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O Governo organizou uma conferência aberta à comunicação social mas impediu que esta gravasse e recolhesse mais do que as intervenções inicial, de Carlos moeda, e final, de Passos Coelho.
Parte dos jornalistas abandonaram a sala num gesto que não é habitual, mas a organização prometeu que no final do evento os órgãos de comunicação teriam direito a um digest do que tinha sido dito. Depreende-se que o preparado propagandístico teria sido convenientemente mastigado pelos assessores governamentais.
Infelizmente, ontem as televisões lá estavam transmitindo em directo a intervenção do chefe de Governo. Não sei o que disse, nem do que falou. Não fiquei a ver. Dou sempre pouco seguimento aos que manipulam de modo tão óbvio.
Seria bom que as direcções de informação tivessem tido a coragem de deixar Passos Coelho a falar sozinho não transmitindo o discurso de encerramento da conferência mal aberta. Aos boicotes informativos, responde-se na mesma medida. O jornalismo falha todos os dias.
Ontem no Sindicato dos Jornalistas, entre outras questões, discutiram-se "despedimentos, encerramentos de publicações, falta de mobilização da classe, trabalho precário, estágios gratuitos, a proliferação das agências de comunicação ao mesmo tempo que diminuem o número de jornalistas ou os requisitos para o acesso à profissão".
Ninguém na Comunicação Social - da intocável casta directiva ao sítio mais fundo da cadeia alimentar - ignora que os tempos estão duros e que os jornais vendem cada vez menos. Ou que associada, a tudo isso, anda uma inevitável perda de postos de trabalho.
Mas colocar a venda de jornais como factor determinante para os jornalistas e o jornalismo exercerem a sua independência é varrer para baixo do tapete os atentados diários a essa liberdade.
Refraseando o que diz Baldaia, também nem todos dão por adquirido que rigor e isenção estejam garantidos só por os cargos de direcção e edição andarem entregues a "pessoas com carteira profissional de jornalista".
Aristóteles dizia -- eu tenho uma forte vocação citadora -- que todo o ser humano procura saber mais. Faço por isso, e sou igualmente preocupado com o saber dos outros.
Tenho pois, e também, uma forte vocação didática, nem sempre bem compreendida.
Ontem ligou-me uma rapariga. Perguntou-me primeiro com quem estava a falar e disse-me depois que lá no sítio onde trabalhava iam fazer publicidade no órgão de comunicação social com o qual colaboro quase exclusivamente. Disse mais. Queria saber se nós não poderíamos dar um bocado mais de destaque à peça que fizéssemos sobre aquilo que estava a querer promover.
Respondi-lhe que começava mal o discurso. Que é contraproducente acenar com publicidade a um jornalista para escrever sobre algum assunto.
Ela não percebeu. Tive de lhe explicar o código deontológico que a classe segue. Estranhou.
Que já tinha falado com órgãos da concorrência e ninguém levantara objecções.
Das duas uma. Ou as redacções estão cheias de gente que não se deixa abalar por relações públicas sinceramente convencidas de que os critérios editoriais são guiados pela publicidade, ou então mais ninguém se dá ao trabalho de explicar algumas coisinhas que deviam ser de senso comum.
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