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São um mimo os comentários dos leitores do Público.pt ao artigo de Luís Miguel Oliveira sobre os óscares 2012.
O debate, embora curto, faz-se ente gente que nem sequer percebe o que tem à frente, se um artigo noticioso se uma crítica.
E isto num jornal de referência, com leitores alfabetizados e supostamente esclarecidos, com pontos de vista se não sobre cinema ao menos sobre filmes.
Anda aí muito cronista, comentador e bloguista preocupado com o desgaste de que Cavaco tem sido alvo e com a bondade e utilidade dos ataques sofridos pelo chefe de Estado.
Parece, no entanto, que a culpa não será de quem alegadamente o não deixa pousar: Ainda os jornalistas - sempre atrasados - lhe andam a fazer perguntas sobre a pensão do Banco de Portugal ou o impedimento de visitar a António Arroio e já Cavaco se enrola com o espanto dos números do desemprego.
Alguém muito aqui de casa.
São 673 posts e 215 comentários.
António Galvão, o meu camarada repórter de imagem da TVI que captou uma conversa entre Vítor Gaspar e Wolfgang Schauble, foi castigado pela União Europeia por ter feito o que um jornalista tem a fazer.
O interesse público da conversa é relevante, a contradição entre o discurso interno de Gaspar e a sua postura externa também.
Estou-me completamente nas tintas e marimbando - e o código deontológico dos jornalistas também, veja-se o artigo 9º (pdf) - para a regra imposta pelo poder de Bruxelas, impedindo os jornalistas de recolher mais do que as imagens dos governantes europeus.
O que têm a dizer sobre isto as organizações internacionais da classe?
Nota: Em crónica publicada em stereo no Expresso Online e no Arrastão, Daniel Oliveira fala sobre este assunto. A julgar por boa parte dos comentários, muitos dos seus leitores mostram-se ferozes adeptos do safanão dado a tempo, partidários de uma imprensa que se demita de informar.
Completo em Abril dez anos de jornalismo. A minha primeira peça assinada saiu no dia 25 e desde então, quase sempre em ambiente de redacção, exerci a profissão em regime alimentar, irrelevante, sem nunca deixar a precariedade.
Mal cheguei, não levei mais que meia-hora a perceber o que o chanceler Bismark queria dizer ao referir que as pessoas teriam mais confiança na feitura das leis e das salsichas se não soubessem como elas eram produzidas. Percebi que com o jornalismo se passa exactamente a mesma coisa.
São dez anos, em que nunca deixou de se fazer sentir a pressão interna para a acomodação ideológica, entendida em sentido lato e não partidário ou político. A pertença a qualquer grupo obtém-se não pela qualidade ou dedicação mas pela comunhão de pontos de vista, nem que esta seja gostar de futebol, de roupas de griffe ou de comida italiana. No jornalismo, casa de ferreiro, é igualzinho.
Não mordas a mão que te alimenta é mantra diário, garantindo a mansidão de chefias bem pagas e de estagiários assustados pela legião de (mal) formados saídos das escolas de ciência da comunicação. Mas tudo isto não passa do pequeno jogo. Quotidiano, mas pequeno. Que só episodicamente o jornalismo se aproxime da realidade pouco interessa. Não são os leitores que interessa conquistar e sim a publicidade.
No Caso Rosa Mendes está-se no campo do grande jogo da profissão. Um jornalista de nível internacional, um dos melhores entre os melhores, cuja coragem e qualidades em campo mais do que se destacam, é atropelado e despedido por fazer o que um jornalista tem de fazer. Com uma agravante: há jornalistas e ex-jornalistas que acham razoável e justificável a situação.
Paulo Portas tem andado mais desaparecido que Cavaco e, no entanto, resolveu abrir a boca para saudar a criação de mais um cardeal português.
Depois do prelado ter defendido que as mulheres sejam enviadas para casa para se dedicarem "à educação dos filhos", a sua função "essencial", talvez mais valesse que Paulo Portas ficasse calado.
Nota: Monteiro de Castro ficará com a pasta das penitências, no Vaticano e defende o reforço do papel e frequência da confissão. Bem sei que os católicos defendem esta como um dos seus sacramentos, mas isso não a faz perder o vexatório carácter de controlo e submissão.
Os mesmos portugueses que criticam o estado da Justiça portuguesa são bem capazes de estar com um sorriso de orelha a orelha por causa do alegado suicídio do homicida de Beja. Fazem mal. Muito mal.
Deixar que um prisioneiro que devia estar sob a mais estrita vigilância cometa suicídio (e escape ao julgamento) é mais um ruidoso e claro sinal da indigência e incompetência da justiça e do sistema prisional portugueses.
Não faltará quem diga que teve o que merecia, sozinho ou ajudado, e nem se sabe muito bem que resultados terá a investigação da Inspecção Geral da Administração Interna.
Os que lançam serpentinas e foguetes não percebem que os fumos da sensação de justiça escondem a falência de uma sociedade e de um sistema.
Podem emocionar-se à noite com a sua própria compaixão indignada. Mas a barbárie escreve-se de mais maneiras do que aqueles que dizem defender a civilização e a bondade têm sequer capacidade para imaginar.
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