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(Filmado por Rogério Machado)
Na parte assistida, na Praça de Espanha, do concerto Que se Lixe a Tróica, Cavaco e o cardeal patriarca tiveram direito aos apupos mais altos.
Curioso, quando nem sequer têm um poder executivo.
O FMI é uma máquina de destruir países. A afirmação que há pouco tempo seria encarada pela maioria como um excesso de radicais, é assumida pela própria responsável máxima do fundo.
Christine Lagarde reconheceu há dias o falhanço em toda a linha do FMI. Erros de cálculo, efeitos secundários das medidas que propõe. Na altura não se escreveu nada. Para quê? Há muito tempo que se disse por aqui o que Christine Lagarde admitiu finalmente. Sobre a instituição, sobre as inevitabilidades defendidas pela maioria dos comentadores.
Quando já tudo se sabe há anos, mas quando tudo o que se sabe era ridicularizado pelo status quo, valerá a pena tirar desforço?
Ontem Jorge Sampaio, cujas boas intenções e humanismo ninguém negará, voltava ao projecto do Governo de Salvação Nacional, em entrevista na SIC Notícias. A medida, pedida por muitos em 2011, e agora recuperada, é uma coisa tecida entre os velhos partidos do arco do poder, deixando de lado CDU e BE.
Quem o pede ainda não percebeu nada. Nesse Governo, não entra um único dos partidos que na devida altura tenha contestado a tróica e suas medidas. Não entra nenhum dos que avisou para o que aí vinha. Nenhum dos que acertou na necesssidade de medidas que agora são já admitidas por quase todos, como a renegociação da dívida. Ou dos que há uma dezena de anos alertaram para os perigos da moeda única numa economia como a portuguesa e que, também por isso, foram mais uma vez marginalizados e hostilizados.
Nem sequer colhe o argumento de que CDU e BE recusaram receber a tróica quando ela entrou por ai a dentro. Nenhuma pessoa honesta acredita que CDU ou BE teriam demovido BCE, Comissão Europeia e FMI de aplicar a velha e tradicional receita que já se sabia iriam aplicar. Estava escrito nas estrelas mas só CDU e BE alertaram para as consequências catastróficas de em paralelo sanear as finanças públicas e pagar a dívida externa com juros agiotas.
Em Belém, Cavaco pode vir agora, pelo Facebook, acertar na necessidade de relaxar o cumprimento do défice público. Pode ter pedido, há que tempos, em Florença, a unidade dos Estados na resposta à crise. Mas o que é que fez, antes e depois, para ser consequente com essas afirmações? Veja-se, por exemplo, o discurso do 5 de Outubro.
Chegado ao poder, o PSD tratou de aplicar uma mézinha que há muito queria aplicar. No interior laranja, ninguém se lhe opôs de modo audível. A reacção interna só agora começou. Para quem tem acompanhado o percurso político de Mota Amaral, não surpreende que não tenha aplaudido a defesa do Governo durante a discussão recente das moções de censura. Não surpreenderá que chumbe o orçamento para 2013.
No CDS-PP adaptou-se o discurso, como se tem feito sempre. Ali não há convicções. Há populismo. E, se não ficarem no poder com o PSD, não desdenharão ficar com o PS. Estão no Ministério da Solidariedade onde a lógica é da aplicação de terror social. Não saberiam que seria assim? Felizmente, vai grassando o desconforto com os falhanços das previsões de Gaspar, que ainda se vê descrito, aqui e ali, como um técnico respeitável e conhecedor. Sairá expulso por indedente e má figura, quando nunca lhe deviam ter dado o direito de admissão.
O país está pior do que há um ano e seis meses. Daqui a um ano e seis meses estará ainda pior. Mas, no PS, em altura de emergência nacional, António José Seguro resolve discutir uma medida populista de redução do número de deputados. Parece mais interessado na burocrática perpetuação no poder dos partidos do pântano. Ensaia também uma certa união dos países do sul contra os países do norte, mas nada diz sobre arrasar os fundamentos suicidas da União Europeia.
Sem o BCE a financiar os Estados - como defendeu ontem a CGTP no final da marcha contra o desemprego, na concentração frente ao Parlamento, sem que a imprensa faça disso eco claro - e sem uma reconstrução europeia que deite fora os fundamentos destruidores do Tratado de Maastricht, não há esperança para Portugal nem para a Europa do Sul. Sem o fim e a nacionalização das parcerias público privadas e sem obrigar os bancos a investir no fomento, a economia portuguesa não recuperará.
