Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Já se contou aí para baixo como, há uma dezena de anos, a minha interpretação do artigo 187º da Constituição foi desqualificada por um ex-editor de política de um grande diário nacional. Já se contou também como, em 2015, num canal televisivo, tantos jornalistas de política descobriram o artigo que tornava possível um partido com menos votos que outro formar Governo. Esses mesmos que não tinham lido a Constituição espantavam-se com o que só tinham visto em Borgen, uma série acerca da política dinamarquesa. E esses mesmos continuam a fazer jornalismo, com toda a presciência que a ignorância e o preconceito lhes garantem.
Dá-se de barato que, há pouco mais de um ano, o grosso dos jornalistas que fazem política não tivesse percebido o que se estava a passar. Não valem mesmo grande coisa enquanto colectivo pomposo, inculto e influente. Mas esta semana, confirmou-se que no PSD se continua também sem perceber o que lhes aconteceu por conta do referido artigo.
No recente debate parlamentar acerca da descida da TSU, vários parlamentares laranjas, entre eles o presidente do partido, voltaram a vincar a ilegitimidade do PS para governar. Zangaram-se, disseram que a maioria não consegue fazer aprovar as suas próprias medidas e fazê-las cumprir. E, hoje, Aguiar Branco, voltou ao mesmo numa entrevista ao Diário de Notícias: Que
"sem maioria parlamentar, Governo não tem legitimidade para governar."
Sim, claro, apetece dizer ao deputado e ex-ministro de um governo, o segundo e último de Passos Coelho, que caiu ao fim de pouco mais de um par de semanas na sequência da rejeição do programa pela maioria dos partidos de esquerda na Assembleia da República.
O Governo sem legitimidade de que falaram Passos Coelho e Aguiar Branco sempre tem acrescentado meses ao tempo que a PàF conseguiu para o seu segundo Governo. Mas no PSD continua-se a assobiar e a fazer de conta. António Costa pode bem a atitude. Quando os cubes perdem tempo com erros de arbitragem e com injustiças, outros entretêm-se a jogar.
Os 25 dias de férias, entretanto retirados, foram usados por Bagão Félix como alegada compensação por uma série de modifcações do Códogo de Trabalho favoráveis à parte patronal.
Numa pesquisa na rede acerca do tema,surgia imediatamente um comparativo europeu e mundial feito pela publicação digital paga por um par de empresários, amigos de Durão Barroso, primeiro-ministro aquando da ideia.
Lá se explica, com gráficozinhos e tudo, como Portugal terá mais dias de férias do que outros países. Esquecem-se é de explicar o como e o porquê de se ter chegado a estes dias de férias e com que justificação isso foi feito na altura. Ninguém sugere é a reposição dos direitos tirados aquando da abertura da possibilidade (mediante antiguidade e assiduidade) de gozar 25 dias possíveis, - possibilidade entretanto eliminada.
Na mesma linha noticiosa, mais evangelizadora do que noticiosa, uma televisão repetia ontem à noite, sem o enquandramento histórico, os mesmos argumentos e números da publicação digital dos moços do Compromisso Portugal.
Um economista explicava na televisão que o aumento do salário mínimo dos 530 euros para os 557 euros é um aumento signficativo para as empresas, pois é um aumento de cinco por cento.
Eu que sou engenheiro tenho sempre alguma dificuldade com a compreensão matemática dos economistas que falam na televisão e que dizem coisas nos jornais. É que cinco por cento de coisa quase nenhuma ainda continuam a ser coisa quase nenhuma.
Um aumento de cinco por cento do salário mínimo nacional corresponde a menos de 1 euro por dia de aumento. Há por aí muitas empresas que não sejam capazes de acondicionar nas contas mais 1 euro por dia por cada trabalhador que lá têm?
Há um par de semanas, no jornal de um dos partidos de esquerda que viabiliza o governo de António Costa, punham-se em destaque duas frases de uma entrevista dada ao jornal i pela jornalista Maria Flor Pedroso, presidente da comissão organizadora do IV Congresso dos Jornalistas.
"Alguns jornalistas têm medo de participar neste congresso"
e
"Muitos de nós não nos revemos em grande parte daquilo que vemos, ouvimos e lemos".
