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(Foto: Blogue Barcos + Navios)
Nos meus primeiros dias de tardio estágio jornalístico, apanhei o editor de economia do jornal, fã de Bagão Félix e de Manuela Ferreira Leite, gargalhando com as declarações teledifundidas de alguém que dizia gostar de autores progressistas e vincava a necessidade de o país ter um sector produtivo. Passe a arrogância (a minha), já não era mau. Finalmente um jornalista que percebia o conteúdo não neutral do que se estava a dizer.
Eram os tempos do pós-entrada no Euro, do barrosista Discurso da Tanga, e a histeria com o défice andava já na ordem do dia. Ao longo dos dez anos seguintes, tornou-se mais clara a chacina mediática: Portugal gastava demasiado. A segurança social era insustentável, o plafonamento era uma urgência, os cortes na despesa indadiáveis. Nas televisões, jornalistas bebiam o primeiro café da manhã já com os jornais à frente. O meu entre os preferidos.
Mas seria mesmo assim? Quem conhecesse o país para além do bacalhau com natas e do porco com ameixas dos jantares partidários, da autoestrada para o Algarve, teria talvez uma opinião diferente. A vida não era assim tão fácil, as oportunidades tão risonhas, a educação e a saúde tão dignas e acessíveis quanto juravam as hárpias.
Nesse tempo todo, jornais e televisões nunca explicaram que o défice público é uma medida percentual do Produto Interno Bruto. Assim, se a riqueza produzida pelo país subisse, o défice baixaria sem ser necessário cortar nas despesas com serviços público meramente sofríveis. O euro era uma armadilha, como muitos anunciaram atempadamente.
Foi aqui que Portugal falhou estrondosamente. Na batalha da produção de que o meu editor se ria, no seguidismo de receitas mil vezes falhadas. Valha a verdade que é um tipo simpático. Mas eu não.
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