadas e faltas de sentido de Estado em que Cavaco se tem metido.
À petição pedindo a sua demissão também não têm faltado os detractores. Focam-se na impossibilidade de assim provocar a queda do Presidente da República e no alegado radicalismo desse modo de combate. Como se o objectivo da maioria dos que fizeram a petição crescer até aos mais de 35 mil signatários em poucas dezenas de horas não fosse antes alertar Cavaco para as inconsistências e pobreza da sua acção. O Público até desencantou um constitucionalista, Tiago Duarte, capaz de explicar aos leitores que o mecanismo é abusivo e que que "há outras maneiras de os cidadãos demonstrarem a sua insatisfação, «nomeadamente nas urnas»". Haverá alguém que explique ao jurista que a Constituição impede que Cavaco se recandidate a um terceiro mandato seguido?
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