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A carreira de Sócrates – cuja obstinação tão saudada foi por jornalistas e pela opinião publicada quando chegou ao poder – está à beira do fim com a derrota eleitoral que se avizinha. Almeida Santos, o inamovível presidente do PS, já avisou. Os jornalistas de ontem com a cara-de-pau que a falta de memória, de vergonha, ou lá do que é, justifica, já saúdam o senhor que se segue.
Agora das duas uma. Ou o PS vai para o Governo ou o PS fica na oposição. E para saber o que vai acontecer, é preciso saber quem sucede a Sócrates dentro do partido.
A Direita quer o PS no Governo. Precisa de quem legitime a mãe de todas as Revisões Constitucionais, a tal que o FMI preconiza. Nas hostes do PS, a oferta pode parecer tentadora, pelo que significa de manutenção de clientelas. Ao longo dos últimos seis anos, não as comoveram as sucessivas entorses aos apregoados princípios socialistas e inclusive até chegaram a reeleger Sócrates.
Se o PS aceitar ir para o Governo ficam garantidos no parlamento os dois terços da maioria qualificada necessária para alterar a Lei Fundamental. E o mais provável é que se varra de vez o 25 de Abril para debaixo do tapete da História, com o PS a acabar o que tinha começado em Novembro de 1975.
Em entrevista ao i, Paulo Portas mostra ao que vem. Se for para o Governo – e vai – levará com ele algumas das figuras mais extremadas do conservadorismo português.
Bagão Félix – pai do código do trabalho que a auto-denominada ala esquerda do PS conseguiu ultrapassar pela direita, de militância católica publicamente exercida e proselitista – e o meu homónimo Nuno Magalhães – o político português mais alarmantemente securitário.
Que Pedro Tadeu venha assumir onde vota para total esclarecimento dos leitores não sei muito bem que efeito tenha.
Por mim, nos últimos anos vi foi muitos assessores do PSD e do CDS, regressarem do Governo de Durão Barroso travestidos em editores de política ou com outros cargos de chefia. Vi outro saltar de uma edição de política e do comentário em televisão para assessor de um presidente do PSD.
E, no entanto, daí nem sequer viria excessivo mal ao mundo: Isso da objectividade jornalística é coisa que já nem nas histórias de fadas existe e toda a gente terá um partido preferido ou pelo menos uma legítima tendência política. Curioso é que nunca tenha visto estes assessores concomitantes excessivamente preocupados com a sua isenção e rigor jornalístico. E muito menos com o esclarecimento dos leitores acerca das suas inclinações ou militâncias camufladas.
Aproveitarem a aparência de neutralidade e distanciamento crítico que os jornais garantem para fazer passar as mensagens ideológicas que perfilham tem um nome. Não lhe chamem é jornalismo.
“…perigoso em Portugal é este pântano em que aqueles que não merecem são premiados", diz Passos Coelho.
Estranho, quando ligo a televisão e dou com Cristina Ferreira, na TVI, preocupada com os caracóis figueirenses que alguém tem divulgado como sendo capazes de prever os resultados eleitorais; ouço Júlia Pinheiro gritar nem sei onde; ou leio Teresa Guilherme garantir que quem tem ética passa fome.
São apenas três modelos de sucesso do tipo de sociedade e economia que Passos Coelho defende. Um sítio onde a promoção da mediocridade é bastamente premiada. E alguém terá dúvidas de que isto anda tudo ligado?
Mas afinal há trabalhos para desempregados? Então porque é que esses postos de trabalho não estão disponíveis no mercado contratual?
Porque será que o próximo primeiro-ministro tem um vice-presidente que acumula duas pensões mas encara os titulares do rendimento social de inserção como gente a castigar por não encontrar emprego?
É que Leite de Campos pode ter sido afastado da campanha por conselho médico ou lá o que é, mas a sua sábia e humanista doutrina continua a fazer estragos.
Numa altura em que na Grécia se fala cada vez mais do assunto, Jerónimo puxou a eventual saída de Portugal do euro para a campanha eleitoral e voltou a defender a reestruturação da dívida (tal como o BE, aliás). Receia que Portugal acabe por sair a mal da moeda única, empurrado pela Alemanha e pela França, não tendo então condições para negociar outras condições e como, aliás, vai lembrando muita gente.
Os banqueiros (estes dois, por acaso, bem próximos do PSD, em cuja acção executiva estiveram envolvidos) estão contra, mas também foram eles que provocaram a crise e têm sido eles a encostar os países às cordas. PSD e CDS vão possivelmente formar Governo com maioria absoluta. Pelo andar do debate, o PS só se lhes juntará se alguém se chegar à frente deitando fora Sócrates em tempo útil, logo após as eleições. Mas se a tróica dos partidos pró-FMI não ficar toda junta no Executivo, a coisa não durará muito tempo.
