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Colégios com muitos donos (reescrito)

por Tempos Modernos, em 11.05.16

Depois do 25 de Abril, dois cardeais  intervieram durante anos na vida pública e política portuguesa. Sempre sem tomarem continuado e notório partido por uma das partes. Mesmo que o seu natural os inclinasse a umas opções e não a outras. Com Manuel Clemente, alguma coisa se alterou em termos de equidistância. 

 

Um certo clima florentino coincidente no tempo com as vésperas da sua subida à púrpura cardinalícia já não prenunciava um magistério particularmente exaltante. Nas vésperas da escolha, o conservador Carlos Azevedo - principal opositor do hoje cardeal -  foi atingido por informações e rumores mantidos a circular inclusive por gente inesperada.

 

Ao engrossar a voz de uma tendência da Igreja - que já nem é muito recente (aqui e aqui) - o cardeal-patriarca de Lisboa apoiou os colégios com contrato de associação: Os pais dos alunos do privado "também financiam as escolas estatais", disse.

 

A igreja do Papa Francisco não parece ser a mesma de Manuel Clemente, um cardeal de discurso demasiado cesarista, agora confundível com o dos proprietários dos colégios privados.

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publicado às 16:29

Outras sintonias

por Tempos Modernos, em 11.05.16

Na passada sexta-feira, Pedro Passos Coelho avisava o Governo. Os colégios com contrato de associação podiam pôr o Estado em tribunal por não cumprir compromissos.

 

A ideia não era nova, mas na terça-feira dez colégios deram razão ao ex-primeiro-ministro que, já em final de mandato (depois de três anos de cortes no ensino público, de despedimento de professores, de aumento de dimensão das turmas da escola pública, e de reduções da rede escolar), andou a contratualizar a prestação de serviços educativos com privados: entre o final desta semana e o início da próxima, dez colégios prometeram avançar para tribunal.

 

São o mesmo tipo de afinidades electivas de que se falou no postado anterior.

 

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publicado às 16:02

Sintonias

por Tempos Modernos, em 10.05.16

Gritou anos a fio contra o Viver acima das possibilidades português - um mantra do PSD e do CDS-PP no Governo. Não há muito tempo, deixou o jornal que dirigia. Poucos meses antes de a publicação fechar crivada de dívidas - um desfecho inexplicável para quem destruiu tanto eucalipto a exigir o empenho nas boas contas.

 

Saído da direcção do jornal, logo se ocupou. O que é natural. A mobilidade é um atributo de alguns jornalistas - uma gente que roda pelos lugares de chefia e de comentadores na imprensa como se aquilo fosse um carrossel onde não entra mais ninguém.

 

Ontem, o Sempre Comentador colava o ministro da Educação a Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores. Já hoje, Passos Coelho explicou acusações de sábado: São da Fenprof os interesses servidos por Tiago Brandão Rodrigues

 

As afinidades electivas explicam muitas coincidências, muitas convergências. Mas às vezes ouvem-se os comentários da coisa política e dá a impressão de se estar a ouvir uma orquestra.

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publicado às 16:56

A melhor prova do pudim está no comer o pudim. Ou a verdadeira qualidade das escolas de negócios da Nova, da Católica e do Porto prova-se através da qualidade dos negócios com que vindos delas comemos.

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publicado às 20:43

 

Os jornalistas deviam ser formados em matemática, física, química ou engenharia. Seria a única* forma de escaparem às mentiras e armadilhas dos números, métricas e modelos económicos - que têm tudo de ideológico e nada de científico.

 

Tal como vêm formados das escolas de ciência da comunicação quase só servem para fazer relações públicas e marketing comunicacional.

 

* "a única" era provocação, mas que seria de muito longe melhor forma tenho escassas dúvidas.

 

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publicado às 15:15

 

 

No modo elíptico que lhe é habitual, a Igreja Católica apelou aos professores para não fazerem greve aos exames e terem "todos os factores" em conta.

 

Até por isso vale a penar reparar hoje na página online da Rádio Renascença. Não é exclusivo, mas na zona nobre (ver foto) o tom é de crítica aos grevistas. São os alunos injustiçados, a estudante que questiona Mário Nogueira, o comentador que explica por que não faria greve.

 

Não teria de ser diferente. Em tempos de posições extremadas, repórteres diferentes têm forçosamente posições diferentes.

 

Mas neste caso da emissora católica há um dado a ter em conta. A Igreja Católica é dona de um imenso rol de colégios. Manuel Clemente, o novo patricarca de Lisboa, não o diz, mas a instituição a que pertence lucra objectivamente com o fim da escola pública, com o alargamento dos contratos de associação com colégios privados.

 

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publicado às 12:35

Luís Pedro Nunes, do alto do seu púlpito n’O Eixo do Mal, da SIC Notícias, acusa a FENPROF de não se renovar e manter Mário Nogueira* como secretário-geral há demasiados anos.

 

Mário Nogueira foi eleito pela primeira vez em 2007 para o lugar que ocupa - e reeleito duas vezes desde então. Luís Pedro Nunes é director do jornal satírico O Inimigo Público desde 2003, mas não consta que alguém tenha votado nele. É só o dono da bicicleta.

 

*Figura que nem me é particularmente simpática

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publicado às 12:15

"Antigamente, a escola era risonha e franca"

por Tempos Modernos, em 30.08.12

 

Crato trouxe embeiçada uma legião de fãs à custa de meia dúzia de livros de divulgação matemática e, alegadamente, sobre pedagogia.

