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Há jornalistas que recebem em mão, papinha feita, o documento com a privatização da TAP que vai no dia seguinte ao último Conselho de Ministros de um Governo à beira de ser substituído por outro que já avisou que irá reverter qualquer privatização da transportadora aérea. Remetem a coisa para um rodapé mal-amanhado da primeira página, de tal modo que a bomba será aproveitada por outros ao longo do dia. É o que se chama estragar lagosta da melhor.
Há jornalistas que ouvem alguém do Governo dizer haver obrigação de toda a gente declarar rendimentos e património, na sequência da polémica com a administração da Caxa Geral de Depósitos. Sem outra citação, concluem que essas palavras querem dizer que o ministro das Finanças, que tem a tutela da CGD, sairá do Governo em Janeiro. É o que se chama fazer croquetes de raspas de carne para os cães.
Mota Soares ao estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
Cortou o abono de família
Reduziu o subsídio de desemprego
A indemnização por despedimento
Impôs dias de trabalho gratuitos tirados das férias e dos feriados
E mais cinco horas semanais gratuitas no Estado
Eliminou o descanso compensatório por trabalho suplementar
Aprovou os cortes nas pensões nominais
Mota Soares ao estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
Não hesitou em cortar pensões
Aprovou orçamentos inconstitucionais pela sua crueldade contra os mais idosos.
Em quatro anos no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
Mota Soares só aumentou
Pensões sociais e rurais
E as que tinham curtas carreiras contributivas (até 15 anos no regime geral, até 18 anos na CGA)
Deu-lhes entre 12,01 e 15,14 euros
Mas esqueceu-se dos que contribuíram mais de 15 anos no regime geral e que têm pensões abaixo dos 275 euros
Nesses quatro anos que Mota Soares passou no Governo com os colegas Assunção Cristas e Paulo Portas
Pagou aqueles poucos aumentos
Tirando aos mais pobres
Cortando no Complemento Solidário para Idosos
E noutras pensões
Mota Soares queria voltar a estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
E até prometia tirar mais 2400 milhões de euros às pensões até 2019
Agora, Mota Soares colega governo e de partido de Assunção Cristas e Paulo Portas
Acordou para a vez dos doentes, os novos ciganos e malandros do RSI
Para falar do Orçamento do Estado de 2017, José Gomes Ferreira levou ao programa Negócios da Semana, na SIC Notícias, João Duque, Paulo Núncio e Vasco Valdez.
Nos primeiros tempos da tróica, e já antes, João Duque era um dos mais fervorosos apoiantes das medidas de austeridade e do Governo PSD/CDS-PP. Paulo Núncio, do CDS-PP, e Vasco Valdez, do PSD, são dois antigos secretário de Estado dos Assuntos Fiscais - o primeiro com Pedro Passos Coelho, o segundo com Cavaco Silva e com Durão Barroso
Onde é que está cumprida aquela ideia peregrina de que os "factos devem ser comprovados, ouvindo AS PARTES com interesses atendíveis no caso"?
Um tópico muito recorrente no discurso do PSD é a catástrofe a que o país está sujeito sempre que há governações do PS. De como as acções governativas do PS afugentam todo e qualquer o investimento estrangeiro.
Gritam muito alto como para serem ouvidos lá fora. Como se por falarem, a coisa acontecesse. Como se quisessem reforçar a hipótese de ser ouvidos e assim minar a resposta económica obtida por outras governações que não a sua.
Agora é Passos Coelho a descobrir um país dominado pelos comunistas e pelos bloquistas. Do Minho ao Algarve, uma série de diabos vermelhos a evitar cuidadosamente por qualquer empresário digno desse nome. Felizmente, amigo, o PSD avisa. Como avisa sempre.
Por isso também me rio sempre, muito, quando ouço alguém daquela banda a falar de sentido de Estado.
Pedro Passos Coelho insiste na "obrigação moral" da esquerda em garantir a estabilidade do país.
Quer dizer, tem razão, sim, mas com ressalvas. Depois das últimas legislativas, Passos Coelho não se coibiu de formar Governo quando já quase toda a gente tnha percebido que a sua não era uma solução estável.
Depois disso, tem havido bastantes mais meses de estabilidade política do que aqueles que ele e Paulo Portas foram capazes de garantir.
Portugal escapou às sanções e será preciso ver se consegue evitar os cortes nos fundos estruturais cuja decisão foi diferida para Setembro.
Se a execução orçamental vai andando dentro das metas, há outras questões preocupantes em termos financeiros. A dívida e a estagnação económica são decisivas. E ainda vem aí a queda dos bancos italianos e alemães a dificultar (ou a impedir) a retoma.
O país está obrigado pela União Europeia a cumprir um determinado défice. De contrário, é castigado de acordo com os compromissos e regras acordadas. Vê-se pois forçado a gastar com a Administração Pública apenas uma percentagem muito baixa do PIB.
Para evitar as despesas o Estado evita fazer investimentos. Mas sem investimentos, o país não melhora a situação económica. E assim, não aumenta o Produto Interno Bruto, que permitiria, com a mesma despesa na administração, continuar a baixar o défice tal como previsto no Pacto de Estabilidade e Crescimento, Tratado Orçamental e nos compromissos europeus.
