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Tolices que ocupam espaço e antena

por Tempos Modernos, em 24.03.11

 

 

 

Uma das coisas que o Público online pago vendia ontem aos leitores era uma crónica de Teresa de Sousa intitulada Alguém Pensou a Sério no Dia Seguinte? Nela afirmava que Portugal quis "afastar o destino da Grécia. [mas] É esse, porventura, o destino inevitável que nos espera".

 

Primeiro há a óbvia contradição de usar na mesma frase e ideia um "inevitável" reforçado com um "porventura" - sinónimo de acaso, de talvez, possivelmente. Depois, o início da análise também não é famoso.

 

A articulista pede até desculpas pela "forma excessivamente coloquial com que começa" a crónica. Infelizmente pelas razões erradas.

 

"Mas aquela gente é louca. Nós aqui, a fazer um esforço tremendo para encontrar uma solução que vá ao encontro daquilo que eles precisam e eles dão um tiro na cabeça?", escreveu Teresa de Sousa. 

 

Teresa de Sousa devia era pedir desculpas pelo trecho de novela barata com que ocupa espaço num jornal. Ali, o "eles" são os portugueses, ingratos perdulários que no seu próprio país ainda armam crises políticas perante a perplexidade da madrinha boa que lhes deu tudo e que os criou.  

 

Teresa de Sousa devia antes pedir desculpas pelos anos em que, com ar grave e informado, fez previsões sobre o futuro europeu. Em que defendeu o que impunham os directórios da União, sem apontar contradições ou alternativas. Em que assessorou  certas causas europeias em vez de procurar debaixo (e fora) do paleio dos comunicados e declarações oficiais. 

 

Nada do que se vive agora estava na narrativa que a jornalista anunciou. No seu guião benévolo de Maastricht, do Euro, da Constituição Europeia. 

 

Nesta crónica, fala dos sucessos da cimeira da zona euro, a 11 de Março, onde, defende, se obtiveram para Portugal "juros mais baixos e prazos maiores de amortização, possibilidade de compra da dívida primária". Uns bons em resumo que como moeda de troca apenas pediram a "adopção do pacto para a competitividade" que nos estrangula e "o compromisso firme dos países em dificuldades quanto ao cumprimento escrepuloso dos objectivos do défice (o famoso PEC IV)".

 

E só o mero acaso permitiu que saísse algo de útil desta análise de Teresa de Sousa. Foi quando, num lapso de escrita, diz que o acordado na cimeira "era uma espécie de «dois em um» que nos convinha, quer para acalmar os mercados, quer para garantir dificuldades futuras".

 

Não se pode estar mais de acordo com a certeza de que austeridade e recessão são as únicas coisas garantidas com as promessas feitas à madrinha boa e pia.

 

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publicado às 08:57

Elizabeth Taylor (1932-2011)

por Tempos Modernos, em 23.03.11

 

Vai-se fechando uma era em que Liz Taylor se estreou muito nova -  uma menina prodígio. Restam poucos, muito poucos. Em Hollywood já só vive uma era de lata.

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publicado às 23:15

Cír(cu)lo da Governação

por Tempos Modernos, em 23.03.11

 

 


Hoje, com a previsível queda do Governo, estarão alguns cenário em cima da mesa.

 

PSD leva Passos Coelho a eleições (Fátima Campos Ferreira no Prós e Prós convidou Rui Rio para falar não sei do quê). PS Leva Sócrates a eleições (no Prós e Prós esteve o António Costa, ex-ministro da Justiça Que Aí Anda).

 

Mesmo que vão a eleições, pode haver entendimento de que os dois líderes (ou pelo menos Sócrates) têm de ser afastados. Nesse caso, Cavaco e barões de vários partidos podem entender-se para constituir um Governo com o PS, PSD e CDS, liderado por personalidade credível para eles.

 

Falou-se em Eduardo Catroga (a que, salvo erro Pulido Valente chamou impedido de Cavaco e o ministro das Finanças que abriu a porta às parcerias público-privadas em Portugal) , Oliveira Martins, António Barreto, António Costa ou o presidente do Parlamento.

 

Manuela Ferreira Leite anda também aí pondo o nariz de fora, esperançada talvez na suspensão semestral da democracia. Não tenho ouvido falar de António Borges, mas como foi para o FMI pode ser que nos venha a governar como o Expresso tanto desejou há escassos anos, mesmo que seja sem eleições

 

PSD e CDS atingem maioria absoluta. Formam Governo. Aplicam o PEC IV baralhado e voltado a dar, privatizam tudo, baixam pensões, aumentam idade da reforma, congelam salários e pagam subsídios com dívida pública. O FMI entra, o rating não sobe, a recessão instala-se de cama e pucarinho, a Europa segue viagem liderada por Angela Merkl. Irlanda e Grécia não saem da cepa-torta e Portugal também não.

