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Repetido e em certa medida compreensível, este tipo de opinião acabará trucidado pelo espírito do tempo.
A História (arte que os economistas deixaram de aprender) é demasiado rica em exemplos. Não vale segui-los como se fossem um modelo determinista, mas não há nada que enganar neste ar que se respira.
Garantir a paz e a ordem social foi apanágio dos reis durante todo o Antigo Regime. O bom rei, o rei bom, fazia justiça. Geria e harmonizava interesses. Nenhuma outra virtude e capacidade foi mais inerente à condição real.
Mas esse estado de coisas terminou com a revolução francesa. Os historiadores datam dessa época o surgimento de um novo tipo de multidão: a multidão politizada, uma multidão que deixou de pedir apenas pão, que deixou de estar só preocupada com os custos dos cereais.
Os mais atentos repararão que a multidão que aí anda agora é nitidamente uma multidão politizada. E não é apenas nas manifestações, onde esse grau de politização seria expectavelmente mais audível. Ouvidas na rua, as pessoas têm explicações consistentes para as dificuldades. Têm propostas alternativas. Deixaram o "eles lá sabem o que andam a fazer".
Exemplos? Nas últimas greves do Metro de Lisboa e da CP, equilibraram-se os pontos de vista expressados nos directos televisivos. Se antes não faltavam as queixas contra o transtorno, agora são bem mais os que se mostram compreensivos e até solidários com os trabalhadores em greve.
Se ontem, Borges achava ser uma sorte que os portugueses tivessem Gaspar como ministro, bastaria ler os comentários online para perceber que mais valia ter estado calado. Quase ninguém está já disposto a reconhecer o génio de um ou de outro. Pior, pelo tom nota-se como olham para Borges como um pária, uma espécie de bobo da corte etica e intelectualmente desqualificado.
A única pergunta racional começa a ser: Quando?
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