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(Foto: dinheirovivo.pt)
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Marques Mendes vai matando saudades do seu já longÃnquo passado enquanto alegado produtor diário de alinhamentos de telejornal. Transferido recentemente da TVI24 para a SIC, o conselheiro de Estado, antigo ministro de Cavaco e antigo presidente do PSD, dá notÃcias, cria factos. Alimenta uma agenda, o estatuto de recrutável no mercado comentocrático da comunicação social.
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Depois de ter anunciado a convocação para breve do Conselho de Estado - Manuel Alegre, seu parceiro no órgão de aconselhamento do Presidente da República, afirmou desconhecer qualquer convocatória, mas o também conselheiro Marcelo Rebelo de Sousa, talvez para não ficar atrás de Mendes, confirmou a intenção de Cavaco, que, entretanto, afirmou que o marcaria quando fosse útil -, Marques Mendes descobriu em VÃtor Gaspar um perfil de comissário europeu.
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E porque não? Há muito que o paÃs se habituou a ver figuras sem grande préstimo alçadas aos mais cobiçados lugares. Gaspar seria mais um no rol infindável de personalidades menores, de desconhecidas virtudes cÃvicas e méritos discutÃveis, premiadas com colocações de sonho.
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Até poderia lá ser posto pelos seus. Mas, num sÃtio asseado, o PS, em aparente corte com o passado e por conta do qual corre a sucessão governativa, alertaria para a remoção logo que possÃvel.
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Infelizmente, o exemplo recente da Islândia, onde os responsáveis voltaram ao local do crime, baixa ao menos as expectativas quanto ao futuro.
O momento é grave. A hora angustiante. O paÃs não tem retorno, alternativa. A Pátria não tem solução. Pelo menos é isso que passa quando se ouve os comentadores e militantes do PSD na noite em que o Tribunal Constitucional voltou a explicar a Passos Coelho e VÃtor Gaspar que não podem atropelar o amplamente defendido prÃncipio da igualdade ao elaborar orçamentos de Estado.
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Nessa noite (fonte aqui), Na RTP Informação, o debate foi entre Bacelar Gouveia e Braga de Macedo, militantes do PSD, e Inês Serra Lopes, jornalista assumidamente de direita. Na SIC NotÃcias ouviu-se Paulo Rangel, eurodeputado laranja durante uma hora. No canal cabo da Cofina falou Ângelo Correia, histórico do PSD.
Já ontem, após o Conselho de Ministros Extraordinários, na SIC NotÃcia, o debate era entre quatro jornalistas. Pelo menos três, os homens, sopravam e espevitavam o drama desejado pelo primeiro-ministro ao anunciar o pedido de uma "audiência de urgência a um fim-de-semana com o Senhor Presidente da República". É o estado de excepção que serve o espectáculo televisivo, ajuda à propaganda governamental mas pouco contribui para a informação.
Será que Passos Coelho se vai demitir? questionaram durante mais de uma hora, em tom horrendo e grosso, José Gomes Ferreira, Martim Avilez Figueiredo, Paulo Baldaia. Da intervenção banal, alinhada e previsÃvel, safou-se Paula Santos. Curiosamente, dos quatro, a menos visÃvel mediaticamente.
Pelo caminho, em repetições, directos, destaques, ouvi ainda Joaquim Aguiar - que foi assessor de Ramalho Eanes e consultor de Mário Soares - recuperar a sua mantra de que se tem de mudar a Constituição por não se coadunar com a realidade. Raul Vaz, jornalista com direcções de jornais na folha corrida, ia pelo mesmo caminho no Hora de Fecho.
Por um lado, contrariava o constitucionalista Jorge Reis Novais, que bem lhe tentou explicar os pontos onde chumbou o Orçamento de Estado de 2013. Por outro, tentava convencer os ouvintes que constitui uma medida de reforma do Estado o Governo ficar mais uma vez com os subsÃdios de Natal e de férias dos funcionário públicos.
Não chega o entendimento aquelas valorosas cabecitas para perceberem que igualdade e proporcionalidade não são um exclusivo revolucionário da Lei Fundamental portuguesa.Â
Entretanto, a procissão deu várias voltas ao adro. Passos Coelho não se demitiu. Esta tarde, anunciou que irá fazer o que anda há 22 meses a fazer. Contra a esmagadora, omnipresente e exclusora retórica propagandÃstica dos comentadores e jornalistas próximos do Governo, atacou órgãos de soberania, mostrou que não sabe história e que não tem uma única solução para o paÃs. Não admira que ele e os seus andem a toda a hora a martelar a necessidade de extirpar a Constituição dos princÃpios da Igualdade e da proporcionalidade.Â
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(Foto:Â annefrankguide.com)
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Estrela Serrano relembra hoje como jornalistas e comentadores embandeiraram em arco com a tróica por aqueles dias em que ela aterrou na Portela.
