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Eu sou aquilo que se chama uma pessoa bem intencionada.
Ora, do meu ponto de vista, Maria Luís Albuquerque tem sucessivamente alterado aquilo que diz a propósito do seu conhecimento das SWAPS. À medida que Teixeira dos Santos, Costa Pina e até o seu ex-chefe Vítor Gaspar dizem coisas, a já não tão recente nova ministra das Finanças matiza o que diz.
Até Marcelo Rebelo de Sousa, sempre pronto a defender os pontos de vista clubístico-partidários do PSD de ambos, confirmou que Maria Luís Albuquerque mentiu.
E, se mentiu, não tem, concluo eu, condições ou idoneidade para se manter no cargo. Deveria demitir-se ou ser demitida.
Pouco interessam as garantias que Passos Coelho deu a Cavaco Silva sobre Maria Luís Albuquerque.
A caução dada pelo primeiro-ministro em nada atenua outra informação que Cavaco tem sobre a ministra - Exactamente a mesma que o comum dos mortais tem sobre ela: a sucessora de Gaspar mentiu.
Anteontem, na sequência de novos dados sobre os conhecimentos da ministra a propósito da existência de SWAPS, e de nova matização de afirmações anteriores, Cavaco voltou a abonar a manutenção da governante.
De acordo com um aforismo muito querido ao inquilino de Belém duas pessoas bem intencionadas com a mesma informação chegam necessariamente à mesma solução.
Sendo eu bem intencionado, vide supra, e advogando a demissão de uma governante pouco séria com a verdade - até o seu correlogionário Marcelo diz ter mentido -, só se pode concluir, de acordo com o aforismo presidencial, que Cavaco não é uma pessoa bem intencionada.
Maçam-se muitas vezes políticos e comentadores da direita portuguesa com acusações de Salazarismo, que 39 anos de democracia já deviam ter feito esquecer certas acusações. Mas depois, há o dia da raça cavaquista, a união nacional de Passos Coelho.
Para os defensores da hipótese benigna, trata-se de gaffes, equívocos de linguagem. Para os adeptos da teoria maligna, o conservador Cavaco e o menino queridíssimo dos liberais portugueses sabem muito bem o que querem dizer.
Por mais que os josés gomes ferreiras, os cavacos, os manuéis clementes e os van zellers espumem, é positivo e gerador de esperança o falhanço da convergência do PS com um governo em estado de desorientação.
Tal como são positivos os sinais saídos da reunião entre o PCP e o BE.
Cavaco quer a salvação dos credores (e já agora do seu partido), mas chama a isso "salvação nacional".
Quando forem notados os resultados apresentados no boletim económico de Verão do Banco de Portugal (pdf) ficará mais clara a actuação do Governo que ainda aí está.
Em larga medida, explicam o ímpeto crescente da chantagem para manter o Executivo PSD/CDS-PP. Há (aqui e aqui, por exemplo) quem não queira perder os rendimentos.
Deixar que os resultados tornem claro o valor das políticas da coligação, da tróica e da União Europeia pode contribuir para a pasokização do PSD. Eleições a realizar ainda este ano, preferencialmente entre Setembro e Outubro seriam talvez clarificadoras.
Em contrapartida, a pasokização pode atingir o PS caso este partido assuma um acordo - a ver o que sai da já marcada reunião da Comissão Política Nacional onde têm assento figuras críticas do consenso para a "Salvação Nacional" tão desejado pelo parcialíssimo Cavaco - e admita ir às eleições no prazo fixado por Belém, 14 de Junho de 2014.
E, depois, os principais defensores da estabilidade governamental (PSD, CDS-PP, Cavaco), sempre prontos a chamar irresponsáveis aos que pedem eleições antecipadas, não se preocuparam nada em lançar o país numa sucessão de demissões (Gaspar, Portas), reuniões, adiamentos, escalada de
juros e pressão dos mercados.
Lembra a história do parricida que pede ao juiz para se condoer da sua sorte de pobre órfão.
Devia dizer qualquer sobre a pressão que comentadores, jornais e patrões (a que entretanto se juntou a UGT) têm feito desde que Paulo Portas se demitiu para impedir a queda do Governo. Em tempos, Judite de Sousa foi surpreendida com o desfile de banqueiros que se ofereceram para que ela os entrevistasse. Só percebeu depois que se tratava de uma campanha para pressionar o derrube Sócrates. De uma ponta à outra, comentadores e jornais falam de "Salvação Nacional", mas sem aspas. Não é preciso ser particularmente desconfiado, nem muito inteligente para não o perceber. Mas é o que temos na comunicação social. Alinhamento e mercado. A informação risca quase nada. A dissidência e a divergência de pontos de vista pagam-se caras.
A expressão "Salvação Nacional" é usada como se o termo fosse neutro e não uma invenção para convencer os eleitores que o plano da tróica, do Executivo e de Cavaco tem virtudes. Como se realmente fosse a Salvação Nacional aquilo que perseguem PSD, CDS-PP e PS, supervisionados por Belém e visitados pela ministra dos SWAPS, Poiares Maduro e Carlos Moedas. Como se a Salvação Nacional passasse por amarrar o país durante mais de uma década aos ditames da tróica e dos modelos neo-liberais, esvaziando o valor de qualquer eleição futura e impedindo os eleitores de votarem em programas alternativos. Como se a Salvação Nacional passasse por dar dinheiro aos bancos (aqui e aqui, por exemplo) e aos credores e não em assegurar a vida digna dos portugueses.
Não tenho a mínima dúvida de que o Executivo deveria cair. Nos termos em que está a dívida é impagável e não é com austeridade, nem com desemprego e recessão que alguma vez teremos dinheiro para a pagar. Nem todo o IRS e IRC cobrados chegam para isso. Quem diz o contrário mente.
O corte de 4,7 mil milhões de euros (tirado do chapéu por Vítor Gaspar) caso ainda não se tenha percebido, é o fim de qualquer veleidade de estado social digno de um país civilizado. É o fim dos serviços públicos de qualidade. Muitos dos costume, que se queixam dos custos dos serviços públicos ainda se vão queixar mais quando deixarem de ter acesso a eles - que é o plano que está em cima da mesa.
O ideal é que não haja acordo. Que o PS salte fora do comboio e assuma o que muitos dos seus têm sugerido. E que saiba apontar à inversão do rumo que aqui nos trouxe. Infelizmente, o comportamento do partido de António José Seguro não é de molde a sossegar. O mesmo PS que aceitou dialogar com os partidos da coligação governamental depois de andar durante meses a exigir a sua demissão, acusa BE e PCP de andarem em "jogos partidários".
Outra breve nota. Espera-se que o PS saiba sair da armadilha montada por Cavaco. O contrário será o fim até da alternância e a entrada definitiva na pós-democracia.
... em que os que defendem que se governe em nome dos cidadãos e não dos mercados são acusados de radicalismo.
Irrevogavelmente demissionário, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, não esteve ontem no Conselho de Ministros. Mas hoje andou pelo debate sobre o Estado da Nação que encerrou citando Sá Carneiro e o interesse nacional.
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