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Assunção Cristas resolveu travesti-lo de preocupação com os pequenos produtores - com os lavradores, diria o líder do CDS-PP.
Infelizmente, nesta fase, talvez a ministra do Mar e de várias outras pastas devesse estar mais preocupados com as faltas de alimentos à mesa dos portugueses do que com a segurança alimentar.
A não ser que para isso vá já contando com a caridade do Banco Alimentar.
Sim, bem sabemos, o interesse nacional e a irresponsabilidade dos autóctones justificam tudo.
A bem da Nação tratam-nos "como se andássemos de tanga"*.
* De um poema de Corsários à Vista, de Vitorino Nemésio
Mas afinal qual é o problema do "vai-se andando" português sempre tão criticado nos jornais pelos inúmeros sociólogos instântaneos (alguns deles com grau) e seus papagueantes repetidores?
Será que o mais normal é a felicidade esfusiante das noites que Santana Lopes viveu? Ou será a infelicidade depressiva e a pedir lítio a conta-gotas ao jeito de um Medina Carreira?
Há mais verdade, aposto, no "vai-se andando", seja em que país for, no que optimismo activo dos candidatos a coachers motivacionais.
E num país como Portugal ainda se conseguir ir andando parece extraordinariamente optimista.
* De um qualquer manifesto artístico.
Também hoje, mas em 1918, forças do Corpo Expedicionário Português, participando na I Guerra Mundial, foram esmagadas por um ataque alemão.
Talvez não desse ainda para perceber que a Alemanha perderia a guerra, mas parece que o mundo nunca vira tão massivo sofrimento bélico.
No Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa, uma equipa liderada por Fernanda Rollo vai preparando o centenário do conflito. Os trabalhos estão integrados no Europeana 1914-1918.
Descubro via Samuel que o Adriano Correia de Oliveira faria hoje 70 anos. Também se equacionaram esta ou esta.
A Pietá de Raoul Walsh é tão bela como a de Miguel Ângelo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
Sim, a direcção informativa de um canal televisivo pode mobilizar meios poderosos e batedores em motos para acompanhar a viagem de um cidadão entre a sua casa no Possolo e o CCB onde confirmaria que entrava na corrida à Presidência da República. Pode à vontade desequilibrar o jogo democrático e contribuir para a entronização do pior chefe de Estado que nos calhou em sorte.
Sim, uma outra direcção de informação pode manter no ar, durante anos a fio, um comentador que todos sabem ter o olho em Belém. Pode dar-lhe ruidosa e populista vantagem em nome do interesse do público (que não do interesse público). Este nem percebe que lhe dão a intriga com agenda pessoal e partidária e não a análise inteligente, isenta, vestida como dotes de comediante, que os responsáveis pela informação lhe dizem que estão a dar.
Sim, uma terceira direcção de informação pode defender-se com critérios jornalísticos para manter um programa de alegado debate que se assemelha mais a um reclame luminoso e barulhento das ideias feitas sobre Economia, Europa e Política. Pode, imune às críticas, evacuar o contraditório convidando ministros, os mais altos representantes de lobis vários e outros formatadores da opinião pública consensualizada.
Sim, não existe qualquer problema em fazer determinadas escolhas políticas e em promovê-las activa e publicamente. O que uma direcção de informação não se pode permitir é dar voz a um jornalista que celebra um golo do seu clube. Ainda por cima nessa coisa essencial para a vida e escolhas dos cidadãos que é um programa de opinião desportiva, formato nunca encarado como um palco de isenção ou de escolhas racionais.
A hipocrisia é tanto maior quando, para qualquer espectador do programa Zona Mista, eram públicas, notórias e assumidas as preferências clubísticas de João Gobern. Apesar do modo como a RTP o classifica - programa de análise desportiva - nas vezes que por ele passei não fiquei exactamente com a impressão que o distanciamento fosse a tónica mais procurada e desejada por João Gobern ou por Bruno Prata.
Isso nunca impediu Gobern de procurar a isenção, de opinar contra o seu próprio clube. Mas achava até, ingenuidade minha, que parte do picante e da honestidade do programa estariam nas diferentes paixões clubísticas dos dois comentadores. Uma impressão vincada pela carreira jornalística de Gobern muito marcada pela ligação às Artes, Cultura e Espectáculo. Laços que não o faziam correr sequer o risco de ser encarado, ao contrário de Bruno Prata, como um especialista em Desporto.
Porém, como se sabe, desde Lucas, podem levar-se os animais a beber a um sábado. O que não pode é curar-se uma mulher no dia do descanso.
Acabe-se com os subsídios de Férias e de Natal, disse Peter Weiss um desses funcionarios da Comissão Europeia e da Tróica, tecnocrata, austríaco, com alma de porteiro de discoteca, uma classe sempre disposta a mostrar como a função que exerce lhe dá grande poder.
Passos Coelho - que em tempos execrara os avanços e recuos de Sócrates e que mesmo assim cortou o 13º mês quando prometera não o fazer - veio pôr água na fervura. Que não, que os subsídios regressarão em 2015. Pouco interessa que tenha dito antes que se tratava de uma medida para 2012 e 2013.
Atentai que é o mesmo Passos Coelho que tão aplaudido foi quando no último Congresso do PSD garantiu que este ano não haverá subsídios para os funcionários públicos. Aplaudiram-no delegados e aplaudem-no ainda os cidadãos. "Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos", pensa mais uma vez a multidão, desta feita com o olho nos empregados do Estado e não num inocente colocado nas mãos do governador romano.
As cada vez mais raras sondagens vão mostrando como muitos portugueses ainda acreditam na boa-fé dos partidos que elegeram para o Governo. Não tenciono ir a votos. Escuso de jurar sobre a inteligência do eleitorado. Estão aí à vista os resultados de mais de 30 anos de eleições.
Diga o que disser, o objectivo de Coelho é acabar com subsídios. Todos. Não apenas os da Função Pública.
A ideia de diluir o seu pagamento ao longo dos meses justifica-se com a ideia de que pertencendo de direito ao cidadão este deve dispôr do dinheiro que lhe é devido na altura em que o entender. Justificam-se ainda pela simplificação das mexidas de caixa.
São argumentos sensatos, parece. Nada mais falso. Será apenas mais fácil diluí-los na contabilidade das empresas, entre compensações extra, despesas com refeições e outras verbas variáveis. Ao fim de escassos anos os subsídios terão sido varridos, devorados pela inflação e pelas actualizações salariais que se esqueceram de os contabilizar como um direito. Depois falamos.
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