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A imprensa económica funciona com base numa realidade que muitas vezes deve pouco ao factual.
As manobras de bastidores das empresa, o secretismo, o diz-que-disse fazem parte das condicionantes.
Isso não a impede (nem tem de impedir) de fazer títulos afirmativos. Mas só às vezes.
Perante a evidência mais objectiva (embora o verbo "esconder" não seja neutro), alguns fazem títulos interrogativos.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) foi forçado a retirar duas perguntas dos Censos 2011, por se considerar que são do foro privado dos cidadãos.
Ultimamente tenho tratado estatisticamente dados sobre a emigração portuguesa na transição da Monarquia para a República.
Assentam em censos e informação publicada pelo INE. E tenho-me deparado com um problema. Com os dados que existem, um certo tipo de caracterização histórica torna-se impossível de fazer. Há muitas coisas que nunca será possível perceber ou distinguir.
Nos censos de 2011, o INE agregará a população dos falsos recibos verdes com a população dos trabalhadores por conta de outrem. Justificam com os métodos internacionais para dar uma imagem errada da situação laboral no país, mascarando a realidade.
Várias organizações (aqui e aqui, por exemplo) têm apelado à desacoplação das variáveis. Mas, por esta altura, já mais de 2,5 milhões de portugueses terão respondido ao inquérito. A despesa feita é a eterna desculpa para manter mal o que nasceu torto. A partir de que dados devem os decisores políticos exercer a sua actividade? Com os verdadeiros ou com uns martelados ad usum Delphini?
Não seria melhor que o INE tivesse independência e autonomia científica? Que sentido faz que a não tenha?
Os bancos portugueses anunciaram que vão deixar de comprar a dívida pública nacional, o que na prática se resume a que vão deixar de emprestar dinheiro ao País e receber juros altos.
Não foi muito por causa da situação de instituições como o BCP, o BPN e o BPP que o défice nacional progrediu enormemente? Não pagámos todos as nacionalizações e brutais injecções financeiras que muito ajudam a que tenhamos baixado ratings nos mercados e que estes salivem com o olho no que resta do país? Não se fez essa despesa com a desculpa de evitar os efeitos de propagação à restante banca nacional?
Como sai um ideia destas de uma reunião realizada no Banco de Portugal, instituição não eleita mas com responsabilidades na condução das políticas do Estado?
Quando passarão a ser publica e jornalisticamente tratados com a reserva e distanciamento crítico que os nossos eleitos felizmente já merecem?
O caso do estabelecimento prisional de Paços de Ferreira levou à proibição do uso de armas Taser em casos do mesmo género.
Uma amiga perguntou-me se a entrevista que fizera a uma escritora estava muito chata, muito intelectual?
Na comunicação social, o medo de fazer os leitores pensar é tanto que qualquer dia nem os peixes vão querer ser apanhados embrulhados num jornal.
A comunicação social faz muitas vezes notícias alicerçada nos seus preconceitos.
Como tratará o anúncio feito pelo PCP de que está disponível para formar Governo com o BE?
Continuará correia de transmissão da falácia de que os dois partidos são irreponsáveis que apenas querem ser a voz do protesto, sem proporem alternativas?
José Manuel Coelho foi um dos vencedores das últimas presidenciais.
Agora pôs o seu Partido Trabalhista à disposição da organização da Geração à Rasca.
Correndo por fora, surgem novos protagonistas políticos fora do habitual espectro partidário.
Para já, se a coisa segue, é provável que contribua mais para retirar votos aos dois partidos que não contribuiram para a crise do que aos outros. Um efeito perverso de novos actores bem-vindos.
Cavaco lá disse coisas depois da reunião do Conselho de Estado, aquele órgão onde o Vítor Bento substituiu Dias Loureiro, por escolha do PR.
"(...) A campanha eleitoral deve ser uma campanha de verdade e de rigor. Ninguém deve prometer aquilo que não poderá ser cumprido. Este não é o tempo de vender ilusões ou falsas utopias. Prometer o impossível – ou esconder o inadiável – seria tentar enganar os Portugueses e explorar o seu descontentamento. Confio na maturidade cívica do nosso povo. A próxima campanha deve ser sóbria nos meios e esclarecedora nas propostas que cada partido irá fazer ao eleitorado. Estas propostas têm de ser construtivas, realistas e credíveis e a campanha deve decorrer com elevação nas palavras e nas atitudes.(...)"
Nota pessoal: Ainda bem que as eleições serão antes de dia 8 de Junho.
Nova sondagem coloca o PSD nos 37,3 por cento das intenções de voto, uma maior proximidade do que será a sua posição eleitoral natural. Com o esperado pipocar de proto-escândalos que sobre si e previsivelmente outros partidos farão surgir em época eleitoral, Passos Coelho não terá a vida muito facilitada frente a Sócrates - que inesperadamente continua a ter muitos fãs. É esperar pela campanha
Entretanto, na sequência do anúncio da marcação de eleições para dia 5 de Junho, Paulo Portas fez para as televisões uma das intervenções mais sóbrias de que dele tenho memória. Vai subindo nas sondagens, sem que os casos Portucale e submarinos lhe façam mossa. Tanto dá que prometa coisas aos velhinhos e agricultores que depois não cumpre, como se viu no Governo e vê no Parlamento. Como ministro, esses processos podem vir queimá-lo. A não ser que a comunicação social prossiga suave. Como habitualmente. Com os do costume.
À esquerda, PCP e BE, prosseguem em últimos, embora seja provável que estas eleições venham a beneficiar os extremos. Ao abrigo da lógica, e como nada têm a ver com as políticas que conduziram à crise, se bem acompanhados com a mobilização de quem tem estado na rua, nos facebooks e quejandos a expressão dos votos deve vir a fazer-se sentir. E é preciso também não esquecer que a ideia de junção de esforços dos dois movimentos faz o seu caminho (também aqui e aqui, por exemplo). A ideia de alternativa política e económica agrada a muitos.
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