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Se há dias decisivos na minha vida, o 24 de Novembro de 1993 foi um deles. Tratei de problemas pessoais no dia da manifestação contra o aumento das propinas em que a polícia carregou sobre os estudantes, em frente à Assembleia da República.
Cavaco era o primeiro-ministro e desde então com a argumentação demagógica de que os estudantes gastavam mais numa noitada do que em propinas convenceu-se a população de que a subida era justa. O tempo veio provar que o PCP tinha razão quando disse que a coisa ia subir muito. O PSR e a UDP também.
Os tempos da democratização do ensino superior e da qualificação terminaram entretanto. Hoje, os cursos de 1º ciclo são desvalorizados, os de 2º ciclo – os famosos mestrados que agora toda a gente faz – são em muitos casos pagos a preço real e as propinas das licenciaturas já batem nos 1000 euros, mais do que um salário médio português.
Cavaco aproveitou os fundos da Comunidade Económica Europeia para destruir os sectores produtivos nacionais e manter-se no poder. Foram os tempos do bom aluno da CEE em que Cavaco ganhou eleições em tempo de vacas gordas. Em Portugal construíram-se muitas estradas. O país mudou muito, em muitos casos para melhor. Mas era complicado com as quantidades de dinheiro que passaram a entrar que o salto não fosse visível. Qualquer primeiro-ministro teria dado nas vistas.
Ao rei D. Manuel I chamou-se O Venturoso, por ter herdado a preparação dos Descobrimentos feita pelo seu primo e antecessor D. João II. Cavaco soube pôr-se a jeito e colheu a entrada na CEE que Mário Soares, Medeiros Ferreira e outros tinham preparado. Os que vieram depois dele continuaram o modelo de desenvolvimento proposto pelo economista e apostado no um país sem indústria, sem agricultura, sem pescas. Um país dependente da produção estrangeira para se sustentar.
No seu primeiro mandato como Presidente da República, Cavaco voltou a mostrar o que vale. Num país com jornalismo a sério, os canais televisivos e os jornais tinham-lhe largado repórteres às canelas por causa do casos das escutas. No Diário de Notícias, publicou-se a história e revelaram-se fontes de outros jornalistas.
Nuno Saraiva, um profissional honesto e sério, foi um dos condenados pela Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Nem lhe permitiram recorrer do caso. Admito opiniões contrárias mas a coisa tinha todos os contornos para ser um daqueles casos em que a violação da confidencialidade das fontes era admissível.
Por bons motivos, Bernardo Ferrão, da SIC, andou semanas colado a Sócrates sempre a fazer-lhe as mesmas perguntas. Com Cavaco, ninguém levantou questões. Não foi a Wikileaks que revelou que o PR considera os jornalistas portugueses suaves?
Hoje, Cavaco tomou posse para o segundo mandato como Presidente da República. Fez o elogio dos jovens e afirmou que está na mão deles mudar as coisas – isto na véspera da Manifestação da Geração à Rasca onde também estarei.
Nestas ocasiões lembro-me sempre da carga policial contra os estudantes no dia 24 de Novembro de 1993. O relato da conversa com S. no jardim-sul do Técnico fica para outra ocasião.
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