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Noticiário sem notícia

por Tempos Modernos, em 24.10.16

Não se entende muito bem o sentido exacto de notícias a dar conta de que a "[d]ívida portuguesa volta a aumentar".

 

E então, que novidade nisso? A dívida é impagável e, enquanto não for reestruturada, não irá parar de crescer, como é público e notório há pelo menos cinco anos. A coisa não nasceu agora e tem raizes num modelo de crescimento que Cavaco já cultivava.

 

Só os jornalistas de economia e as suas fontes privilegiadas é que ainda não deram por isso.

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publicado às 14:54

Uma comédia lisboeta

por Tempos Modernos, em 22.10.16

Santana Lopes prometeu resolver a situação do Parque Mayer em menos de um ano.

 

Chegado à câmara de Lisboa, rodeado de garotos e de santanetes, apagou planos anteriores de recuperação do Parque e contratou novo arquitecto, o caríssimo Frank Ghery.

 

Entretanto, encerrou a Feira Popular e embrulhou os dois assuntos num pacote que envolveu a Bragaparques. Cerca de 14 anos depois, segue devoluto o espaço no centro de Lisboa onde em tempos funcionou a feira. E segue alvo de dissensos.

 

Década e meia depois de ter chegado à cidade, ainda estão por resolver os problemas que Santana Lopes arranjou. E ainda há quem pense periodicamente no seu regresso à capital.

 

 

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publicado às 18:31

Bem pior a emenda que o soneto

por Tempos Modernos, em 21.10.16

Ouvido acerca da fuga de Pedro Dias, o polícia vinca a repulsa pelo termo avistamentos. E corrige para contactos visuais.

 

Entrou-lhes na alma aquele linguajar bizarro vagamente semelhante ao português que usam quando são ouvidos pela comunicação social.

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publicado às 21:26

Mota Soares ao estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas

 

Cortou o abono de família

Reduziu o subsídio de desemprego 

A indemnização por despedimento

Impôs dias de trabalho gratuitos tirados das férias e dos feriados

E mais cinco horas semanais gratuitas no Estado

Eliminou o descanso compensatório por trabalho suplementar

Aprovou os cortes nas pensões nominais

 

Mota Soares ao estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas

 

Não hesitou em cortar pensões

Aprovou orçamentos inconstitucionais pela sua crueldade contra os mais idosos.

 

Em quatro anos no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas

Mota Soares só aumentou

 

Pensões sociais e rurais

E as que tinham curtas carreiras contributivas (até 15 anos no regime geral, até 18 anos na CGA)

Deu-lhes entre 12,01 e 15,14 euros

Mas esqueceu-se dos que contribuíram mais de 15 anos no regime geral e que têm pensões abaixo dos 275 euros

 

Nesses quatro anos que Mota Soares passou no Governo com os colegas Assunção Cristas e Paulo Portas

 

Pagou aqueles poucos aumentos

Tirando aos mais pobres

Cortando no Complemento Solidário para Idosos

E noutras pensões

 

Mota Soares queria voltar a estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas

 

E até prometia tirar mais 2400 milhões de euros às pensões até 2019

 

Agora, Mota Soares colega governo e de partido de Assunção Cristas e Paulo Portas

 

Acordou para a vez dos doentes, os novos ciganos e malandros do RSI

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publicado às 18:53

Falta de espelhos

por Tempos Modernos, em 20.10.16

Na semana passada, o dia-a-dia do comentário desportivo nacional incendiou-se na sequência de declarações de André Ventura, comentador benfiquista da CM TV acerca de Assembleia Geral do Sporting. Não foram dias gloriosos para gente civilizada.

 

Rui Santos na SIC Notícias queixou-se da qualidade dos discursos dos comentadores desportivos. Uma coisa que também interessa a algumas televisões, acusou. É bonito, mas não deve ter espelho em casa.

 

O canal de Pinto Balsemão foi o criador do modelo com o insuportável Donos da Bola. Se outros canais, oferecem José Eduardo, Manuel Serrão, André Ventura e Pedro Guerra - modelos a evitar cuidadosamente -, já a SIC Notícias tem Rui Gomes da Silva e principalmente Inácio – o mais fosforescente dos comentadores desportivos nacionais, num painel a que pertence o próprio Rui Santos.

