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Nunca percebi muito bem a bondade jornalítica dos programas de Opinião Pública ao estilo Fórum da TSF.
Funcionam o mais das vezes como assentos de táxi e palco para desabafos particulares, do que como debate de cidadania. São também uma forma barata de dizer que se está a fazer informação, pois apenas exige um moderador e uma linha telefónica - ao contrário do jornalismo de investigação.
E depois há quem desvirtue o sentido residual e a utilidade da coisa (aqui, aqui ou aqui).
Era, sem qualquer dúvida, o melhor crítico gastronómico português. Por saber muito, muito, muito, e por escrever bem.
E no ciclo profissional de sete anos que esta semana encerro foi sempre a melhor referência. Muito acima dos outros.
Imaginem que todas as semanas, um grupo de cinco ou seis militares espanhóis entrava fronteira adentro, chegava-se junto às aldeias da raia, enfiava uns tiros nos habitantes, queimava umas casas e voltava a sair.
O que é que o Governo português devia fazer? Pedir explicações ao Executivo espanhol?
E se as acções continuassem? Seria mais razoável deixar que a coisa continuasse a repetir-se durante meses e até anos ou encará-la como uma declaração de guerra e reagir?
Em que é que difere a irracional actuação dos soldados espanhóis da do especuladores, tal como a descreve Poul Rasmussen? Que motivo levará a que num caso se reaja com a força das armas e no outro se reconheça os direitos dos agressores a destruir o país?
Mas expliquem-lhe muito devagarinho que, nestes anos todos, embora não me canse de ouvir elogios à sua inteligência, nunca o ouvi dizer nada que contribuisse para tirar o país e os portugueses do medo que os domina.
Bem pode ser escolhido para mestre-sala das cerimónias do 10 de Junho, presidir a congressos, escrever artigos de opinião, dirigir a Fundação da Jerónimo Martins (pronto, lá dei cabo das minhas hipóteses de vir a publicar lá), participar em debates televisivos. Dali nunca vi sair um pensamento livre e desassombrado.
Agora, e vai defendê-lo, de certeza, no dia de Portugal, acha que "a Constituição portuguesa devia estipular que os programas dos governos" fossem "aprovados por maioria absoluta dos deputados".
Ou seja, "Se a Constituição disser numa só linha, o programa do governo, no início de uma legislatura, tem de ser aprovado por maioria dos deputados eleitos, basta isso para que não possa haver Governo" com menos de 50 por cento.
E vai mais longe: Para Barreto, "muitas coisas deviam ter sido feitas há dois ou três anos, com antecedência, com reforço de coesão nacional, com uma aliança ou coligação, com esforço convergente de dois, três, quatro ou cinco partidos, com medidas de prevenção e de antecipação".
A análise de Barreto devia contar com a realidade mas isso dava-lhe cabo da teoria pessoal. Pouco interessa ao sociólogo que "há dois ou três anos" Portugal até tivesse a tal maioria absoluta que considera esencial. Que tivesse as ditas maiorias desde que Durão Barroso assumiu o Governo.
Tal devia ser suficiente para qualquer alma simples perceber que o drama do país não radica nas eventuais maiorias. Mas Barreto não chega lá.
Alguém podia explicar ao senhor que era bom que o enquadramento das teorias que defende tivesse alguma consistência científica? E, já agora, será que nenhum jornalista se lembrou de lhe pedir para justificar o estado do país dado que, afinal, entre 2002 e 2009 até vivemos sob as maiorias absolutas que ele defende?
O PS apresentou ontem o programa com que diz querer governar. Pouco interessa que, nos últimos seis anos, tenha violado sistematicamente as promessas eleitorais como aquela dos 150 mil postos de trabalho.
Desta vez é que não vai mesmo aplicar o que diz e só quem andar muito tapado acreditará nisso. Na próxima década, mas com consequências que se prolongarão, e se a coisa se encaminhar tal como pedida pelo trágico coro dos ex-presidentes e dos donos da fazenda reunidos em compromissos vários, Portugal será um protectorado e o Executivo não passará de um mestre de cerimónias do FMI.
Segundo as notícias, a tróica há-de entregar o seu plano para garantir os pagamentos aos credores usurários há-de estar aí até ao fim da semana. Pouco interessa que tenha falhado rotundamente na Grécia e na Irlanda. O que é preciso é pagar a quem nos emprestou dinheiro com dez por cento de juro.
Segundo as sondagens, os portugueses - ora inteligentes ora responsáveis pela crise, segundo a inclinação ocasional do orador político à cata de votos - inclinar-se-ão para votar nos partidos do FMI. Os que defendem que passem a reformar-se entre os 70 e os 80 anos; privatizem a companhia das águas, preferencialmente a estrangeiros que sempre gerem melhor; e reduzam as pensões de velhice (que não as múltipas acumuladas pelos seis anos no Banco de Portugal) a metade do valor do salário mínimo, que nunca mais há-de subir.
Parece que se persiste em ir votar assente na realidade de sombras cavernícolas servida todos os dias nos jornais. Partidos falam como se o que dissessem fosse exequível no caminho que apostam em trilhar.
Limpei tudo, arrumei tudo, desliguei tudo.
Até a porta fechei, e pela última vez voltei a ser o último a sair.
Não tenciono voltar lá.
Passo pela colega que largaram à perna dos tipos do FMI.
Está ao telefone e fala na Tróica. E de repente, associo a palavra ao coche-trenó russo.
Excesso de Condessa de Ségur na infância?
A Nokia, empresa finlandesa que os portugueses alimentam com a sua obsessão por telemóveis, vai despedir 4000 funcionários. Com o anúncio, as acções da empresa no mercado bolsista, que anda sempre atrás de boas notícias, reagiram em alta.
Suponho que estas gentes fazem parte dos verdadeiros finlandeses que não querem pôr dinheiro em Portugal.
Investimento bom, em Portugal, era lançar uma fábrica portuguesa de telemóveis. Existe mão-de-obra capaz de produzir equipamento de ponta e sempre equilibrava a balança comercial com a Finlândia. E se se desenvolvesse uma aplicaçãozinha para o Facebook ajudava Cavaco a exercer o seu magistério.
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