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Uma das coisas que o fim do Antigo Regime trouxe foi a igualdade perante a lei.
Em teoria, desapareceram privilégios de classe, de casta. Os poderosos, os mais ricos, nobreza e clero, passaram a ser julgados pelos mesmos tribunais, pelas mesmas leis, a sofrer as mesmas penas.
De ontem para hoje, Espanha e Itália, grandes países em dificuldade, já conseguiram o desbloqueio do pacto de crescimento e um envolvimento maior das estruturas da união europeia no seu financiamento.
Ao contrário da Grécia, Irlanda e Portugal têm uma capacidade para evitar a destruição económica e empobrecimento que os mais pequenos não têm tido. Embora estes se mantenham excessivamente altos, Mário Monti e Rajoy garantiram para os países que governam juros fora dos níveis de usura a que outros estão sujeitos.
Haver tratamento diferenciado dos vários países que integram a União Europeia em função da sua capacidade de forçar a barra, de subir a parada, é justificado por muitos com a real politik.
Estão errados. A questão é moral e de cidadania europeia. Ser forte com os fracos e débil com os fortes tem um nome: Cobardia. Trate-se de pessoas, trate-se de países.
E políticas que mantenham o status quo são cobardes, imorais e anti-democráticas. Quem defenda o contrário tem a cabeça formatada pelo longínquo século XVIII.
Há escassas semanas o aumento do IVA na restauração provocou o alarme de cafés e restaurantes.
A subida de 10 por cento do valor a entregar ao Estado, em grande parte dos casos sem repercussão nos preços cobrados aos clientes, faz mossa.
O aumento afecta milhares e milhares de pequenos estabelecimentos, muitos de economia familiar, muitos praticando uma economia de quase subsistência, com pequeno número de empregados, subitamente confrontados com a crescente falta de clientes.
São restaurantes, cafés, snack-bares, pastelarias. Um sector que alimenta e dinamiza realmente a economia nacional. Tirando nas bebidas, nos produtos de limpeza, recorre em larga escala aos pequenos distribuidores, mercados e produtores locais. Garantem muitos milhares de postos de trabalho, em regra permanentes. Não deslocalizam lucros para a Holanda. Pagam cá os impostos.
Em tempos de crise, os jantares fora são das primeiras coisas a cortar. Imagina-se que se passará o mesmo com os pequenos-almoços na rua. Basta andar nos transportes públicos com olhos de ver para confirmar o aumento do número de passageiros transportando sacos térmicos, com refeições trazidas de casa.
Cada café, cada restaurante, cada snack-bar fechado é uma carga para o erário público, para o contribuinte, para a segurança social. Destrói postos de trabalho no café, no distribuidor e no produtor que abastecia a casa, até nas centrais cervejeiras e nas cafeeiras. Desempregados que receberão subsídio de desemprego. Empresas que deixam de pagar IVA e IRC. Gente que deixa de contribuir para a Segurança Social e de pagar IRS.
Parece da mais elementar racionalidade financeira que ao menos se repusesse o IVA nos 13 por cento, como aliás foi recentemente sugerido à esquerda, pelo PCP, com chumbo da maioria. O que se pouparia em prestações de desemprego e o que se ganharia em produção para o PIB não compensaria o corte?
Pode argumentar-se que não sei o impacto financeiro que teria a mexida no IVA. É verdade. Mas, por outro lado, Passos Coelho e Vítor Gaspar também não.
A desculpa agora é a de que não há dinheiro e os últimos anos terão aumentado a quantidade de contratos a recibo verde.
O problema é que os acertos em Portugal são sempre para baixo e nunca para cima, excepto no que toca a rendas público-privadas e nomeações coloridas.
Não está mal, sendo o ministro do CDS-PP, partido campeão dos direitos das famílias. E depois há quem aplauda. Os que nada têm ficam demasiadas vezes felizes por ver descer os que ainda têm qualquer coisinha.
Queria ter escrito sobre a moção de censura apresentada pelo PCP, sobre as quebras de receitas públicas e aumentos do IVA, sobre a condenação de Ricardo Rodrigues e as negações do Relvas, sobre o apreço de Mário Soares por Carvalho da Silva e o alarme de socialistas como Vital Moreira, sobre um novo manifesto que aí anda para discutir a esquerda no 5 de Outubro, sobre a nomeação de José Luís Arnaut para a REN.
Mas ando sem pachorra.
Em texto de recomendação diz a chefia que o chefiado nunca levantou obstáculos à realização de qualquer trabalho e que ainda por cima é de trato fácil.
Acaso tivesse eu uma empresa de comunicação ou andasse necessitado de um relações públicas acho que contratava o rapaz.
Ouve-se dizer que Cavaco foi ao São João e espera-se o pior.
A reportagem começa no bairro das Fontainhas e adivinha-se a chacina martelante na presidencial cabeça.
Mário Soares andou por lá em tempos e não foi poupado às marteladas. Recebeu-as divertido.
Mas Cavaco não andou nas ruas. A acção nas Fontainhas decorria em paralelo.
O inquilino de Belém refugiou-se num barco do Douro e apreciou o fogo de artifício à distância.
Agora que O Astro regressa à televisão, sabe-se que Maya não previu o que tinha de fazer para ganhar o concurso que lhe permitiria continuar a arrasar o sossego de Manta Rota, tal como Gaspar não previu coisa nenhuma das que nos arrasam o sossego a todos.
A direita sul-americana tem uma tradição e proveito golpistas - consentidos e até fomentados por democracias do Norte - que faz olhar para o ultra-rápido julgamento e destituição legal do presidente paraguaio com grande cautela.
Na prática, o que aconteceu nas Honduras cujo governo democraticamente eleito foi deposto por um golpe de estado em 2009? que dirão agora as diplomacias europeias e norte-americanas? Que se o eleito é de esquerda então não vale?
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