Uma pescadinha de rabo na boca e uma equação irresolúvel. Até porque a Dívida não pára de subir. Até porque se torna necessário pagar os juros que foram relativamente diferidos e se vão vencendo entretanto.
Governos sucessivos atiraram para o futuro os juros de empréstimos - boa parte dos quais contraídos por necessidades de desenvolvimento. Piores foram os contraídos junto da tróica, que serviram para pagar a especulação financeira e as apostas de risco da banca. Tal como está, a dívida portuguesa é impagável.
Ou se põe fim ao Tratado Orçamental ou se renegoceia a dívida. O ideal seria fazer as duas coisas. O que acabará por suceder, porventura a mal. Continuar a fazer de conta não resolve nada. Mas é ainda essa a perpectiva de muitos dos próximos do PS.Se bem que não de Pedro Nuno Santos ou João Galamba - o futuro socialista.
Da banda empresarial pede-se investimento, mas continuam a fazer-se as mesmas exigências de cortes no Estado e no Trabalho - sem perceberem como não bate a bota com a perdigota.
A solução de experiência económico-social que o país gozou durante os quatro anos de Passo Coelho e Paulo Portas conduziu ao atraso e a um retrocesso do desenvolvimento e não resolveu nenhum problema real do país.
No PSD continuam com dificuldades de perceber o que aconteceu nas últimas legislativas.
Atira para o PS, BE e CDU a responsabilidade de aprovarem o Orçamento do Estado de 2017. O que faz sentido.
Só que depois o fraseado escapa-se-lhe para o ressentimento quando diz que os partidos que apoiam o Governo devem "construir as soluções que [...] que assegurem a durabilidade do Governo".
O chefe da bancada laranja, Luís Montenegro, não terá reparado que o Governo do seu partido e do CDS-PP, saído das legislativas de 2015, não aprovou programa e nem um mês conseguiu durar? Mal por mal, os que lá estão já conseguiram aprovar programa e durar quase oito meses. Sempre mostraram mais "soluções de governabilidade, com estabilidade, consistência, que assegurem a durabilidade do Governo" que as apresentadas por Passos Coelho e Paulo Portas.
"Temos de punir os pecados do passado, mas com o olho numa futura redenção”, justifica uma fonte da Comissão Europeia a antecipar três semanas que Bruxelas dará a Portugal e Espanha para tomarem medidas que lhes permita cumprir o défice de 2015.
O articulado traz ranço protestante, uma linguagem de castigo e provação. Uma crença fundamentalista no divino do velho Testamento que lhes justificará a ideia omnipotente de que dois países possam actuar retroativamente sobre contas passadas.
Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa afirmava não se dever aplicar nenhuma sanção ao "Governo de Passos Coelho, porque não merece", nem ao "Governo de António Costa porque, na pior das hipóteses, ainda não merece, ou nunca merecerá".
O que a Comissão Europeia promete é castigar o actual primeiro-ministro pela governação daquele que lhes seguiu (com gosto) as imposições. A juntar à vontade várias vezes anunciada, há as estranhas declarações de Maria Luís Albuquerque: Se fosse ela a ministra das Finanças o país não sofreria sanções.
Como foi sob o seu exercício que o país falhou o défice que pode provocar as sanções, não deve ser de especial competência que Maria Luís se gaba. Do que a ex-ministra se fia é de a Comissão Europeia ser constituída maioritariamente por parceiros europeus do PSD e do CDS-PP. E esses preferem ajudar os seus e fazer a folha a um governo apoiado por uma maioria de esquerda que tem apresentado bons resultados em termos de execução orçamental.
Depois do 25 de Abril, dois cardeais intervieram durante anos na vida pública e política portuguesa. Sempre sem tomarem continuado e notório partido por uma das partes. Mesmo que o seu natural os inclinasse a umas opções e não a outras. Com Manuel Clemente, alguma coisa se alterou em termos de equidistância.
Um certo clima florentino coincidente no tempo com as vésperas da sua subida à púrpura cardinalícia já não prenunciava um magistério particularmente exaltante. Nas vésperas da escolha, o conservador Carlos Azevedo - principal opositor do hoje cardeal - foi atingido por informações e rumores mantidos a circular inclusive por gente inesperada.
Ao engrossar a voz de uma tendência da Igreja - que já nem é muito recente (aqui e aqui) - o cardeal-patriarca de Lisboa apoiou os colégios com contrato de associação: Os pais dos alunos do privado "também financiam as escolas estatais", disse.
A igreja do Papa Francisco não parece ser a mesma de Manuel Clemente, um cardeal de discurso demasiado cesarista, agora confundível com o dos proprietários dos colégios privados.
Na passada sexta-feira, Pedro Passos Coelho avisava o Governo. Os colégios com contrato de associação podiam pôr o Estado em tribunal por não cumprir compromissos.
A ideia não era nova, mas na terça-feira dez colégios deram razão ao ex-primeiro-ministro que, já em final de mandato (depois de três anos de cortes no ensino público, de despedimento de professores, de aumento de dimensão das turmas da escola pública, e de reduções da rede escolar), andou a contratualizar a prestação de serviços educativos com privados: entre o final desta semana e o início da próxima, dez colégios prometeram avançar para tribunal.
São o mesmo tipo de afinidades electivas de que se falou no postado anterior.
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