Estamos ainda em tempo de fins, mais do que de começos.
Ontem, não houve nenhum órgão de comunicação, blogue ou bicho que mexesse que não tivesse lembrado que António Lobo Antunes é um dos candidatos ao prémio Príncipe das Astúrias 2011.
A lista de vencedores conta com alguns prémios Nobel (Vargas Llosa, Gunther Grass, Doris Lessing) e com um bom contingente de nobelizáveis (Carlos Fuentes, Claudio Magris, Margaret Atwood ou Ismail Kadaré, por exemplo).
Só não dei conta que se tivessem lembrado de que Lobo Antunes também já foi um dos nomes falados para o prémio em 2004 ou em 2006.
Se a memória não ajudasse a dar mais corpo à notícia, teria ajudado algo mais simples - como googlar, ontem, o nome do escritor seguido de Príncipe das Astúrias.
Não é que seja grave, mas ao menos acautelava-se o impacto junto dos leitores cardiacamente mais fracos. Desilusões por desilusões já chegam as com o país e com glorioso. Já não se aguenta tanto balde de água fria.
Quando Rui Gomes da Silva foi acusado de ter feito pressão para pôr Marcelo Rebelo de Sousa a andar da TVI, foram poucos os jornalistas a achar que se calhar havia quem escrevesse direito por linhas tortas.
O palco mediático que o ex-dirigente laranja – com ambições presidenciais e ainda para mais conselheiro de Estado – tem, há anos, constitui uma entorse ao pluralismo, ao direito à informação e à democracia. Bem podem donos de jornais, directores e comentadores bater no peito indignados e defender o contrário.
A coisa obviamente não se corrige dando tempo cronometrado a outro comentador teoricamente desalinhado para a outra faixa do espectro ideológico, como ocorreu com António Vitorino. Mas também não é dando ouvidos aos donos dos jornais e seus directores que têm, na maior parte dos casos, mais preocupações na vida – muitas delas até jornalísticas – do que garantir o pluralismo noticioso.
Não se julgue, no entanto, que o enviesamento terminará só por se entregar o comentário político a alegados independente – desses que dizem não perceber nada de política ou que dizem mal dos partidos – ou até a jornalistas.
Tudo isto para dizer que nem a mais crédula das criaturas levará demasiado a sério as zangas de Pedro Mota Soares ou de Vieira da Silva com os excessos de Marcelo.
Se os elogios tivessem pendido para o lado deles seriam os primeiros a revoltar-se com quem mandasse Rebelo de Sousa calar-se. Foi aliás o que fizeram naquele dia em que Rui Gomes da Silva resolveu manifestar o seu sagrado direito à indignação.
Em 1956, Albert Camus escreveu n'A Queda que, no futuro, os franceses seus contemporâneos seriam conhecidos por lerem jornais e por fornicarem. Cinquenta e cinco anos depois, ignoro que imagem os franceses actuais irão passar aos vindouros. Mas se os factos provados ainda não falam do proveito, já da fama alguns deles não se livram.
Depois de Strauss-Khan, é a vez do secretário de Estado da Função Pública se juntar ao clube das figuras públicas francesas suspeitas de terem a líbido descontrolada. De qualquer forma, de gente próxima do ex-director do FMI já tinham escapado acusações sobre o papel de Sarkozy no caso novaiorquino, mas um governante menor, mesmo que influente, não serve para empatar esta batalha ideológica travada entre lençóis.
O economista norte-americano de origem turca Nouriel Roubini foi, nos últimos anos, dos escassos economistas que não fez profissão de fé na economia enquanto ciência exacta. Foi dos poucos (e não o único como se afirma neste take da Lusa, repetido pelo Diário de Notícias) capaz de prever a chegada da crise que aí está.
Agora, Roubini aponta o tiro ao Banco Central Europeu, que incapaz de prever ou minimizar a crise, anda muito preocupado com os riscos de contágio da reestruturação da dívida grega. A julgar pelas acusações do economista, a instituição estará mesmo entregue a meninos cábulas, campeões da opinião impressionista. Diz ele que o "BCE não só está errado, como nem sequer fez o trabalho de casa" e não "apresentou uma exaustiva análise dos possíveis canais de contágio".
O BCE, onde se reúne um dos mais inúteis grupos de sumidades não eleitas do mundo, corre é o risco de o fim da moeda única em Atenas vir a contagiar o resto da Europa. O Banco dos senhores Trichet e Constâncio não se importa. Indiferentes ao sofrimento, terão como desculpa que a culpa foi dos que não aplicaram a receita austeritária na exacta medida. Isso do pessoal morrer à fome é um efeito colateral necessário, a bem da Economia e da saúde do Sistema Financeiro. E depois gente tão inteligente não pode estar errada, mesmo que a realidade lhes demonstre todos os dias o contrário.
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