 

PSD e CDS não atingem a maioria absoluta. Formam governo com PS. Aplicam o PEC IV baralhado e voltado a dar, privatizam tudo, baixam pensões, aumentam idade da reforma, congelam salários e pagam subsídios com dívida pública. O FMI entra, o rating não sobe, a recessão instala-se de cama e pucarinho, a Europa segue viagem liderada por Angela Merkl. Irlanda e Grécia não saem da cepa-torta e Portugal também não.

 

 

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publicado às 10:18

Como é igual o jornalismo em Portugal

por Tempos Modernos, em 22.03.11

Discutir o artigo de Mário Soares no Diário de Notícias sob o ponto de vista do apelo angustiado à intervenção de Cavaco é discutir a coisa pelo lado do sound bit. Não se tem visto outra coisa.

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publicado às 23:19

Imprensa portuguesa desinveste no online

por Tempos Modernos, em 22.03.11

 

 

 

Há tempos um patrão dos jornais apelou aos outros para que todos juntos pusessem fim aos sites informativos gratuitos.

 

Se já ninguém compra jornais, está-se mesmo a ver que cobrar por acessos é o caminho certo para ter leitores. Infelizmente, a mentalidade é fechar a informação em vez de abrir.

 

E nos casos que conheço o online é um desinvestimento das empresas e não o contrário, como anunciam. Sem pessoal, entregue a estagiários curriculares ou pouco mais. É bem maior o investimentos dos jornalistas (forçadas - sem opção de escolha - a trabalhar para mais um sítio, pois na maioria dos casos não são exclusivos) do que o das empresas, que apenas paga a despesa com as empresas de informática e com a manutenção.

 

Aqui ao lado, o El País integrou os jornalistas mais experientes na sua redacção online, cá o percurso é o inverso. Mas nós é que sabemos.

 

Nas redacções portuguesas os meus colegas nem pensam no assunto. Precário não é jornalista nem faz jornalismo (e por mim falo) por razões que hei-de explorar um dias destes.

 

 

O Público lá fechou parte das suas áreas, reservando-as a assinantes. Boa resposta dá-lhes Pedro Magalhães, no Margem de Erros. Espero que cumpra. A minha classe merece. Pode ser que em vez de se sentirem ofendidos, o mais provável, se lembrem antes de que de um jornalista se exige que pense.

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publicado às 23:02

Artur Agostinho (1920-2011)

por Tempos Modernos, em 22.03.11

 

 

 

Tenho a vaga ideia de que a primeira vez que vi Artur Agostinho foi na velha televisão a preto e branco onde ainda na década de 1970 vi o filme O Leão da Estrela, de Arthur Duarte.

 

Deixara de trabalhar na RTP e entretanto ainda não voltara.

 

Parece-me que a primeira vez que o vi, ao vivo, foi junto ao Técnico, que ambos frequentámos, no cruzamento da Alves Redol com a António José de Almeida. 

 

Conheci-o sempre por aí, mostrando uma qualidade profissional de comunicador e uma consistência que já não se usam.

 

Nota: A RTP passa uma entrevista com Artur Agostinho conduzida por Judite de Sousa. O apresentador trabalhara para a Emissora Nacional e foi detido no 28 de Setembro devido a acusações - que sempre recusou - de ter estado ligado ao Estado Novo. Na sequência da detenção viveu no estrangeiro e a jornalista iniciou uma das questões referindo o "exílio no Brasil" do apresentador. Artur Agostinho não deixou passar. E vincou: "Exílio...voluntário". Clarificador, quando andam aí tantas famílias que chamam exílio aos tempos que passaram naquele país após o 25 de Abril.

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publicado às 20:49

Legislativas 2011

por Tempos Modernos, em 22.03.11

 

 

 

Há não mais que um par de anos contava-se que um jornal vira uma muito grande empresa cortar-lhe a publicidade depois de ter publicada uma notícia contra ela.

 

Se a privatização da comunicação social tirou a imprensa nacional do controlo do partido que episodicamente estava no Governo não a tirou das mãos de outros interesses. E esses não os elegemos apesar da imagem junta, retirada do blogue O Bico de Gás e a que cheguei via Arrastão.

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publicado às 20:44

Piratas

por Tempos Modernos, em 22.03.11

 

 

Embora não a pratique, pois gosto de ter os originais que bem caros me saem, não tenho a mais pequena simpatia pela luta contra a pirataria informática levada a cabo por inúmeras produtoras.

 

 

Se ainda percebo que A Mãe, de Rodrigo Leão, custe cerca de € 20, não faz sentido que discos dos Beatles, com mais de 40 anos e já mais que pagos em termos de custos de produção sejam vendidos aproximadamente pelo mesmo valor.

 

Ainda por cima, quem fica com o grosso das verbas nem sequer é quem a merecia, os criadores e autores da obra. 

 

Tenho por isso simpatia pelo cineasta espanho Manuel Sirgo, detido há uns dias por ter disponibilizado filmes na internet.