Nos três partidos do tal governo de salvação nacional, ninguém admite tocar nisto. Ainda não perceberam que têm de deitar tudo fora. Mesmo que queiram que tudo fique na mesma.
(Foto: news.bbc.co.uk)
Desconhecem-se novos projectos jornalísticos em que os promotores não encham a boca com o crescimento do digital e do online.
É também esse o discurso quando se fala de reestruturações em projectos antigos, como agora no Público.
Estão profundamente enganados se julgam que o jornalismo se salva através do digital.
O digital não passa de um suporte, como é o papel. A Internet uma ferramenta como o foi a esferográfica, a máquina de escrever ou o é ainda o computador. São meios e não fins, ao contrário do que defendem os gurus para o futuro da informação.
Os jornais em papel têm perdido leitores para a Internet e o digital, é verdade. Mas, no essencial, não os têm perdido por qualquer fetiche dos leitores com o desmaterializado.
Têm-nos perdido por que a net dá mais notícias, mais depressa, com mais ângulos, com mais pluralismo, com mais rigor.
Bem podem o Público e os outros jornais converterem-se todos ao digital que não será por aí que compensarão os leitores perdidos. Para um jornal ser lido - quer seja online, quer seja impresso - precisa de competir com todos os outros que em simultâneo estão online, 24 horas por dia, em todo o mundo, com os canais de televisão noticiosos, com a rádio.
Ou seja, precisa de dar mais e melhor informação que os outros. Mais rapidamente, com mais pluralismo, com mais rigor. E como é que isto se obtém? Com tempo.
Estes jornalistas precisam de dedicar tempo a aprofundar coisas que outros deram pela rama, fazendo diferente, dando mais e dando outros pontos de vista. Só assim os leitores regressam, só assim deixam de navegar para outras paragens. E este resultado apenas se obtém se se der tempo aos jornalistas para fazerem o que têm para fazer, evacuando a urgência totalitária dos seus ombros
Como o tempo não cresce, não dá para mexer nas horas, o tempo para fazer informação mais competitiva no online só se conquista de uma maneira: empregando mais pessoas. Não há nenhuma outra solução.
Só mais pessoas, dedicadas a menos coisas durante a jornada de trabalho, conseguem aprofundar melhor os assuntos, responder mais rapidamente às solicitações noticiosas que continuamente bombardeiam uma redacção. Só uma eficiente capacidade de resposta dá mais audiência a uma publicação.
Ora, o Público vai correr com 48 trabalhadores. Os que ficam, diz a direcção editorial, contribuirão "para continuar a fortalecer a [...] aposta no digital". Afirma também querer continuar a fazer um "jornalismo de qualidade e independente", mas dá menos tempo aos jornalistas e outros profissionais que ficarem. É uma equação irresolúvel.
(Foto: activa.sapo.pt)
Quando ouvir um pivô como Ana Lourenço chamar "líricas" a propostas de esquerda (vindas das áreas da CDU e do BE) enquanto modera um debate televisivo, tenha o caro leitor em conta que se trata sempre da expressão de uma opinião pessoal. E, ainda por cima, como se sabe, as propostas da direita estão a dar um resultadão, não é?
O mesmo, exactamente, quando um general afirma, no Prós & Contras - na linha ideológica aliás de todos os convidados para debater, à mesa, as manifestações - que só são possíveis soluções governativas PSD e PS chamando "ingénuos" aos que não pensam como ele.
Trata-se de pontos de vista absolutamente pessoais como a maioria dos que se expressam nas televisões.
Não julgue que Ana Lourenço escapa aquilo que são as suas convicções pessoais. Se tem o dever da isenção e do rigor, isso não impede que como qualquer ser humano transfira para as análises aquilo que é a sua carga subjectiva. Ainda por cima, o convívio com o poder nunca foi de molde a beneficiar a compreensão de dificuldades ou a empatia com os mais desfavorecidos.
Quando ouvimos esta gente, devemos ter sempre em conta que são tão estúpidos e abalizados como qualquer um de nós.
(Foto: O Juramento do jogo da pena, Jacques-Louis David, em http://associationclaudesimon.org)
Ao violar a promessa eleitoral de não ratificar o Tratado Orçamental Europeu - que entre outras coisas impõe limite de três por cento ao défice de países da UE - François Hollande não trai apenas os seus.
Bem pode ir ao encontro da boa gente responsável* que vê nesse valor mágico o fim último da história europeia, mas destrói a esperança de milhões. Erigido em salvador da esquerda social-democrata do continente, mostra como os socialistas e trabalhistas continuam amarrados às correntes da terceira via e como na prática se aproximam dos conservadores.