A escolha do jornal contribui para uma determinada narrativa acerca da crise do jornalismo português. Mas, mesmo que residualmente acertada, é uma narrativa daninha para a inteligência da questão.
É um erro persistir na ideia do medo dos profissionais. Tal como é um erro acreditar que nas publicações se exibem, dizem e escrevem coisas diferentes daquelas em que jornalistas se revêem. O que não é verdade. Nem na forma, nem na substância.
Ora, o que a narrativa desse jornal partidário insinua como solução é uma operação de simples simetria: acabar com um eventual medo (o que é sempre bom) e exibir, dizer e escrever coisas em que outros se revejam. Na melhor das hipóteses, ter-se-ia direito a um discurso mais plural. Mas informar não é dar algo em que os espectadores se reconheçam, nem continuar a sobrecarregar, de modo tóxico, o espaço público de discussão com conteúdos alternativos a metro.
O problema do jornalismo é de ordem cultural. Um problema não apenas do direito à produção do discurso, mas também do reconhecimento do discurso - da não-exclusão do discurso, para falar em termos foucaultianos.
Nada disso se resolve sem mudar de alto a baixo a cultura das redacções, cortando cerces os paradigmas e os mecanismos de reprodução existentes.
Em português, a coisa sempre se chamou aboborinha, mas nos jornais há quem prefira aportuguesar o estrangeiro courgette com que têm chegado aos supermercados.
Os donos dos jornais foram ao IV Congresso dos Jornalistas dizer que só a viabilidade económica das publicações garante a sua independência.
Para já, há sérias dúvidas quanto à viabilidade financeira dos jornais num mercado com a dimensão do português. Se o pressuposto é esse estamos condenados.
Depois, essa afirmação é virar o mundo de cabeça para baixo.E é uma desculpa esfarrapada para o beco em que tantos donos de negócios informativos, acolitados pelas suas escolhas directivas, enfiaram a informação que se produz.
A independência joga-se na vocação informativa dos donos dos jornais. Quando se fundam e compram jornais para serem instrumentos de objectivos que nada devem à informação, não há viabilidade económica que lhes mantenha a independência. Isso é o que acontece e nada tem a ver com o mercado, por muito que essa narrativa lhes dê jeito.
Podem ler-se pela blogosfera várias críticas de civis que aproveitam o IV Congresso dos Jornalistas para bater na corporação e manifestar a sua convicção de que esta não faz falta absolutamente nenhuma. Diz-se, por exemplo, que existe uma coisa que se chama informação e que essa nada tem a ver com jornalismo, actividade fechada que até prejudica a informação.
O jornalismo deixou para muitos de ser visto como um lugar onde procura apresentar e verificar factos, de modo pluralista, com recurso ao contraditório e onde se dá ao leitor a hipótese de escolher a sua verdade e fundar uma convicção cívica. Muitos podiam ver nele antes uma oportunidade de distracção, mas a importância desta dimensão democrática coexistiu sempre com ela. Hoje já não.
E há culpados. Têm nomes. E não foram os que foram sendo postos à margem da profissão e que acabam também queimados na sua reputação pela acção de outros. Os culpados estão aí identificados, mais para baixo, em sucessivos postados, de distanciamento e crítica, de combate pelo jornalismo, publicados desde 23 de Fevereiro de 2011. Não chegámos aqui apenas por causa das mutações do mercado, dos suportes e das redes sociais. Chegámos também aqui por causa de um conjunto limitado de pessoas que foram ocupando lugares decisivos de chefias da comunicação social e que tornaram as direcções editoriais clubes fechados. Entre um ou outro que possa escapar, a paisagem mais que de monocultura é monolítica.
Esta gente tem estragado o presente da profissão, mas com isso vive-se. O pior é que também lhe estragaram o futuro. Vai ser preciso recuperar do mal que lhe fazem, e nos fazem, diariamente, directores, chefias e muitos dos profissionais. Tornar o jornalismo um lugar com que os cidadãos possam contar, onde os leitores procurem não diversão, mas factos verificados e sujeitos a contraditórios. Onde alguém, obrigado pelo código deontológico procure alcançar uma possível verdade material e discursiva, oluralista, sem alienar nenhum facto, quer sejam a favor, quer sejam contra as suas próprias convicções pessoais.