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publicado às 20:00

Para que conste nos autos

por Tempos Modernos, em 22.03.11

 

 

Na época alta do escândalo Casa Pia, Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso viram-se envolvidos no processo. Sócrates e Vieira da Silva (tido como um ferrista no secretariado do PS) mantiveram-se distantes do ruidoso coro de socialistas indignados. Um viria a tornar-se primeiro-ministro, o outro, tido como um homem com preocupações sociais, subiu a ministro e continuou a obra de Bagão Félix no Código do Trabalho e na reforma da segurança social. Aumentou idades de reforma, diminuiu pensões.

 

João Soares, numa reunião de dirigentes, à porta fechada, foi o único socialista a manifestar-se pela saída de Ferro do cargo de secretário-geral do PS - que considerava ter perdido a imagem para constituir uma alternativa ao Governo do PSD-CDS, liderado por Durão Barroso. Cá fora, a jornalistas, recusou repetir o que tinha dito lá dentro. Crítico internamente, solidário para o exterior.

 

Nos anos que já vão de Governo do PS - e que estão à beira do fim - Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, João Soares, Vitor Ramalho, Manuel Maria Carrilho e Medeiros Ferreira estiveram sempre entre os críticos de Sócrates. Menos ruidosos do que Manuel Alegre não deixaram nem de  intervir nem de contestar os caminhos do partido e do Executivo.

 

Manuel Maria Carrilho e Ferro Rodrigues foram afastados para postos diplomáticos de nomeação política - espécie de unidade de queimados dourada. Mais consistente, o filósofo nem na UNESCO deixou de vigiar o estado do país e do seu partido. O economista, na OCDE, falou menos, talvez o tenha feito apenas quando solicitado. Voltou agora, mais uma vez, a dizer o que pensava

 

Paulo Pedroso falou também. Rejeita simpatia por Sócrates, mas acredita que o PS vai voltar a escolher Sócrates para concorrer às legislativas. Aqui entre nós, arrisca-se a ganhar.

 

Com ironia aguçada e muitas vezes elíptica, Medeiros Ferreira  tem cultivado a crítica ao primeiro-ministro. Excluído das listas de deputados do PS usou como púlpito os blogues Bichos Carpinteiros, Córtex Frontal, mas também o Correio da Manhã e agora a Prova dos 9, da TVI 24. João Soares e Vitor Ramalho foram críticos constantes nos frente-a-frente, de Mário Cespo, na Sic-Notícias.

 

Fazem todos claro contraste com Luís Amado, que defendeu a intervenção de Bush no Iraque, levou a filha a receber Obama e que uma vez foi deixado de mão pendurada por José Sócrates numa reunião da União Europeia. A partir do interior do Governo, desde há meses que o ministro dos Negócios Estrangeiros se põe em bicos de pés e quebra a solidariedade interna apelando a coligações PS-PSD ou lamentando a forma de aprovação do PEC já não sei quantos.

 

 

 

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publicado às 18:53

Atrás dos tempos vêm tempos (reformulado)

por Tempos Modernos, em 22.03.11

 

 

 

Depois de deixar o Parlamento Europeu, Mário Soares andou por aí alinhado em várias causas de esquerda. Participou em manifestações contra Bush filho, conviveu com comunistas e bloquistas, aproximou-se de Carvalho da Silva. Conviveu criticamente com Sócrates e seu Governo.

 

Depois vieram as presidenciais. E o antigo Presidente da República foi metido num saco pelo primeiro-ministro. Talvez agradecido pelo apoio nunca mais foi capaz de ser explícito nas críticas ao Executivo de Sócrates.

 

Soares é demasiado humano para não ser complexo e contraditório. Ao contrário de maioria dos políticos portugueses assume esse lastro de ser em simultâneo Algo e o seu Contrário.

 

Se teve a presciência de pedir a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia e adivinhar as consequências imediatas, defendeu sempre, depois, que Portugal estivesse ao lado de todos os projectos europeus. Fossem quais fossem.

 

Se o timorato Cavaco meteu Portugal na camisa de forças do bom aluno, à sua maneira, Soares acabou por defender Maastricht, o Euro, a Constituição Europeia. Recusou (ou não pediu) referendos e a participação cidadã. Sempre com o argumento de que longe da perfeição era, no entanto, o melhor dos mundos e que não podiamos ficar de fora dele.

 

Viu-se o resultado. O país deitou borda fora a capacidade produtiva, alienou soberania e foi empurrado para uma moeda para a qual não estava preparado.

 

Soares - que respeito - pode fazer apelos angustiados nos jornais, mas o tempo que aí vem já não será o dele.

 

Nos moldes democráticos (com sérias limitações participativas) em que temos vivido até aqui, o projecto que ajudou a construir está num beco sem saída. Apenas continua a tentar derrubar a parede às cabeçadas em vez de voltar para trás e procurar outro caminho.

 

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publicado às 18:26



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