Angela Merkl bem pode sorrir ao ver cair-lhe o inesperado Hollande no abraço de ursa com que afunda a União Europeia. Só que num momento, em que a crise se adensa, galga fronteiras, não encontrar alternativas nos projectos políticos dominantes terá consequências.
Já desde há uns tempos, que os manifestantes ouvidos pelas televisões, um pouco por todo o lado, andam estranhamente articulados em termos de discurso político e económico. É uma multidão informada e crescentemente politizada, disposta a avaliar promessas eleitorais, o seu não cumprimento e impactos.
Será preciso regressar aos ensinamentos de 1789, para perceber o que trazem no bojo essas multidões que por aí andam?
*No Público de dia 25 de Setembro, atacava-se, em editorial, os verdes por contestarem Hollande e por se oporem ao Tratado Orçamental e não perceberem os sinais do tempo. É o mesmo Público que desde há anos vem estabelecendo profético o caminho europeu trilhado como inevitável, o único verdadeiro e justo. Como se comprova, esse futuro incondicional redundou num presente muitíssimo mais que imperfeito.
(Foto: asbeiras.pt)
Errada mas não tonta, disse Augusto Mateus referindo-se à estratégia de gestão tomada pelo Governo.
Segundo o antigo ministro da Economia de Guteres, as medidas visam a construção de um novo começo e falham na necessidade de tempo para o seu efeito se fazer sentir. Tempo que nunca existe pois a sociedade entra em crise. E pelos vistos colapsa em várias vertentes: na economia, na quebra de confiança, na esperança.
Ora, em princípio, um modelo que faz isso tudo é não só errado, mas também tonto, imbecil, alarve, parva, canalha, criminoso.
Mas imagino que isso deva ser um defeito meu. Fiz engenharia, e mal, e o homem foi governante, é académico, comentador televisivo. Um sábio, em resumo.
Eu também posso projectar um barco em papel que flutue, que navegue, seja estável. Se quiser ir de Peniche às Berlengas com pessoas dentro já duvido que funcione. Ia colapsar e o pessoal morria todo afogado.
Num tempo em que a primazia é dada ao Homo economicus, deve surgir como estranha a relação que a engenharia e a ciência estabelecem entre a matemática, a física e o serviço à humanidade.
Grande parte dos modelos de engenharia têm um número de variáveis finito e em grande parte bem determinado. Os factores impoderáveis e os negligenciáveis acabam por ser excluídos das equações. Por isso mesmo aplicam-se a estas fórmulas vários coeficientes de segurança, termos que servem para proteger a vida e a saúde do ser humano. Nenhum engenheiro projecta um protótipo seja do que for sem pensar na sua utilização humana.
Já na Economia, um saber social, em que qualquer fenómeno depende se grandezas estocásticas e infinitas, a maioria dos sábios esquece-se do factor humano. Quer como variável dos modelos, quer como utilizados final dos seus modelos.
(Foto: blogue A Saúde da Alma)
Espantosas as declarações de José da Cruz Policarpo condenando as manifestações contra o Governo e a Tróica.
Num tempo em que a cidade se enche de novos pobres e de novos nus, o cardeal patriarca encontra nas manifestações que se têm sucedido o exemplo da corrosão da "harmonia democrática". Ao falar em Fátima, antes de se iniciarem as peregrinações do 13 de Outubro, o dia do milagre do Sol, o cardeal patriarca de Lisboa envergou as vestes do príncipe, de alguém cujo reino pertence a este mundo.
Não será o único motivo de preocupação da Igreja, mas, há dias, Marques Mendes defendeu que o tempo de emissão televisivo das confissões religiosas pode e deve ser mantido. Ontem, José Policarpo juntou na mesma conferência de imprensa a condenação das manifestações ao desejo de cumprimento da Concordata. Os mais cínicos poderão achar que a Igreja Católica receia ver transformada em cordeiro sacrificial o tempo de emissão que o Estado desde sempre lhe concedeu nos canais públicos.
O facto de se perguntar a um conselheiro do Governo se acha que algo pode e deve ser mantido, revela ao menos o receio da resposta negativa. os mais cínicos poderão questionar daqui a pouquissímo tempo: a presença na televisão (e a isenção de pagamento de IMI) valeu mesmo os 30 dinheiros?
O conselheiro de Estado Bagão Félix afirma taxativamente que nesta altura é difícil arranjar quem queira ir para o Governo.
Dito assim não soa a opinião achista ou impressionista. Dá a impressão que andaram a perguntar.
E ainda esta semana Victor Gonçalves, na RTP 1, entrevistou um que anda mortinho para lá ir parar.
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