Aí os leitores e os espectadores terão a certeza de que, ao contrário do que sucede nas redes sociais e nos blogues, a informação está caucionada por esse métodozinho ridículo de ir procurar o contraditório e perguntar O Quê, Quem, Quando, Onde, Como e Porquê.
A questão é: ainda será possível reverter os estragos provocados no jornalismo pela actual mediocracia directiva e pela orientação dos outrora chamados órgãos de informação?
Parece que a mais importante conclusão que se vai podendo tirar do IV Congresso dos Jornalistas é que não se realizava há quase 20 anos. Essa expressão não faltou em nenhum dos mails que recebi da organização. Infelizmente, a frase é usada como uma acusação, em vez de servir uma explicação necessária.
Desisti de ir ao congresso e de nele intervir nos minutos imediatamente a seguir a abrirem as inscrições. Desisti de lá ir depois de o ver já tão pronto-a-vestir, com comissões e regulamentos fechados e sem ter visto a sua prévia discussão aberta à classe, de modo sério, continuado e abrangente.
Recebi o e-mail e inscrevi-me mal me foi possível, menos de dez minutos após a abertura de inscrições. Dos resultados da prévia e necessária discussão descentralizada não tive ecos, ninguém se deu ao trabalho de os fazer circular pela classe. Antes, houve umas tantas reuniões, mas a reunião de Lisboa, a que queria ir, foi anunciada com uma semana e picos de antecedência e em altura em que me encontrava fora – mas isso é problema meu.
Sem ecos públicos, e realmente disseminados, de discussões, de temas, de questões em causa, de nomes, deparei imediatamente com uma comissão organizadora completamente constituída e com um regulamento – tudo pronto e aprovado num processo cuja transparência em nenhum momento foi clara. Se fizeram tudo isso entre a reunião de jornalistas a que não pude ir (reuniões cujo funcionamento caótico conheço) e no escasso tempo que se seguiu até ao anúncio das duas coisas, parece-me que fizeram um trabalho altamente eficaz e bem dirigido.
Quanto à comissão, não faço ideia de onde terá caído, quais terão sido os critérios para convidar aqueles jornalistas e não outros, quem os terá discutido, quem lhes terá achado condições para a função. Está lá gente que estimo, mas a quem nunca ouvi uma ideia de jornalismo que os distinga da paisagem instalada; está lá gente com intervenções conhecidas a favor do jornalismo e dos jornalistas; está por lá, também, gente absolutamente responsável pelo estado a que o jornalismo chegou. E há faltas. Faltas que um bocadinho de sentido institucional, de respeito e de reconhecimento teria colmatado.
Do regulamento, que chegou aos índios tão pronto e finalizado como a comissão, gostaria de perceber o sentido da ideia de pré-submeter com mais de um mês de antecedência as comunicações ao Congresso e qual terá sido a intenção. Também não se percebem quais os critérios de publicação das comunicações e da sua votação.
Depois, algumas notas que gostava de ver respondidas pela organização e pelos meus camaradas envolvidos.
Andam por lá vários estudantes. A que título, com que pagamento? São voluntários? É uma espécie de pré-estágio para irem convivendo com estágios com trabalho, mas sem retribuição digna ou mesmo sem retribuição? Quem paga o Congresso? E o que pensam de reservar aos habilitados com cursos de comunicação social e afins o acesso a uma função decisiva para a democracia - como se ser jornalista dependesse de uma formação específica como as que se obtêm quando se estuda para médico, advogado ou engenheiro e não da capacidade de cumprir os dez pontos do seu código deontológico e de responder a seis perguntinhas simples e infantis: O Quê, Quem, Quando, Onde, Porquê, Como?
Querem que ser jornalista seja pertencer a um gueto, fora da sociedade, um grupo reprodutor dos tiques e escassas ideias da maioria dos professores e formadores da profissão? Limitar ainda mais o pluralismo de origem e de ideias, de uma profissão cujo acesso está absolutamente condicionado por critérios que entregam a decisão de quem entra e de quem fica aos donos do negócio e a quem o domina?
