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(Foto: dinheirovivo.pt)
A Amnistia Internacional não tem cores políticas. É discreta, institucional e venceu o Nobel da Paz em 1977. Merecidamente.
Tanto condena as violações de direitos humanos cometidas por governos de esquerda como as cometidas por governos de direita. Tanto condena forças estatais como grupos paramilitares ou movimentos de guerrilha. Declaração de interesses: fui membro e activista da Secção Portuguesa.
Se a Amnistia considera que a polícia recorreu ao uso excessivo e desproporcional da força contra os manifestantes que ontem pacificamente protestavam em Lisboa, o Ministério da Administração Interna e as forças de segurança devem tomar boa nota do comunicado.
Estar sob a mira da Amnistia Internacional por causa da forma como se reprimem desacatos numa manifestação não é motivo de orgulho para nenhum governo. Muito menos quando responsáveis políticos parecem sempre demasiado lestos a desculpar qualquer comportamento policial.
E as acusações feitas pela Ordem dos Advogados também não deixam ninguém descansado: pessoas detidas indevidamente, mais do que o tempo legalmente permitido, autos em branco, recusa do acesso a advogados. Desde pelo menos 24 de Novembro de 2011 que a polícia ultrapassa claramente os limites permitidos num Estado democrático.
Que o DIAP mande arquivar queixas contra agentes da PSP filmados a agredir um suspeito, já controlado e manietado no chão, ou que alguns jornalistas não considerem essencial ouvir explicações governamentais torna tudo muito mais preocupante.
Não há reunião internacional, manifestação, visita de alta individualidade que não conte com os anúncios aterrados do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo ou de qualquer gabinete da PSP.
Torna-se difícil manter a confiança nestas fontes quando, anúncio após anúncio, declaração após declaração, todo o fogo-de-artifício previsto com pompa e circunstância redunda numa pífia fumaça.
Agradece-se a quem souber explicar como se comenta esta afirmação de Miguel Macedo mantendo a educação.
Os mesmos portugueses que criticam o estado da Justiça portuguesa são bem capazes de estar com um sorriso de orelha a orelha por causa do alegado suicídio do homicida de Beja. Fazem mal. Muito mal.
Deixar que um prisioneiro que devia estar sob a mais estrita vigilância cometa suicídio (e escape ao julgamento) é mais um ruidoso e claro sinal da indigência e incompetência da justiça e do sistema prisional portugueses.
Não faltará quem diga que teve o que merecia, sozinho ou ajudado, e nem se sabe muito bem que resultados terá a investigação da Inspecção Geral da Administração Interna.
Os que lançam serpentinas e foguetes não percebem que os fumos da sensação de justiça escondem a falência de uma sociedade e de um sistema.
Podem emocionar-se à noite com a sua própria compaixão indignada. Mas a barbárie escreve-se de mais maneiras do que aqueles que dizem defender a civilização e a bondade têm sequer capacidade para imaginar.
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