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Aqui há uns anos, durante um curso de segurança e defesa para jornalistas, no Instituto de Defesa Nacional, falei um bocado sobre política de língua portuguesa com um antigo responsável governamental socialista.
Não havia ali uma ideia sobre o assunto, tirando a vaga intenção de construir uns sites e assim.
Há muito que a Espanha percebeu a importância do tema. A França também e até mesmo a Alemanha, cujo idioma só se fala na Europa, tem uma atenção ao Goethe Institut sem paralelo em Portugal ou no Brasil. Affonso Romano de Sant'Anna, recentemente, em depoimento ao Jornal de Letras, declarava que, apesar dos 200 milhões de falantes, o português é um dialecto.
Nos últimos anos, numa opção pessoal que tem mais de emocional que de racional, milhares de portugueses têm aprofundado e certificado o seu conhecimento de espanhol, idioma quase gémeo, cuja leitura e compreensão oral se tornam quase imediatas com escasso convívio. Não são as ligeiras diferenças sintáticas e os falsos amigos que justificam a dimensão do investimento. Nos níveis iniciais, então, vale a pena comparar os ritmos de entendimento de um português e do falante de outro idioma, a mais que justificarem um regime de ensino diferenciado e com menos etapas.
No que toca a prémios, a entrega do Cervantes é aguardada com expectativa pelo mundo intelectual. A percepção do Camões - e da sua evidente utilidade - é tão reduzida que na comunicação social mainstream em português chega a ter mais impacto a entrega do PT Literatura. E o próprio nome da coisa não é consensual entre as entidades portuguesas e brasileiras que o financiam. No portal do Ministério da Cultura brasileiro chega mesmo a chamar-se-lhe mesmo Prémio Luís de Camões.
Mas que fazer quando são os próprios portugueses, alguns deles com evidentes responsabilidades de Estado, que insistem em mostrar os seus dotes para falar estrangeiro em qualquer sítio onde se encontrem? Sampaio, Cavaco, Guterres, Durão Barroso, Sócrates, Passos Coelho, chegam a sítios pejados de tradutores-intépretes e preferem expressar-se na língua dos outros ou numa língua terceira.
O caso da Guiné voltou a evidenciá-lo. Nas Nações Unidas, o habitualmente patriótico Paulo Portas optou pelo inglês. Declarações em português ficaram por conta de um angolano, representante de uma potência regional que parece já ter percebido melhor que os seus irmãos mais velhos a verdadeira importância de uma política de língua.
Nota: Pelos vistos, , no seu discurso, Paulo Portas ainda fez uma perninha em crioulo. O que quer dizer que percebe a importância do uso da língua.
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