E que sentido faz misturar e sentar num mesmo painel, projectos digitais independentes, pertencentes a jornalistas, coisas interessantes e necessárias, mas de nicho, e que terão compreensíveis dificuldades de financiamento (saúde, Samuel; saúde Sofia), e projectos milionários, de orientação vulgar e habitual, apoiados por fortes e hegemónicos interesses económicos e comunicacionais, e cujas chefias e responsáveis têm há mais de uma década ampla presença nas televisões? Que comparação se pretende fazer? Que conclusões se espera tirar? Que paralelos de viabilidade se espera encontrar?
Por fim, a que título num congresso de tempo necessariamente limitado se convidam directores para um dos painéis? E a que título se convidam, para outro painel, os donos do negócio? E as agências de comunicação estarão noutro painel a fazer o quê?
Já não basta a todos conhecer o que os directores pensam da profissão, do jornalismo e dos seus critérios, através das decisões editoriais que diariamente evidenciam? Já não basta serem confundíveis com as administrações que têm feito do jornalismo e do seu produto o lugar que é? Já não basta ter de se ouvir, nas televisões, as opiniões desse clubístico círculo fechado?
Espantosa também a decisão de convidar as agências de comunicação para outro painel. O trabalho dos jornalistas é descondicionar os leitores. Levá-los a pensar e a criar convicções próprias. O trabalho das agências de comunicação é exactamente condicioná-los. Mas talvez o convite seja compreensível. Os jornalistas precisam de discutir assuntos como as suas próprias condições de trabalho, o tempo que têm para pensar e escrever as suas peças, discutir opções editoriais. Com as agências de comunicação tudo fica mais facilitado. Basta copiar e colar.
E que sentido faz convidar os donos dos jornais para fechar o Congresso e responder à quase leninística questão “E agora?” O presente dos jornais, a falta de leitores e de credibilidade não se deve a eles? Às suas más decisões e escolhas materiais e pessoais? Ao modo como há décadas aumentam a precariedade, desfazem redacções e dificultam as condições do trabalho?
A que título de abrangência e de pluralismo se convidaram agências de comunicação, directores e donos de jornais? Coragem e saber era deixá-los à porta do São Jorge, onde os trabalhos decorrem. Para as suas opiniões os palcos não faltam. Coragem e saber era dar esse espaço e esse tempo a quem quisesse discutir as questões dos jornalistas, as condições de trabalho dos jornalistas e de produção das notícias. Afinal, o encontro, que não se realizava há quase duas dezenas de anos, como a organização vincou em todas as comunicações que me fez chegar, chama-se Congresso dos Jornalistas e não Congresso do Jornalismo.
É impossível servir a democracia a partir de um lugar precário no jornalismo. Já aqui foi dito antes, e explicado, num dos muitos textos publicados nos Tempos Modernos desde 23 de Fevereiro de 2011.
Um estudo do ISCTE confirmou agora, como se fosse preciso, mas com dados empíricos, que a precariedade cala os jornalistas. E o Presidente da República disse-o também no IV Congresso dos Jornalistas.
O que um jornalista precário não diz é que Marcelo Rebelo de Sousa esteve uma década em campanha eleitoral em vários canais televisivos e que essa decisão de várias direcções informativas foi um continuado atentado ao pluralismo e ao direito à informação. Por muito diferente que intelectual e culturalmente Rebelo de Sousa seja de Berlusconi e de Trump (e é e também tem mostrado essa diferença no exercício do cargo) não é por isso que deixa de ter medrado e de se ter servido do mesmo dispositivo mediático-jornalístico do espectáculo. - o sabonete de que Emídio Rangel falava.
Um jornalista precário também não diz a David Dinis (sucessivamente jornalista de política, assessor de primeiro-ministro, editor de política em várias publicações e director de outras) que se quisesse regressar aos jornais teria de o fazer pela porta do Desporto ou da Cultura.