 

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publicado às 14:56

Consequências do mal pagar

por Tempos Modernos, em 19.10.16

A tradução tornou-se rotineiramente mal paga. E se os clientes pagam mal, é natural que para despachar se evitem grandes preocupações com o rigor. Quanto mais se traduzir, mais se recebe - embora sempre mal. Depois dá bronca. Sai a obra uma coisa achavascada.

 

Há dias, num canal televisivo, em programa sobre o Código Hays, o código de censura dos filmes norte-americanos que vigorou em força entre as décadas de 1930 e 1950, falava-se  do modo como Hollywood edulcorava tudo aquilo em que tocava. Exemplo, o filme Sete Noivas para Sete Irmãos, musical clássico, trazido dos palcos, que pegava no tema do “rapto das mulheres da tribo dos Sabines”.

 

Ora, trata-se obviamente da tradução para um misto de português e de inglês de episódio da história de Roma conhecido em Portugal como o Rapto das Sabinas. Aquilo que é hoje Portugal tem um convívio milenar com a cultura latina. Não deve haver história clássica que não tenha uma designação em português escorreito. Bastaria um módico de reflexão acerca da língua para que lhes ocorresse haver um equivalente português que evitasse uma directa tradução do inglês original do programa. Passa-se o mesmo com dezenas de topónimos internacionais, de África ao Extremo Oriente, de que a imprensa fala diariamente. Dá impressão que os portugueses não passaram por lá, grafando nomes portugueses daqueles lugares.

 

Ontem, o canal voltava à asneira. Falava de Maurice Dupin, “pai do famoso romacista Georges Sand”. Talvez não seja assim tão famoso. Afinal, não ocorreu a quem traduziu e a quem fez a revisão que George Sand era uma mulher. De qualquer modo, também anda aí uma tradução de um livro do historiador Peter Burke, acerca do renascimento, onde se referem à igualmente senhora George Eliot, como escritor. Que não se dê por isso entre gente que edita livros ainda se torna mais curioso.

 

 

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publicado às 15:21

 

 

Desolation Row

 

They're selling postcards of the hanging, they're painting the passports brown

The beauty parlor is filled with sailors, the circus is in town

Here comes the blind commissioner, they've got him in a trance

One hand is tied to the tight-rope walker, the other is in his pants

And the riot squad they're restless, they need somewhere to go

As Lady and I look out tonight, from Desolation Row

 

Cinderella, she seems so easy, "It takes one to know one, " she smiles

And puts her hands in her back pockets Bette Davis style

And in comes Romeo, he's moaning. "You Belong to Me I Believe"

And someone says, "You're in the wrong place, my friend, you'd better leave"

And the only sound that's left after the ambulances go

Is Cinderella sweeping up on Desolation Row

 

Now the moon is almost hidden, the stars are beginning to hide

The fortune telling lady has even taken all her things inside

All except for Cain and Abel and the hunchback of Notre Dame

Everybody is making love or else expecting rain

And the Good Samaritan, he's dressing, he's getting ready for the show

He's going to the carnival tonight on Desolation Row

 

Ophelia, she's 'neath the window for her I feel so afraid

On her twenty-second birthday she already is an old maid

To her, death is quite romantic she wears an iron vest

Her profession's her religion, her sin is her lifelessness

And though her eyes are fixed upon Noah's great rainbow

She spends her time peeking into Desolation Row

 

Einstein, disguised as Robin Hood with his memories in a trunk

Passed this way an hour ago with his friend, a jealous monk

Now he looked so immaculately frightful as he bummed a cigarette

And he when off sniffing drainpipes and reciting the alphabet

You would not think to look at him, but he was famous long ago

For playing the electric violin on Desolation Row

 

Dr. Filth, he keeps his world inside of a leather cup

But all his sexless patients, they're trying to blow it up

Now his nurse, some local loser, she's in charge of the cyanide hole

And she also keeps the cards that read, "Have Mercy on His Soul"

They all play on the penny whistles, you can hear them blow

If you lean your head out far enough from Desolation Row

 

Across the street they've nailed the curtains, they're getting ready for the feast

The Phantom of the Opera in a perfect image of a priest

They are spoon feeding Casanova to get him to feel more assured

Then they'll kill him with self-confidence after poisoning him with words

And the Phantom's shouting to skinny girls, "Get outta here if you don't know"

Casanova is just being punished for going to Desolation Row"

 

At midnight all the agents and the superhuman crew

Come out and round up everyone that knows more than they do

Then they bring them to the factory where the heart-attack machine

Is strapped across their shoulders and then the kerosene

Is brought down from the castles by insurance men who go

Check to see that nobody is escaping to Desolation Row

 

Praise be to Nero's Neptune, the Titanic sails at dawn

Everybody's shouting, "Which side are you on?!"