 

Endeusado pela comunicação social, a coisa valeu-lhe vários convites. De comentador televisivo frequente foi um passinho até se tornar dislatador residente do Plano Inclinado com Medina Carreira, outro embeiçador mágico.

 

À frente da Educação tem desejos que outros tiveram: o senhor ministro quer deixar marca. E como não há dinheiro, nem escolas para inaugurar - o que lhe garantiria plaquinhas para a eternidade - entretém-se a tudo querer mudar.

 

Com uma diferença. De outros sempre haveria qualquer ideia que se conservasse. Deste parece ser tudo para deitar fora, quando o Ministério regressar ao século XXI.

 

Aproveitar os resultados do percurso escolar, entre os dois primeiros ciclos da escolaridade obrigatória - cumprido habitualmente entre os seis e os 12 anos -, para canalizar  os estudantes com pior aproveitamente para um ensino profissional forçado, ainda não é o regresso da palmatória. Mas já faltou mais.

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publicado às 10:05

O respeito pela imbecilidade

por Tempos Modernos, em 30.07.12

Por qualquer motivo que não consigo compreender, responsáveis académicos arranjam sempre motivos para justificar a não condenação explícita das praxes.

 

A coisa configura ilícito e carrega óbvia coação piscológica quando não física. Mas o que se verifica é que funcionários encontram sempre forma de relativizar a coisa e até se arranja maneira de institucionalizar a praxe em estatutos.

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publicado às 12:27

 

(Foto: A Bola.pt)

 

A realidade anda demasiado atroz para se escrever sobre ela.

 

Nos blogues, vejo que barretos e manuelas ferreiras leites continuam a catequizar telespectadores e a entorpecer sinapses neuronais.

 

A Alemanha, finalmente ameaçada pelos mercados, grita - como antes gritou Portugal que não era  Grécia - que não é a Espanha, a Itália: "Nós somos a âncora do euro." Por cá, o Governo segue viagem numa ampla e antológica frente de disparates estratégica e ideologicamente criminosa.

 

Assunção Cristas, um ente político bem kitado pela comunicação social, abre caminho à eucaliptização do país. Segundo parece, do ministério da Agricultura, Ambiente e Ordenamento sairá legislação pondo fim à necessidade de pedido de autorização para o tipo de árvore a plantar em terrenos de até cinco hectares (dez no caso da rearborização).

 

Desde há muito que especialistas em incêndios florestais têm apontado a monocultura florestal como uma das grandes reponsáveis pela rapidez de progressão dos fogos em Portugal. Tiro e queda. A brilhante ideia sai do gabinete da ministra cá para fora e o país leva a semana a arder. Talvez Assunção Cristas volte a propor a reza do terço, desta vez como solução para os fogos e seu impacto económico.

 

Com o incentivo pirómano saído do Ministério de Assunção não haverá muito mais a fazer. É a aposta na Economia de Catástrofe: Um inferno repleto de helicópteros de combate a incêndio, de  pesados meios humanos e técnicos a pagar pelo Estado. Com que impacto no crescimento da Indústria? É que as exportações de pasta de papel são próprias de uma economia terceira-mundista. Os países crescidos produzem mesmo é papel. Deixam a matéria-prima para as colónias. Aulinhas de História Económica faziam muita falta a muita gente, turbo-licenciada ou doutorada que seja.

 

Nuno Crato, cuja telegenia e saudosismo da escola salazarista converteram em especialista em educação muito requisitado pelos jornais, lá vai fazendo os possíveis para recolocar Portugal no caminho do atraso educativo. Catedrático de matemática, na mesma escola que teve Bento de Jesus Caraça como referência, evidencia ruidosamente que nem tudo era mau nos anos 1940. Ou de como alguns de agora se podiam trocar pelos de então.

 

Mostrando como os economistas aprendem a fazer contas, com a costumeira justificação da falta de dinheiro, Crato decidiu aumentar a dimensão das turmas. Reduziu administrativamente a necessidade de professores, mas aumentou a prazo o insucesso escolar e de aprendizagem.

 

De repente, talvez alertado pelas queixas sindicais, reparou que as escolas ficariam com umas quantas dezenas de milhares de horários zero. Além dos contratados, muitos salários para pagar. Gente do quadro sem horários disponíveis nas escolas. Para grandes males, grandes remédios. Escasso par de dias após forçar milhares de professores a novo concurso, decidiu que as escolas deveriam reavaliar mais uma vez as necessidades.

 

Para os professores emprateleirados pediu às escolas inventassem colocações administrativas ou no apoio ao ensino. Muitos irão parar a bibliotecas, outros ajudarão a dar aulas no primeiro ciclo do ensino básico. Por um lado, mina-se a qualidade do ensino aumentando o tamanho das turmas, depois atiram-se os professores sobrantes, sem preparação e desmotivados, para as antigas escolas primárias.

 

Uma nota pessoal: Aqui há dias fiz intensa campanha pessoal junto de uma professora de português para dar positiva a um aluno com média de 46% permitindo-lhe passar para o 9º ano. Haverá algum motivo para ser exigente com o Zézito, estudante com dificuldades, quando ministros, dos mais cotados, demonstram não ter percebido nada das lições que o dia-a-dia lhes dá? Quando os ministros se comportam como comparsas dos Malucos do Riso, haja um resto de seriedade nalgum lado. O mérito e o rigor não podem ser apenas para os mais pequenos.

 

 

* Um verso de Sá de Miranda já usado por Lobo Antunes, António, como título de romance.

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publicado às 12:08


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