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O Tiago Carrasco ainda não tem 30 anos. É dos repórteres mais talentosos que conheço.
Trabalha desde sempre como freelancer. Episodicamente com contratos de trabalho, como boa parte dos jornalistas verdadeiramente talentosos que aí andam. Gente que quer contar histórias com história e com gente dentro, em vez disso que se faz aí nos jornais, martelado a gosto dos editores e de quem lhes paga.
O Tiago até tem bom feitio, mas é obstinado. Directores e editores preferem vaquinhas de presépio. Mal pagas, preferencialmente – que há aí muito quem queira trabalhar por menos dinheiro ou até de graça, para ganhar currículo ou poder dizer que está a fazer qualquer coisa.
Por isso mesmo, quando o que estão dispostos a pagar-lhe não corresponde ao que vale, sabe o que tem a fazer. E não demora a percebê-lo, o que demonstra inteligência. O resultado de uma das últimas aventuras está aí em Até lá Abaixo. Neste livro - será lançado dia 15 de Junho, na Zé dos Bois, em Lisboa, às 21h30-, conta a aventura transafricana em que se meteu com o João Henriques e com o João Fontes, tendo o mundial de futebol na África do Sul como pretexto.
Quando os jornais não cumprem o seu papel e deixam de pagar por jornalismo, os jornalistas a sério têm de o fazer sozinhos. Mais assim houvera e a imprensa portuguesa não estaria como está. Mas, de qualquer forma, também espero que não o prendam numa redacção.
A interrupção de um comício do secretário-geral do PCP por vários estudantes trajados a rigor com capa e batina tem contornos anacrónicos.
Por um lado, estudantes de Coimbra (com o uniforme que antes do 25 de Abril se usou para lutar contra a ditadura*) tomam alegadamente partido pelo património representado pelas escadarias monumentais da universidade, contra a liberdade de expressão e das ideias, um património intelectual que a academia supostamente valorizaria.
Que se indignem com mensagens políticas (escritas no chão, como há tantos anos é feito, ainda para mais com tinta lavável) e pretendam alçar-se a vigilantes da limpeza urbana impedindo a transmissão de ideias em plena campanha eleitoral coloca-os ao lado dos inimigos da democracia. Mais grave é que não entendam a gravidade da atitude, tal como a não entendem a maioria dos comentadores que pululam pelos jornais online.
Mas é o mesmo país em que Paulo Portas fez aprovar com pompa e circunstância legislação contra os graffiti, como se isso fosse um problema de criminalidade. O mesmo país onde a opinião pública mais ruidosa encara a questão dos grafitti quase como o pior dos crimes e com ímpetos justiceiros.
Por outro lado, assistindo no assunto total razão à CDU, deviam equacionar as vantagens e desvantagens deste tipo de propaganda política: Se o que ganham em visibilidade, empatia e publicidade positiva para as suas mensagens (nas escadarias monumentais criticavam os cortes no ensino superior que afectam os estudantes e a qualidade de ensino e os salários de estagiários com formação universitária) prevalecerá sobre as críticas ruidosas dos estudantes, que não comentam os conteúdos da mensagem que até os afecta directamente.
*Nota: Num ou noutro artigo de opinião criticou-se as referências ao Estado Novo feitas pelos comunistas por causa deste assunto. As repetições da História deviam mostrar-lhes como a comparação é pertinente, mas nunca se conformaram e vão estando demasiado preocupados em tirar desforço da provisória derrota de 1974.
Esta casa tem andado algo por mimar. Nos próximos dias a história de Portugal medieval leva a melhor sobre mim.
Os que querem encostar os feriados aos fins-de-semana não serão, por acaso, os mesmos que se amofinam quando se marcam greves para sexta-feira? Parece-me bem que não é exactamente o dia o que os incomoda.
O estilo de Fernando Costa está longe de atrair enquanto modelo de estar na política. Mas, ao contrário de Passos Coelho que se sentiu incomodado com os ataques a Paulo Portas, o presidente da Câmara das Caldas da Rainha põe a campanha e a discussão num dos sítios onde ela deve estar.
O antigo ministro da Defesa Nacional pode passear-se como exemplo de seriedade e estadista e atrair eleitores, mas convém que se lembre que os casos dos submarinos e dos sobreiros da Portucale ainda não estão resolvidos. E se se sabe o peso que os submarinos têm no défice público, já não se sabe muito bem que papel teve Paulo Portas nos dois assuntos.
