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Vítor Bento é aquele senhor que, depois de quase uma década afastado do Banco de Portugal para exercer funções privadas, acabou promovido por mérito na casa de origem, podendo reformar-se com uma pensão mais alta.
Passando entre as gotas que mal se fizeram sentir, logo a seguir foi cooptado por Cavaco para substituir no Conselho de Estado um Dias Loureiro, cuja idoneidade andava pelas ruas da amargura.
Como aquele do Pingo Doce, é uma das vozes mais ouvidas pela imprensa, sempre em defesa de sacríficios para outros.
Mais uma vez colocado perante um microfone não se acanha e protesta. Portugal deve evitar o caminho perigoso do igualitarismo, disse.
No fundo percebe-se o receio de um dos economistas mais influentes do estado a que se chegou. Num sítio onde certos comportamentos cívicos tivessem repercussões, Bento não teria sido promovido e muito menos convidado para ser conselheiro de Estado.
Nem todos os portugueses têm o talento para ser confrontados com oportunidades tão excepcionais e brilhantes.
Há tempos, em escrito que não encontro, um dos jornalistas que viu agora terminar a sua crónica na Antena 1 punha em causa o direito dos jornalistas a tomarem partido político em artigos de opinião.
A sua opção pela passividade activa confronta-se com a acção de administrações e chefias sempre prontas a recorrer às armas de destruição massiva.
Nos próximos tempos, Cavaco não sairá à rua.
Por causa das pensões e dos apupos em Guimarães, estará acantonado em Belém. Não será a primeira vez que recorre ao expediente. Em tempos, também acantonou o Conselho de Estado onde assentava praça um Dias Loureiro a contas com os noticiários.
Para já, preenche o fim-de-semana com tentativas de limpar a mácula emitindo tinta para os jornais (veja-se aqui e aqui, por exemplo).
O desejo de deixar obra é dos sintomas mais preocupantes que se podem observar num cidadão ministeriável. Infelizmente, como os governos são constituídos por gente comum, tão estúpida e incompetente como eu ou o meu caríssimo leitor, as hipóteses de que se dê por isso atempadamente são escassas. Na maior parte das vezes, já seria bom que os ministros se limitassem a não mexer e a tratar do expediente corrente. Poupava chatices, gastos e evitava boatos acerca de duvidosos saltos para maçadores lugares de administração de empresas.
Mas talvez seja a obsessão com a morte, esse complexo da múmia que desde sempre leva o ser humano a tentar projectar-se na posteridade, envolto em trapos e ligaduras, e preservando uma arrepiante memória da forma.
Desde Roberto Carneiro, não existe registo de um ministro da Educação que não tenha tentado impor aos professores, meninos e seus paizinhos uma qualquer ideia revolucionária sobre o Ensino.
Na Justiça, as inovações também não têm parança. Ainda agora se saiu de uma reforma comarcal que dispendeu tempos e energias e já a novíssima ministra prevê novo rearranjo. Desta vez tem a justificação da tróica, mas é só para enganar. Fosse outra a altura e não deixaria de encontrar um bom motivo para que tudo mudasse, ficando tudo na mesma.
* Claro que Educação e Justiça estão estragadas. Mas para cortar amígdalas nunca se viu que fosse necessário pedir primeiro a intervenção de um ortopedista, depois de um neurologista, de seguida de um estomatologista, logo após de um dermatologista, e finalmente (ou tralvez não) de um cirurgião plástico. È demasiada gente e demasiado tempo para manter o doente aberto sobre a marquesa, exposto às sucessivas e informadas opiniões de cada clínico.
O desaparecimento de quatro feriados (deixo de parte a discussão sobre a neutralidade laica do Estado) é analfabeto, vingativo e ainda por cima impotente.
Confesso não entender muito bem a lógica que leva a que na SIC-Notícias, numa peça sem qualquer direito a contraditório, se chame Pedro Adão e Silva para comentar, em directo e presencialmente, o Congresso da CGTP-IN, .
