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António Costa é um político napoleónico. A pose, o estilo, o tom.
Não por acaso, ocupou cargos governamentais em pastas de Estado, de autoridade. É desses que se terá, porventura, memória mais relevante. Ministro da Justiça com António Guterres, da Administração Interna com José Sócrates. Simplificou as notificações judiciais, ultrapassando a obrigatoriedade de registo postal para confirmar que o visado fora realmente citado; autorizou a execução de mandados a qualquer hora do dia, reduzindo garantias dos cidadãos em nome da eficácia policial
Há uns dias lançou Caminho Aberto, colecção de intervenções políticas suas nos últimos 20 anos. Não faltou quem lhe apontasse o destino apontado à Presidência da República (aqui, aqui e aqui). O cenário é credível.
António Costa é um político napoleónico. O cálculo, a dureza, a ambição.
Quando o diálogo ganhava eleições, António Guterres, minoritário, chamou-o para a secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares. Reconhecendo-lhe massa específica, promoveu-o a ministro da tutela. Um cargo de indiscutível peso político. Foram os tempos do Portugal optimista, da Expo 98, da solidariedade com Timor, da conquista da organização do Europeu de Futebol, mas também da adesão à terceira via Trabalhista, das muitas parcerias público-privadas.
António Costa é um político napoleónico. O sentido de oportunidade, o poder de esquiva, as artes de manobra, maneiras de tirar o corpo a tempo. Mostrou-os com Sócrates. Na Câmara Municipal de Lisboa soube acabar com a berraria dos credores, calar as críticas, cativar adversários. Quem viveu os mandatos de Jorge Sampaio e de João Soares reconhecerá o profundo abismo de resultados. Na corrida com António José Seguro mandou Assis no seu lugar. Quem ocupasse agora o cargo de secretário-geral do PS seria para queimar. Todos o sabem, não há especial ciência nisso.
Em tempos, ele (e José Sócrates também) arranjava sempre maneira de não prestar declarações à secção de política do jornal onde eu trabalhava. Um entendimento selectivo do papel da imprensa. Num conflito sobre transcrição de declarações, que opôs um dos seus a um jornalista de outro órgão de comunicação social, vi-o tentar amesquinhar publicamente o repórter. O gosto pela implacabilidade.
Com a instituição presidencial desgastada e descredibilizada, talvez Costa hesite entre o lugar de sucessor de Passos Coelho e o de Cavaco Silva. São Bento dará mais dores de cabeça, trabalho e desgaste que proveitos. Belém, espaço para fazer esquecer o actual locatário, num lugar unipessoal e moldável a gosto. Na Sic-Notícias, João Cravinho, em comentário, no final do Congresso da CGTP-IN que elegeu Arménio Carlos, indicava preferir António Costa a Carvalho da Silva numa candidatura de esquerda à Presidência da República.
Se o autarca for agora a votos, para a chefia de Estado, antecipa em duas gerações aquele que seria o seu momento natural. De qualquer forma, desde pelo menos 1995, António Costa tem ocupado vários lugares políticos de relevo. E com responsabilidades executivas. A vontade de travar este combate decorre mais da gestão pessoal da carreira e da corrente contabilidade partidária do que da necessidade evidente de mudar o regime e a coisa pública.
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