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(Foto: pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Xavier)
(Foto: commons.wikimedia.org/wiki/File:El_Greco_Ecstasy_of_St_Francis.jpg)
A primeira, em versão arte Nambam, a vocação missionária e universalista, dir-se-á natural num Papa jesuíta e vindo do Novo Mundo. A segunda, mais popular, espiritual e urbana, segundo a visão crística de El Greco. A ver como cumprirá aqueles destinos.
Francisco é um bom nome programático e nunca antes foi escolhido.
(Foto: jn.pt)
Em 2011, ainda vieram na manhã do dia 1, mas o estribilho para pedir bolinhos era já o das "gostosuras ou travessuras", tradução consagrada pelos brasileiros para as histórias da Disney e da Hanna-Barbera passadas na noite de Halloween.
Este ano, subiram ao prédio logo ontem à noite. O dia era o errado (os países do sul não assinalam a noite das bruxas ao estilo anglo-saxónico) e o pedido era o errado (mais uma vez pediram "gostosuras ou travessuras" em vez do pão-por-Deus).
Ou seja, uma tradição com fundamento nas práticas do catolicismo vê-se ultrapassada pela força do imaginário protestante. É que sem a carga de propaganda que atingiu a Inquisição católica, os países protestantes tiveram, na mesmo época, o contraponto bárbaro e fundamentalista da perseguição às bruxas.
O episódio pode ser comezinho, mas até aqui se mostra como do ponto de vista da instituição é pouco inteligente permitir o fim da celebração do dia de Todos os Santos. A igreja não sabe lidar com os paganismos contemporâneos
A igreja negociou o fim do feriado do 1 de Novembro, um dos poucos feriados religiosos cujo sentido os portugueses não perdem de vista. Basta ver como se enchem os cemitérios e como, nas cidades mais pequenas, mesmo se vestida com outras fórmulas, muitas crianças continuam a ancestral prática do pão-por-Deus.
Saber adaptar-se às práticas dos crentes e dos não-crentes explica o sucesso milenar da igreja católica. Trocar uma festividade seguida e respeitada pela da Assunção de Maria, a15 de Agosto, e as declarações recentes do cardeal-patriarca de Lisboa contra as manifestações mostram uma instituição perdida e confundida no século.
(Foto: blogue A Saúde da Alma)
Espantosas as declarações de José da Cruz Policarpo condenando as manifestações contra o Governo e a Tróica.
Num tempo em que a cidade se enche de novos pobres e de novos nus, o cardeal patriarca encontra nas manifestações que se têm sucedido o exemplo da corrosão da "harmonia democrática". Ao falar em Fátima, antes de se iniciarem as peregrinações do 13 de Outubro, o dia do milagre do Sol, o cardeal patriarca de Lisboa envergou as vestes do príncipe, de alguém cujo reino pertence a este mundo.
Não será o único motivo de preocupação da Igreja, mas, há dias, Marques Mendes defendeu que o tempo de emissão televisivo das confissões religiosas pode e deve ser mantido. Ontem, José Policarpo juntou na mesma conferência de imprensa a condenação das manifestações ao desejo de cumprimento da Concordata. Os mais cínicos poderão achar que a Igreja Católica receia ver transformada em cordeiro sacrificial o tempo de emissão que o Estado desde sempre lhe concedeu nos canais públicos.
O facto de se perguntar a um conselheiro do Governo se acha que algo pode e deve ser mantido, revela ao menos o receio da resposta negativa. os mais cínicos poderão questionar daqui a pouquissímo tempo: a presença na televisão (e a isenção de pagamento de IMI) valeu mesmo os 30 dinheiros?
A discussão em torno do fim de feriados está aí para durar. E sem entrar na discussão da desejável laicidade do Estado, a extinção ou suspensão de feriados tem um impacto - nas pessoas e na Economia - que está muito longe de estar consistentemente estudado. No entanto, o assunto, como tudo que se relaciona com o Trabalho, tem sido tratado pelo Governo mais como uma questão de fé do que como de factos comprovados.
Talvez por isso, ainda antes de lhe perguntarem fosse o que fosse, a Conferência Episcopal se tenha lembrado de propôr largar alguns dias de mão. Só que o Vaticano não gostou das opções da Igreja Portuguesa e já avisou que prefere abdicar do Dia de Todos os Santos. Para a Santa Sé, os cismáticos dias marianos é que são indispensáveis.
A igreja costuma ser mais cautelosa. Tirar às pessoas o dia em que celebram os seus mortos é nada perceber da forma como os crentes, e não só, homenageiam os entes queridos desaparecidos. Se perguntarem na rua, verão a resposta das populações. Mesmo confundido com o dia dos Fiéis Defuntos, o 1 de Novembro, é das poucas datas de evocação religiosa amplamente celebrada.
Sabe-se o pé de vento que se levanta em certas comunidades quando entram em rota de colisão com os párocos. Não será a distante igreja romana que impedirá os levantamentos.
Enquanto a hierarquia católica embarca numa coligação oficiosa com o Governo para evitar a revolta - justa, diga-se - dos contribuintes, traz escasso conforto saber que subsistem uns lampejos de inteligência civilizacional na Igreja.
É inegável o carisma do novo beato da Igreja Católica.
Mas também é inquestionável o marketing que fez com que tantos crentes se aproximassem de João Paulo II arrastados pelos afectos e crença na sua compaixão.
Uma busca espiritual de milhões que também tem o seu lado Pop e se reflecte na adoração de outras figuras contemporânas como a princesa Diana ou a Madre Teresa de Calcutá. Há mais gente cativada pelo lado irracional e sentimental associado às figuras do que pelas suas dimensões intelectuais.
Cristo e São Paulo não são exactamente as figuras mais adoradas pelos crentes, embora no caso do primeiro uma afirmação destas tenha que se lhe diga. Já a figura da Virgem Maria, a pietá, a mãezinha, que o polaco tanto valorizou tem desde o tempo das ordens mendicantes um carácter apelativo bem conhecido. Tão conhecido, que durante boa parte da história portuguesa os nomes António e Francisco, associados aos dois santos franciscanos, foram possivelmente os mais usados por homens.
O celebrado papel de Woytila nas coisas de César tem muito de ideológico e também ganha, no imediato, com o facto de estar do lado dos vencedores. Estes, como se sabe, têm sempre razão.
O novo beato teve também papel decisivo na beatificações de Pio XII e na canonização de Josemaría Escrivá. Sobre o Papa há demasiadas incertezas em relação ao papel político durante a II Guerra Mundial. Sobre o fundador do Opus Dei basta ouvir o que ele dizia em primeira mão, em entrevistas e filmes, para duvidar até da sua bondade terrena.
Anselmo Borges, sacerdote, e uma das vozes mais interessantes da opinião publicada em Portugal, cruzou-se com João Paulo II. E a impressão que lhe ficou "foi a de um homem não propriamente afectivo, mas antes afirmativo e duro". Borges não se faz detentor da verdade, mas vale a pena comparar o que diz este católico com responsabilidades com a canonização de João Paulo II feita em muita comunicação social laica.
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