Não entendo também por que será apresentado como comentador da SIC, mas não se faz nenhuma referência ao facto de ser militante socialista e até ter pertencido à direcção de Ferro Rodrigues.
Passa a emissão para estúdio, e quem está à espera, sozinho, para comentar a actualidade e acrescentar mais qualquer coisinha sobre a candidatura (hipotética, mas provável, digo eu) de Carvalho da Silva à Presidência da República? João Cravinho, que foi ministro de Guterres.
Apreciável isenção que tem um bom nome em português vernáculo, mas a que os meus colegas de profissão insistem em chamar critério jornalístico.
Se se tratasse de bola, era o mesmo que convidar primeiro o Pinto da Costa para falar da situação e estratégias do Benfica e logo a seguir ouvir o que tinha a dizer o Manuel Serrão. Não faltariam as reclamações, mas como se trata de democracia e de luta política e social haverá de certeza doutas justificações para a idiossincrasia e para se tratar os espectadores como estúpidos.
Um amigo faz-me notar como os chacras andam alinhados.
Carvalho da Silva deixa a CGTP e Silva Carvalho abandona a Ongoing.
A nomeação de Vasco Graça Moura para a direcção do Centro Cultural de Belém (CCB) tem sido gerida da pior forma possível.
Se o currículo do escritor é quase irrepreensível (infelizmente, há o seu alter ego de cronista caceteiro e a defesa da pena de morte), o recente ataque de vários militantes laranjas a lugares apetecíveis (EDP e Águas de Portugal) acabou por ensombrar a escolha.
Como um mal nunca vem só agora é o conselho directivo do CCB que se demite em bloco por reprovar "eticamente a forma como a Secretaria de Estado da Cultura conduziu o processo, por alegadamente ter, numa primeira fase, garantido a recondução de Mega Ferreira e depois invocar a impossibilidade política da recondução."
Entre os demissionários, encontra-se Laborinho Lúcio, antigo ministro da Justiça cavaquista.
Manuel Carvalho da Silva que abandona amanhã o cargo de secretário-geral da CGTP e que esta noite foi entrevistado por Sandra Sousa na RTP1, tem três anos para ir preparando a candidatura à Presidência da República. Para todos os efeitos está já no terreno e viu-se o peso que teve a antecipação de Cavaco nas penúltimas presidenciais.
De certa forma, os tempos de inevitável crescimento da contestação social vão facilitar-lhe a passagem da mensagem. Mas terá alguns obstáculos a vencer.
Se Carvalho da Silva avançar, terá o voto do Bloco de Esquerda garantido. São, com segurança, entre cinco a sete por cento do eleitorado.
Mais complicada é a situação no seu partido de sempre, o PCP. A proximidade entre a actual direcção comunista e o dirigente cessante da Inter não será grande, mas o PCP tem pouco espaço para gerir outra candidatura - o que, aliás, nem sequer seria percebida pelo seu eleitorado tradicional. Desta vez, não há espaço para o partido apresentar um candidato vindo do seu interior mais imediato. E por uma questão (também) táctica, Carvalho da Silva tem mais a ganhar se apresentar a candidatura autonomamente. Aos comunistas resta-lhes acompanhar o movimento. Os próximos tempos terão de ser decisivos em termos negociais. São mais sete a nove por cento do eleitorado.
Depois há o PS, decisivo para vencer as eleições. Se Mário Soares tem alguma simpatia pelo dirigente sindical, e pela sua candidatura, o pleno socialista não está, no entanto, garantido. Entre os socialistas existem demasiados anticorpos contra a CGTP e em especial contra comunistas. Os anos de governo do PS não foram de molde a reforçar as correntes de esquerda internas mas se resolverem apoiar Carvalho da Silva, este pode contar com pelo menos 15 por cento dos votos. Muitos militantes e simpatizantes do PS terão dificuldade em engolir o sapo. Mas talvez se vejam agora forçados a retribuir à esquerda o voto que garantiu a eleição de Soares em 1986.
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