And Ezra Pound and T.S. Eliot fighting in the captain's tower

While calypso singers laugh at them and fishermen hold flowers

Between the windows of the sea where lovely mermaids flow

And nobody has to think too much about Desolation Row

 

Yes, I received your letter yesterday, about the time the doorknob broke

When you asked me how I was doing, was that some kind of joke

All these people that you mention, yes, I know them, they're quite lame

I had to rearrange their faces and give them all another name

Right now, I can't read too good, don't send me no more letters no

Not unless you mail them from Desolation Row

 

Bob Dylan, 1965

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publicado às 22:12

 

 

L'amour

 

Quand y'a la mer et puis les chevaux

Qui font des tours comme au ciné

Mais que dans tes bras c'est bien plus beau

Quand y'a la mer et puis les chevaux

 

Quand la raison n'a plus raison

Et que nos yeux jouent à se renverser

Et qu'on ne sait plus qui est le patron

Quand la raison n'a plus raison

 

Quand on raterait la fin du monde

Et qu'on vendrait l'éternité

Pour cette éternelle seconde

Quand on raterait la fin du monde

 

Quand le diable nous voit pâlir

Quand y'a plus moyen de dessiner

La fleur d'amour qui va s'ouvrir

 

Quand la machine a démarré

Quand on ne sait plus bien où l'on est

Et qu'on attend ce qui va se passer

 

... je t'aime!

 

Leo Ferré, 1956

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publicado às 18:41

 

 

Redondo Vocábulo

 

Era um redondo vocábulo

Uma soma agreste

Revelavam-se ondas

Em maninhos dedos

Polpas seus cabelos

Resíduos de lar,

Pelos degraus de Laura

A tinta caía

No móvel vazio,

Congregando farpas

Chamando o telefone

Matando baratas

A fúria crescia

Clamando vingança,

Nos degraus de Laura

No quarto das danças

Na rua os meninos

Brincando e Laura

Na sala de espera

Inda o ar educa

 

José Afonso, 1972

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publicado às 17:05

 

Le Moribond

 

Adieu l'Émile je t'aimais bien

Adieu l'Émile je t'aimais bien tu sais

On a chanté les mêmes vins

On a chanté les mêmes filles

On a chanté les mêmes chagrins

Adieu l'Émile je vais mourir

C'est dur de mourir au printemps tu sais

Mais je pars aux fleurs la paix dans l'âme

Car vu que tu es bon comme du pain blanc

Je sais que tu prendras soin de ma femme

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Je veux qu'on s'amuse comme des fous

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Quand c'est qu'on me mettra dans le trou

Adieu Curé je t'aimais bien

Adieu Curé je t'aimais bien tu sais

On n'était pas du même bord

On n'était pas du même chemin

Mais on cherchait le même port

Adieu Curé je vais mourir

C'est dur de mourir au printemps tu sais

Mais je pars aux fleurs la paix dans l'âme

Car vu que tu étais son confident

Je sais que tu prendras soin de ma femme

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Je veux qu'on s'amuse comme des fous

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Quand c'est qu'on me mettra dans le trou

Adieu l'Antoine je t'aimais pas bien

Adieu l'Antoine je t'aimais pas bien tu sais

J'en crève de crever aujourd'hui

Alors que toi tu es bien vivant

Et même plus solide que l'ennui

Adieu l'Antoine je vais mourir

C'est dur de mourir au printemps tu sais

Mais je pars aux fleurs la paix dans l'âme

Car vu que tu étais son amant

Je sais que tu prendras soin de ma femme

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Je veux qu'on s'amuse comme des fous

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Quand c'est qu'on me mettra dans le trou

Adieu ma femme je t'aimais bien

Adieu ma femme je t'aimais bien tu sais

Mais je prends le train pour le Bon Dieu

Je prends le train qui est avant le tien

Mais on prend tous le train qu'on peut

Adieu ma femme je vais mourir

C'est dur de mourir au printemps tu sais

Mais je pars aux fleurs les yeux fermés ma femme

Car vu que je les ai fermés souvent

Je sais que tu prendras soin de mon âme

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Je veux qu'on s'amuse comme des fous

Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse

Quand c'est qu'on me mettra dans le trou

 

Jacques Brel, 1961

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publicado às 15:54

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