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Subir Lall falhou sem explicações a reunião que tinha marcada com o Conselho de Concertação Social (CCS). No seu lugar mandou uns senhores que ninguém sabia quem eram, mas que ouviram e tomaram nota.
Da próxima, o chefe de missão do Fundo Monetário Internacional corre o risco de que - ao menos uma das centrais sindicais - mande um dos seus administrativos à reunião. Lall bem se pode justificar com uma falha de comunicação. Quem acredita que tanta gente, e de interesses tão divergentes, tenha ido ao engano a uma reunião do CCS que afinal era outra coisa?
Todavia, nem tudo foi tempo perdido em mais uma actuação do FMI em Portugal. Enquanto por aí andava, Subir Lall aproveitou para deixar recados acerca da política económica e social do governo. Com um sentido de oportunidade curioso, antecipava o tom e conteúdo das declarações de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão. E vincava a vontade sancionatória da comissão bruxelense.
Wolfgang Schäuble habituou-nos à irresponsabilidade das declarações que mantêm, de modo propositado, Portugal sob o foco crítico dos investidores e das agências de rating. Cultiva a chantagem e a sabotagem da nossa economia, sempre apoiado em gauleiters prestáveis.
Alguma coisa mudou nesta relação? Apenas o modo como o Governo e os seus deputados respondem ao alemão. Com um sentido de Estado e de soberania a que tinhamos deixado de estar habituados. António Costa e os seus saem-se muito melhor do que me prometiam.
John Kerry, secretário de Estado norte-americano estará longe de ser um radical. Mas às vezes parece:
"É absolutamente fulcral que nos mantenhamos focados para que ao longo deste período de transição ninguém perca a cabeça, adopte atitudes arrogantes ou comece a promover abordagens menos reflectidas ou vingativas".
As declarações foram feitas depois de uma reunião com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e com a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini.
Bruxelas quer impor sanções a Portugal e Espanha por causa do falhanço do seu próprio plano de ajustamento - um regime de empobrecimento e de tranferência de riqueza que é soberana, económica e socialmente criminoso.
Logo no seguimento do Brexit, ameaçaram o Reino Unido com retaliações e deixaram claro ser eles os donos da Europa. De modo cobarde, esperaram pelas eleições em Espanha - não fossem prejudicar o PP, partido que lhes fez os fretes.
Oito anos de crise espalhada e ainda não perceberam nada da Europa que criaram nem das consequências da hostilidade, humilhações e ressentimentos que teimam em cultivar. Se têm mesmo vontade de manter o projecto de pé, não se nota muito.
O referendo proposto ontem por Catarina Martins na convenção do Bloco de Esquerda, pode não ter cobertura constitucional, mas possivelmente já antecipava a notícia desta segunda-feira. Alguma coisa terá de fazer-se. E se a coisa não é reformável por dentro, bem se pode criar algo de limpo e asseado ao lado.
Pelo menos no discurso, Paulo Rangel chegou a ultrapassar pela esquerda um candidato do PS ao parlamento europeu. E venceu Vital Moreira. Depois disso lá acertou agulhas e nos últimos anos tornou-se um político desinteressante e demagogo.
Anteontem, na TVI24, justificava a bondade da reunião conjunta dos ministros dos negócios seis países fundadores da CEE. Que têm todo o direito de se encontrar e discutir o Brexit entre eles, dizia.
Para justificar a atitude dos seis países europeus que se acham mais europeus que os outros países europeus, Rangel até se lembrou de sugerir uns encontros portugueses com os estados atlantistas da União Europeia.
Embora o modelo sugerido pelo euro-deputaddo do PSD fosse mais o dos contactos diplomáticos que os de um encontro clubístico, serviu-lhe a coisa para justificar a exclusivista reunião dos seis auto-denominados donos da Europa.
Perante a crise provocada pelo Brexit, meia dúzia de países e os seus capatazes embarcam na retaliação e no acentuar das divisões internas de um corpo mais que doente. Fuga para a frente, pela enésima vez. Perante exigências de que o Reino Unido saia depressa, que outras conclusões tirararam os ministros dos negócios estrangeiros dos seis (Alemanha, França, Itália e Benelux)?
"Não deixarão ninguém tirar-nos a nossa Europa", disse o ministro dos negócios estrangeiros alemão.
O uso do possessivo não os recomenda a ninguém. Mas há quem alinhe cegamente. Paulo Rangel junta à estridência, a incapacidade para entender os problemas da Europa. A indiferença (e até o apreço) à humilhação dos povos e o cultivar instrumental do ajojar da soberania - os fins justificam os meios - fá-lo justificar o injustificável. É dessa massa que o grosso dos poíticos europeus é feita. Não perceberam nada, nem vão perceber.
Como, no mesmo programa da TVI 24, o comunista João Oliveira respondia a Paulo Rangel, "é verdade que os seis países têm o direito de fazer as reuniões que quiserem. Mas os outros também têm o direito de tirar as suas ilações".
E, já agora, alguém acredita que perante tão evidente cerrar fileiras, os outros estados e povos europeus não começarão a confirmar algumas ideias disruptivas acerca dos interesses, desígnios e vontades destes voluntariososos directórios e dos seus defensores?
As sondagens condicionam votos. Desvirtuam por isso a democracia e nem deviam ser publicadas.
Mas em todos os lugares do mundo há uns chicos-espertos que arranjam maneira de contornar a legislação.
O juízo é cena que não tem propriamente assistido aos líderes europeus.
Do ponto de vista dos defensores da União Europeia, que sentido fará realizar amanhã uma já por si estranha reunião dos ministros dos negócios estrangeiros dos seis países fundadores da CEE?
Depois de aprovado o Brexit, faz mesmo sentido evidenciar um directório de países que se consideram mais europeus que os restantes. Uma iniciativa que, está-se mesmo a ver, tem tudo para fazer outros povos sentirem-se desejados no projecto.
O Inimigo Público, que nunca teve gracinha nenhuma -- como, apesar dos encómios, o Contra Informação também não tinha --, lá faz uma piadola sobre a ida de David Dinis para director do Público. Só que falha a sátira e tem um espírito enganador. Pode parecer autocrítica, mas mascara a realidade.
Diz o suplemento do Público que
Além da pouca piada, a graçola (num formato recorrente na publicação) tem outros dois defeitos.
Primeiro, o relevante não é que David Dinis seja de Direita. Tem até um certo je ne sais quoi dar a ideia de que eventuais críticas à escolha da Sonae decorrem da legítima opção pessoal e ideológica do novo director. O problema relevante é David Dinis ter sido assessor de um primeiro-ministro, Durão Barroso, e de depois disso nunca mais ter deixado de ocupar cargos de chefia e de direcção nos jornais portugueses. É um trânsito entre a política e o jornalismo que nem se aflora - que somos todos boa gente, tirando os excluídos das redacções.
Depois, fazer de conta, mesmo a brincar, que a coisa ficaria balançada com a entrega de outra direcção a alguém de Esquerda alimenta uma visão do jornalismo enquanto charco sem integridade.
Valerá a pena a piada se nem ao menos faz rir?
Não é Cristiano Ronaldo que tem de ter uma postura cívica inatacável. Isso é só desejável.
Já o jornalismo tem essa obrigação deontológica.
Cristiano Ronaldo fez bem o que faria todo e qualquer filho de boa gente.
(Já agora, leia-se Ferreira Fernandes e Fernanda Câncio)
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