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O trabalho de republicar o que então foi dito por muitos seria aquilo a que com propriedade se poderia chamar serviço público. Até por que com os resultados agora anunciados pelo então muito amado Gaspar permitiria expor o que esses jornalistas e comentadores valem enquanto analistas.
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Mostraria ainda como o papaguear asneiras e defender comportamentos sociopatas e radicalismo se torna muito mais benéfico para uma carreira no jornalismo português do que chamar a atenção para a situação a que chegámos.
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Os novos números de Gaspar e da tróica correm o risco de tornar Portugal em novo Chipre de contas encerradas. E Chipre das contas encerradas é um prenúncio do fim do Euro. Quem manda, das instâncias comunitárias aos governos nacionais, está em absoluto e irresponsável estado de negação enquanto tudo faz para apressar a entrada de Portugal em bancarrota e o fim da União Europeia.Â
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Nos jornais que sobreviverem vai-se reacertando a agulha comentarista como se os que falharam em toda a linha por motivações alheias ao jornalismo pudessem continuar credÃveis nas direcções e editorias que já então ocupavam.Â
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(Foto: Perfil twitter de Barack Obama)
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... afinal, José Medeiros Ferreira e Bruno Nogueira provam que não estou sozinho na minha opinião sobre os jornalistas, analistas e comentadores portugueses que falam sobre as eleições norte-americanas.
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(Foto: bbc.co.uk)
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Segui com curiosidade a figura de Barack Obama a partir da altura em que o vi entrevistado por Jay Leno, ainda estava longe de ser escolhido pelos democratas como candidato à presidência dos Estados Unidos da América. Há quatro anos, por mera motivação pessoal, acompanhei debates em directo, sondagens e análises estatais, o noticiário norte-americano.
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O noticiário português, não me lembrava já e reapercebi-me ontem ao seguir novamente os canais internacionais, não permitia uma visão segura sobre o que se passava realmente no terreno. NotÃcias com dois e três dias eram publicadas como novidade nos onlines dos nossos órgãos de comunicação social. E mais vale olhar sozinho para as sondagens em bruto que ler análises em quarta e quinta mão sobre elas.
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Este ano - há tanta coisa para desesperar, para quê juntar-lhe as incertezas de uma reeleição num paÃs distante? - andei afastado da terça-feira eleitoral. Ontem, ao inÃcio da noite, ainda jornalistas portugueses nos garantiam que só lá para sexta-feira haveria resultados tal era a proximidade entre os candidatos à Casa Branca e grande a probabilidade de que contestassem a votação nalguns colégios eleitorais. Em cheio, como se viu: pouco depois das dez da noite local já se sabia que Obama tinha mais quatro anos de mandato, a maioria dos eleitores dos estados dançarinos tinham-lhe ido parar à s mãos, tal como a maioria dos votos populares e o Senado. E nem no Wisconsin, estado-natal de Paul Ryan, candidato republicano à vice-presidência, ou no Massachussets, onde Mitt Romney governou, se deixou de dar a vitória ao democrata.
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Às 5h da manhã soube que Obama vencera já as eleições. Durante a noite e a madrugada, pelos canais televisivos portugueses, encontravam-se os mesmos analistas de há quatro anos. Vasco Rato, Nuno Rogeiro, gente que fez parte das estruturas ideológicas do Governo de Durão Barroso-Paulo Portas.
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Não fiquei a ouvi-los, confesso. Atrevo-me a dizer que terão sugerido que entre Obama e Romney não há grandes diferenças, que Romney é um republicano moderado, que a eleição de um ou de outro seria indiferente, como se viu nestes quatro anos falhados. Nem todos os analistas da clique PSD e CDS-PP estiveram a favor da invasão do Iraque, mas os executores polÃticos empenharam o paÃs nessa intervenção ao lado de George W. Bush.
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Quatro anos passados, Obama não cumpriu muito do que prometeu. Ann Nixon Cooper já não está entre os vivos como estava em 2008. Os desejos tropeçam sempre na realidade. E a maioria republicana no Congresso tudo fará para minar iniciativas presidenciais. Mas, mesmo assim, é sempre melhor partir de um programa polÃtico onde a justiça e a cidadania prevaleçam do que de um onde se defenda o salve-se quem puder, o darwinismo social e o totalitarismo dos mercados. A ver o que faz agora Obama ao anunciar que "o melhor ainda está para vir".
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A eleição de Romney poria a Europa e os Estados Unidos a puxarem para o mesmo lado. O da austeridade e do empobrecimento sem barreiras. Só que no que toca ao sudeste asiático as paisagens são mais atraentes que os modelos sociais e as leis laborais. E a salvação dos orientais nunca ganhará nada com a miséria dos povos de outros continentes. Angela Merkel não precisa de mais aliados, como lembra Mário Soares. Precisa é que lhe tirem o tapete.
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