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Nuno Crato tem sobre o saber e o ensino uma visão fechada e saudosista.
A ideia peregrina de encher o percurso escolar de exames demonstra-o bem, ao mobilizar todo o sistema de ensino para responder a avaliações finais em vez de o mobilizar para a aprendizagem.
Por outro lado, ao excluir o ensino português de avaliações internacionais mostra receio de júris independentes. A ideia de permitir aos pais que escolham as escolas que os filhos irão frequentar é demagógica e impotente. Oficializa a discriminação de estudantes que em muito sítios era já feita encapotadamente. Há anos - pelo menos desde Roberto Carneiro - que se reclamava proximidade e mais participação das comunidades na vida escolar, Crato meteu essa ideia no bolso, aumentou turmas à desmesura e inventou super mega agrupamentos.
No entanto, talvez haja ruído a mais em relação à decisão de dar prioridade a cursos de formação profissional nos sectores da Indústria e da Agricultura em detrimento de alguns serviços. São sectores produtivos que o país destruiu nas últimas décadas, como quase só à Esquerda se denunciou.
Portugal vive das importações. E o modelo de serviços e turismo não deu grandes resultados em termos de PIB e redistribuição de riqueza. Se somos incapazes de produzir viaturas, torradeiras ou televisões, haja ao menos quem seja capaz de as arranjar quando se estragam. É uma maneira de se deixar de ir comprar outras ao estrangeiro, desequilibrando a balança de pagamentos e gerando mais e mais desperdício, económico e ambiental.
Depois, mais facilmente um electricista ou um mecânico prescindem de um patrão (e ficam com o dinheiro que fizerem), do que um técnico multimédia ou um animador turístico. Tudo que der liberdade de escolha a quem trabalha só traz vantagens. Virtudes em que o elitista Crato não terá pensado.
Se é como aqui se descreve, enquanto ameaça, o telefonema de Miguel Relvas para o Público é no mínimo pífio.
O governante Relvas "iria dizer aos ministros que não voltassem a falar com o PÚBLICO e iria divulgar na internet que a autora da notícia vive com um homem de um partido da oposição". Quando muito é cena de garoto birrento.
Nos moldes descritos, dizer aos colegas de governo para não falarem com o jornal soa a queixinha. Não a um boicote informativo sério e preocupante: "Se vocês são meus amigos, não falam mais com o jornal mau."
Por outro lado, espalhar o nada picante facto de que a jornalista namora com um político da oposição é coisa de adolescente parvo. Imagina-se que a visada tenha tido vontade de lhe enfiar um par de tabefes.
O que Relvas fez é pressão, não se faz, é ilegítimo. Mostra escasso respeito pela liberdade de imprensa. Falta de lisura. Mas cai na categoria tempestade no copo de água.
Não faz cair ministros. Pelo menos em Portugal. Ao contrário do que pode acontecer com as secretas que vão sendo investigadas.
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