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As moedas austríacas lembraram-me O Terceiro Homem, filme de Carol Reed, com mão de Orson Welles e Graham Greene, passado na Viena do pós-Guerra. Uma intriga mais de crime que de espionagem e com muito escassa virtude.
Um mundo sujo e sórdido, como parece ser o mundo publicado dos serviços secretos portugueses. Uma estrutura que é demasiadas vezes notícia e que parece estar sempre a fazer o que não deve, a mando não se sabe muito bem de quem, e defendendo interesses que não os de Estado.
São já demasiados casos, muitas idas de ministros ao Parlamento. Feche-se a coisa, reformem-se chefias e agentes e construa-se uma nova agência de raiz. Aquilo que ali está não tem solução.
E era isso que se devia discutir antes de se ser interrompido pelo novo caso Relvas.
Não sei que se passa que nos últimos dias ando sempre com euros austríacos no bolso.
E deram-mos em sítios diferentes.
Há quem use dois pesos e duas medidas quando fala de Liberdade de Imprensa.
Como é óbvio, haverá ali gente capaz de perceber que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social nunca conseguirá apurar os factos. Relvas apenas ensaiou uma manobra de diversão fugindo ao que está em causa.
Se tivessem um bocado de respeito por quem os elege e lhes paga os ordenados para nos representar deixavam-se de demagogias e perdas de tempo.
Diz a má língua curitibana que Trevisan não se flagra na rua, sempre fechado em casa. Há décadas, recusando contactar o mundo,
Brasileiro de origem polaca, nascido em 1925, licenciado em Direito, Dalton Trevisan faz contos curtos, despojados. Procura, lembrou Fernando Assis Pacheco, no prefácio ao Cemitério de Elefantes*, a concisão do Haikai, poemas japoneses de três versos.
Anacoreta, o óbvio Vampiro de Curitiba, título de um dos seus livros mais conhecidos, anda mais do que escassamente publicado em Portugal, como aliás a maioria dos escritores brasileiros que interessam.
É literatura para quem gosta de literatura. Silenciosa, exacta, rigorosa. Páginas brevíssimas, intensamente preenchidas. Crueldade, vidas rarefeitas, ternura destruída.
Há anos que receava que o Camões passasse ao seu lado, que o deixasse ir sem dar por ele. Os portugueses nem sabem o que ali está.
* É o único livro do autor publicado em Portugal. Neste momento nem sequer está disponivel no catálogo da Relógio de Água. O resto que se vai apanhando é em edições brasileiras.
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