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Passos Coelho devia ter tido o bom senso de perceber o mau negócio feito com o cabeça de lista por Lisboa. Ter tido a coragem de voltar com a palavra dada atrás. O primeiro compromisso dele é com os eleitores e não com os candidatos a deputados. De qualquer forma, o chumbo a Nobre teve a vantagem - tão por baixo andam os níveis de esperança - de revelar a existência de um módico de juízo nas parlamentares cabeças.
Já Nobre devia acompanhar com quem o chamasse da excessiva conta em que se tem, muito embora se duvide que haja quem o demova. Mostrar-se-ia de outra cepa se tivesse tido a generosidade de libertar o primeiro-ministro indigitado da palavra dada.
O voluntarismo, o ódio aos políticos e a inconsistência política não recomendavam o médico para dirigir a Assembleia da República. Gerir os trabalhos do mais importante órgão de uma democracia representativa não é exactamente o mesmo que enfrentar as familiares assembleias gerais da Assistência Médica Internacional.
No entanto, recusado Nobre pelas melhores razões, o que fará curso na opinião pública será a versão de café: o novo (e possivelmente efémero) deputado laranja só foi recusado por ser o único capaz de enfrentar o sistema.
À demagogia, o Parlamento devia contrapor trabalho sério mas tudo sugere que ainda não será nesta legislatura que uma boa parte dos deputados justificará os votos que os elegeram. De qualquer forma, isso nunca foi assunto que os presidentes da Assembleia pudessem resolver.
No cômputo final, independentemente de quem vier a ser eleito, fica uma certeza. O que se perde em chavascal e potencial humorístico vai ganhar-se em correcção e rigor processuais. Uma má notícia para os comediantes, mas uma boa notícia para o país.
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