Um jornalista precário não diz a José Gomes Ferreira, director-adjunto num canal SIC, que talvez fosse melhor procurar um emprego na banca, em vez de conduzir programas de contraditório jornalístico praticamente nulo com centenas de convidados de sentido único.
Um jornalista precário não diz a João Vieira Pereira e Pedro Sousa Carvalho que foram promovidos apressadamente, e que as alegadas qualidades profisisonais e reflexões jornalísticas não justificam os lugares de direcção que têm sucessivamente ocupado.
Um jornalista precário não diz a José Manuel Fernandes o que pensa do modo como o antigo director do Público, agora ligado a uma publicação financiada por rapaziada que saiu do Compromisso Portugal, vincou narrativas como a das armas de destruição massiva no Iraque ou das escutas de Belém.
Um jornalista precário não diz a António Ribeiro Ferreira que não se chama jornalismo à mistura de opinião com noticioso factual que é aquilo que faz há anos nas inúmeras redacções por onde tem passado.
Um jornalista precário não diz o que pensa das qualidades do grosso dos jornalistas que, em círculo fechado, têm ocupado lugares de direcção nos jornais portugueses, sem que as publicações que dirigem passem a vender mais ou a ter a qualidade reconhecida pelos leitores. Uma lista por onde inevitavelmente passa gente como Paulo Ferreira, Raul Vaz, António Costa, Helena Garrido, José Rodrigues dos Santos, Ricardo Jorge Pinto.
O que um jornalista precário não faz é dizer às dezenas de colegas que nos seus escritos não vêem nada de mal em chamar geringonça ao Governo, que seria melhor reverem o código deontológico da profissão e regressar às aulinhas de Introdução à Capacidade de Reflexão e Leitura do Mundo I - lá onde se fala do que se deve fazer quanto à normalização do uso de expressões crismadas por uns partidos políticos para ofender e criticar os outros.
O que um jornalista precário não faz é escrever textos críticos da corporação e publicação que o acolhe sem acabar despedido ou demitido, com a alegação de que é pouco lido ou de que não há dinheiro para lhe pagar.
O que um jornalista precário não faz é pôr em causa critérios editoriais, temas e ângulo escolhidos, e mesmo processos de produção cheios de nós, saídos da cabeça de gente sem a mínima noção de investigação operacional ou de organização de linhas produtoras.
O que um jornalista precário não faz é dar notícia daquilo que os outros não perceberam que é notícia e fugir à repetição do que os outros já deram e disseram.
O que um jornalista precário não faz é rir-se na cara de quem lhe diz que um responsável editorial com passado saneador se demitiu por não querer despedir gente da redacção.
O que um jornalista precário não faz é manter o lugar e ainda assim continuar a servir a obrigação ética de criticar e modificar a profissão a partir do lugar interior que é a redacção.
Marcelo Rebelo de Sousa pode falar na necessidade de acabar com a precariedade. Tem razão. Outros podem (como também já fiz e defendo) convocar a necessidade de subvenções estatais para a imprensa. O futuro da imprensa, se quiser servir a democracia, passa por aí.
Mas o fim da precariedade tem de se fazer também indo chamar as muitas e muitas dezenas de profissionais que de modo mascarado, por outros motivos, foram sendo afastados da profissão e que por vontade sua não teriam ido embora. Profissionais que mesmo precários têm sido capazes de dizer tudo o que acima se elenca. E não se pode fechar no círculo exclusor dinamizado por muitos dos representantes da corporação.
Um muito razoável número de analistas fala da vitória de Donald Trump como resultado da arrogância “das elites progressistas”. É por exemplo o ponto de vista do ex-presidente da fundação do Pingo Doce.
Mas e quanto ao discurso racista, sexista, homofóbico e por aí fora do candidato republicano e dos seus apoiantes? Existe uma equivalência de grau e de qualidade?
Nestas grelhas de análise, torna-se complicado perceber o modo como se qualificam os discursos acerca dos comportamentos sociológicos. Arrasar o carácter de minorias e acusá-las dos males da sociedade é ou não é arrogância? Existe, de facto, uma elite progressiva arrogante? E a minoria bronca é mesmo uma minoria e estará, de facto, destituída de voz?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.