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Boaventura Sousa Santos tem ziguezagueado um bocado entre apelos à unidade mas acha que portugueses deviam recusar-se a pagar a dívida do Estado.
Quando a esmagadora das notícias e dos jornalistas fala de "ajudas externas" do FMI, referindo-se à usura mais pura e dura, a ideia do professor universitário faz figura de ET.
Quem os topa é a Standard & Poor's.
Este tipo de notícia não costuma merecer primeiras páginas, embora já tenha sido tratado de forma episódica.
Como qualificar o comportamento da France Telecom, numa altura em que, também por cá, a instabilidade laboral é apresentada como a mais virtuosa e bondosa das receitas?
Passos Coelho parece um candidato bem intencionado a primeiro-ministro e uma pessoa com quem se pode conversar, como disse aliás Mário Soares. Que as suas ideias sejam tudo menos receita nova dou de barato neste momento.
O que já não esperava é que numa altura em que o mundo obviamente precisa de mudança, Passos Coelho se ponha a frequentar revistas cor-de-rosa, modelo que tão maus frutos tem dado à qualidade da política.
E pronto, nos noticiários lá anda o pagode entretido com a "foleirice" do Lello.
Eu até acredito na inépcia informática da criatura. Mas há tantos anos que o deputado nos serve este tipo de pérola que já não se sabe se o que para ele é conversa privada não será apenas mais uma sua normal declaração política.
Não tenciono voltar ao tema, que jornalisticamente não merecia mais do que uma breve e que é, no entanto, das notícias mais lidas no Público online. Sem estabelecer qualquer paralelismo, este tipo de coisa vinda de José Lello não se enquadra, decididamente, na categoria do homem que mordeu o cão tornando-se notícia.
A cegueira das audiências mata todos os dias a informação e nós jornalistas deviamos discutir isto. Não estou convencido (e não conheço estudos de mercado em sentido nenhum) de que não haja quem queira ler notícias em detrimento do fait divers servido até em jornais de auto-assumida referência.
Não estou convencido de que dar notícias conduza à morte dos jornais. A aposta nos insólitos não os tem posto a vender mais e para ver gajas nuas há sítios melhores.
Como em toda a minha carreira profissional se entendeu que não devia ter subsídios de férias e 13º mês, não estou a ver muito bem o que é que se vão depois de lembrar de pedir-me como contributo no esforço nacional para debelar a crise.
Já pensei em dar-lhes a minha parte da massa que dizem que cada português deve, apenas com a condição de deixarem de me chatear com o défice.
Qual é a relevância jornalística de José Lello ter dito que Cavaco é "foleiro"?
Já toda a gente sabe que Lello não prima pela boa educação, nem pelo bom gosto. O dirigente do PS é tão useiro e vezeiro nos comentários desenquadrados que a coisa nem sequer constitui novidade. Difícil é apanhá-lo calado.
Também já toda a gente sabe que dentro dos corpos dirigentes do PS não se grama Cavaco. É complicado provar que este tipo de ataques são previamente acordados em qualquer reunião oficial do PS, o que faria deles factos políticos. Assim, não passam de ruído irrelevante. Sem qualquer utilidade pública.
Se os jornais ligassem a este tipo de intervenção aquilo que ela merece, talvez gente como Lello aprendesse a guardar para o privado aquilo que é um comentário privado e a usar o espaço público para intervenções relevantes.
O país ganhava com isso. O jornalismo também.
No seu discurso de 25 de Abril, os três ex-presidentes e Cavaco fizeram críticas à comunicação social.
Têm razão, embora nenhum dos quatro seja inimputável do que toca a este tema. Cavaco, por exemplo, viu ser-lhe estendida uma passadeira vermelha quando anunciou a sua primeira candidatura presidencial. A SIC acompanhou com batedores de mota a viagem do então candidato entre a sua casa na Travessa do Possolo e o CCB onde anunciou que estava na corrida a Belém. Um entronização feita a priori pela comunicação social livre e independente. E os exemplos são mais que muitos.
Este blogue surgiu, aliás muito da convicção acerca da necessidade urgente da existência em Portugal de um jornalismo de combate:
De um jornalismo de combate pelo jornalismo.
Ainda por Belém, Ramalho Eanes defende papel da Filosofia na construção do país.
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