Não é uma questão de baixa política. É mesmo uma necessidade imperiosa de julgar os políticos que temos com o máximo de elementos possível. Chama-se democracia e escrutínio público.
O Portas jornalista não pouparia o Portas político.
Quanto mais Fernando Nobre abre a boca, mais se fica preocupado. Manifestamente, o provável candidato pelo PSD à presidência da Assembleia da República não tem qualidades que o justifiquem enquanto homem político.
Em resposta a uma tirada mais do que infeliz de Pita Ameixa (o PS de Beja dá sempre bons exemplos no que toca à boçalidade das afirmações), Nobre veio também assumir-se como "um africanista de Massamá".
Mas Nobre assume-se logo como "o maior e talvez o mais africanista de todos os candidatos", que ele não deixa a coisa por menos. Nunca Nobre poderia ser apenas o segundo maior lá da rua dele, quanto mais do país.
O médico terá muitas qualidades mas, pelos exemplos que tem vindo a dar, a sua mania das grandezas não se justificará tanto como parece julgar. Além de mal-educada, revela um desprezo pelas qualidades de outros que, vindo de quem vem, parece preocupantemente deslocado e até desfasado da realidade.
O Governo fez bem em chamar o embaixador alemão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. Angela Merkl, que não foi eleita para mandar em Portugal, mete demasiado o bedelho em assuntos que não lhe dizem respeito. Exigir que os portugueses trabalhem mais anos e com menos férias ultrapassa em muito o que é legítimo.
Infelizmente, na Alemanha vai-se recorrendo com demasiada frequência a um discurso de supremacia nacional e de desprezo pelos países do Sul. Se não querem que lhes estejam constantemente a lembrar o terrível passado deviam evitar um certo tipo de discurso. Um discurso eleitoralista que desgraçadamente cala fundo em muitos eleitores daquele país e que mais não faz do que acicatar ódios.
A chanceler alemã (até pela biografia que tem, pois nasceu na República Democrática Alemã) devia lembrar-se que os parceiros da Comunidade Europeia também se esforçaram para suportar a reunificação alemã.
Angela Merkl devia recuar um bocadinho e ter ainda o cuidado de se lembrar do pós-guerra. Nessa ocasião, a comunidade internacional mobilizou-se para reconstruir o seu país. Uma brutal ajuda para reedificar do chão um país que ficou destruído por vontades e erros próprios.
Erros que tiveram consequências bem mais graves para o mundo do que os presentes erros próprios cometidos pelas governações de Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha e pelos mais que se lhes juntarão. Erros que não é de mais recordar quando o discurso político alemão se enche de perigosos laivos de xenofobia, mesmo que apenas com o olho no eleitorado. É que há discursos a que convém cortar logo a cabeça.
Quanto mais não fosse por causa da Grécia (aqui, os franceses afiam os dentes com olhinho abrilhantado pelos saldos das jóias helénicos) os partidos em Portugal tinham a obrigação de discutir a reestruturação da dívida na campanha que aí está.
Até ao momento, apenas a CDU e o BE têm insistido nesta necessidade que, mais cedo ou mais tarde cairá, como uma bomba no debate político português e se entrará porta dentro com a força das inevitabilidades. Chamam-lhes demagógicos e caloteiros.
E se desta vez os sempre distraídos jornais não vão poder dizer que ninguém tinha avisado, quase garanto que serão os do costume a lucrar com o crime da cegueira.
No debate com Jerónimo de Sousa, Portas disse ao comunista que o PCP faz muitas vezes diagnósticos certos: Falhava depois era na cura.
Infelizmente, ao contrário do que se disse nos jornais durante as décadas que levamos de pertença à Comunidade Europeia, a extrema-esquerda teve sempre razão. O que previu sucedeu - o que se calhar demonstra que sobre a demagogia que uns têm a fala e outros o proveito.
Na hora de votar, entre os três partidos da Aliança FMI (que falharam os diagnósticos todos e não encontraram cura nenhuma) e os que ao menos acertaram nos diagnósticos (e que nunca ninguém deixou ver se a cura resultava), devia valer pontos a seriedade quanto à discussão da reestuturação da dívida.
Mas os eleitores comportam-se com a mesma capacidade analítica que num Benfica-Porto e talvez aproveitem o dia para empurrar com cerveja mais uma sandes de courato.
Sempre que ponho reservas ao embandeiramento em arco com o autor sou destratado por gente que nem sequer o leu. Embora não vá tão longe como a jurada descontente, pelos vistos há reforços de peso para a causa.
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