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Sim, a direcção informativa de um canal televisivo pode mobilizar meios poderosos e batedores em motos para acompanhar a viagem de um cidadão entre a sua casa no Possolo e o CCB onde confirmaria que entrava na corrida à Presidência da República. Pode à vontade desequilibrar o jogo democrático e contribuir para a entronização do pior chefe de Estado que nos calhou em sorte.
Sim, uma outra direcção de informação pode manter no ar, durante anos a fio, um comentador que todos sabem ter o olho em Belém. Pode dar-lhe ruidosa e populista vantagem em nome do interesse do público (que não do interesse público). Este nem percebe que lhe dão a intriga com agenda pessoal e partidária e não a análise inteligente, isenta, vestida como dotes de comediante, que os responsáveis pela informação lhe dizem que estão a dar.
Sim, uma terceira direcção de informação pode defender-se com critérios jornalísticos para manter um programa de alegado debate que se assemelha mais a um reclame luminoso e barulhento das ideias feitas sobre Economia, Europa e Política. Pode, imune às críticas, evacuar o contraditório convidando ministros, os mais altos representantes de lobis vários e outros formatadores da opinião pública consensualizada.
Sim, não existe qualquer problema em fazer determinadas escolhas políticas e em promovê-las activa e publicamente. O que uma direcção de informação não se pode permitir é dar voz a um jornalista que celebra um golo do seu clube. Ainda por cima nessa coisa essencial para a vida e escolhas dos cidadãos que é um programa de opinião desportiva, formato nunca encarado como um palco de isenção ou de escolhas racionais.
A hipocrisia é tanto maior quando, para qualquer espectador do programa Zona Mista, eram públicas, notórias e assumidas as preferências clubísticas de João Gobern. Apesar do modo como a RTP o classifica - programa de análise desportiva - nas vezes que por ele passei não fiquei exactamente com a impressão que o distanciamento fosse a tónica mais procurada e desejada por João Gobern ou por Bruno Prata.
Isso nunca impediu Gobern de procurar a isenção, de opinar contra o seu próprio clube. Mas achava até, ingenuidade minha, que parte do picante e da honestidade do programa estariam nas diferentes paixões clubísticas dos dois comentadores. Uma impressão vincada pela carreira jornalística de Gobern muito marcada pela ligação às Artes, Cultura e Espectáculo. Laços que não o faziam correr sequer o risco de ser encarado, ao contrário de Bruno Prata, como um especialista em Desporto.
Porém, como se sabe, desde Lucas, podem levar-se os animais a beber a um sábado. O que não pode é curar-se uma mulher no dia do descanso.
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