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O novo Caso Relvas não tem muito que saber. Não há ali nada que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) possa resolver.
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É a palavra da editora de um jornal, que terá recebido ameaças insustentáveis numa democracia, contra a palavra de um ministro, que alegadamente terá feito as ameaças.
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Confrontado, Miguel Relva apressou-se a enviar uma série de documentos para a ERC. Neles queixa-se do trabalho da jornalista. No limite é legÃtimo, mas não é isso que está em causa. Embora seja isso que, ao longo do fim-de-semana, várias personalidades do PSD têm tentado fazer acreditar, nas televisões, nos jornais, na blogosfera. Tal como não é está em causa um conflito entre a direcção e a redacção do diário.
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As questões são simples. Miguel Relvas ameaçou embargar todo o envio de informação governamental ao Público? Só ele e a editora de polÃtica do jornal saberão. O ministro da Presidência ameaçou realmente divulgar na internet dados sobre a vida pessoal da jornalista Maria José Oliveira? Só duas pessoas conhecem a verdade.
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Já que o lÃder do PSD-Porto acha que aquilo que disse é argumento, talvez devesse lembrar-se que o Código Deontológico também não permite que um jornalista minta. Enfim, alçapões e contradiçõezitas do argumentário polÃtico instantâneo e pronto a vestir.
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(Via Jugular)
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Sobre o sÃtio onde Relvas obteve alegada informação sobre a vida privada de um jornalista para a publicar há quem se questione e há quem acuse.
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Acredito que exageram. O ministro adjunto sempre cultivou as relações com os jornalistas. Cheguei a vê-lo na São Caetano à Lapa, rodeado de vários, gargalhando todos. Ruidosos, barulhentos, como velhos camaradas, a linguagem de caserna, desbragada.
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São daquelas coisas que aproximam as fontes, diz-se.
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Possivelmente, Relvas terá apenas recorrido ao arsenal de má-lÃngua, de rumores e histórias mal-contadas que contaminam as redacções. Também nunca ninguém disse que primasse pela elegância. E, no entanto, já devia ter feito o que há a fazer.
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Felizmente em Timor, Sua Excelência tem escassa moral para exigir a demissão de alguém por uma situação ligada ao condicionamento de jornalistas. Só que Passos Coelho não tem grande margem de manobra.
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Mais facilmente será destruÃdo nos jornais por isto que por erros na condução da crise. E logo à noite, Marcelo falará. E não se esqueçam que está, há muito, em pré-campanha para Belém.
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* Pilhado do tÃtulo de uma antiga coluna jornalÃstica.
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Por muita razão que o Conselho de Redacção da RTP-Açores possa ter*, surgir nesta altura com uma acusação destas tresanda de tal maneira a encomenda que só os mais sectários militantes laranjas usarão o comunicado como argumentário.
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A altura é oportuna. A empresa tutelada** pelo condicionador ministro Relvas vem acusar um governante socialista, partido rival, de também condicionar.
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Parece esgotar-se nestes jogos de equivalências especulares a inteligência dos spins nacionais, dos dos gabinetes dos ministros, dos nos órgãos de comunicação social, numa lógica de libertar informação delicada em modo contra-fogo. Sai uma coisa má sobre um, logo sai algo semelhante sobre o outro.
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Naquele Conselho de Redacção, ninguém percebeu a situação delicada em que se meteu ao chamar a atenção para isto apenas agora?
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* Pelo que se apanha na imprensa não parecem ter um caso da dimensão do de Relvas, de chantagem e ameaça. As habituais discordâncias sobre critérios editoriais – sempre dúbios -  e sobre ângulos jornalÃsticos tratados com maus modos e falta de tacto por detentores do poder.
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** O Grupo de Trabalho nomeado por Relvas para o serviço Público de Televisão tinha sugerido a extinção da RTP-Açores. O caso demonstra antes que os poderes executivos têm de ser afastados da tutela. A existência de um serviço público de informação faz todo o sentido. Pouco me interessa o que patrões do privado ou directores digam sobre o assunto. Enquanto jornalista defendo o direito à informação e não quotas de mercado.
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