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Francisco Louçã declara a morte do "pá". Di-lo substituído pelo "tipo". Talvez não se devesse armar ao linguista instantâneo.
Pode já não ter a força obsessiva que teve (por exemplo, na boca dos militares - ouça-se Otelo Saraiva de Carvalho), mas o obituário de Louçã parece manifestamente exagerado.
Saltando várias gerações, passando por cima da minha e da seguinte, ainda no ano passado, tive uma colega de 20 anos, na FCSH, que nos metralhava com "pás". Pá isto, pá aquilo. E não é caso singular.
Quanto ao "tipo" ter origem brasileira, será mesmo assim? Nos comentários, Louçã desconfia de alguém que lhe sugere esta hipótese, mas andará distraído há muito tempo: o "tipo" não virá antes do "like" de tanto filme americano, como já me sugeria um colega do Técnico há mais de 20 anos?
(Foto: rr.sapo.pt)
Durante demasiados anos, o Comité Olímpico Português teve Vicente Moura como dirigente máximo - um trabalho temperado com rasgos de autoritarismo, gaffes e falta de respeito por atletas.
Os resultados nunca saíram da banalidade e as episódicas medalhas deveram-se bem mais a rasgos individuais do que a um trabalho de continuidade.
Substituído o comandante, já se confirmou que voltamos a andar mal servidos de dirigente.
José Manuel Constantino anunciou há dias que Miguel Relvas será Alto Comissário da Casa Olímpica Portuguesa no Brasil.
Ou o presidente do Comité Olímpico Português chegou ontem de Marte ou tem uma exigência muito baixa em relação ao perfil ético e de cidadania dos que escolhe para consigo colaborar.
Só uma das duas justifica que ache que o ex-ministro, tendo passado pelo Governo como passou, tenha condições para assumir seja qual for o cargo público ou de representação nacional.
As lista são sempre pessoais. Dos Dez Melhores... , dos Dez Piores... , das Dez Mais Bonitas... , dos Dez Mais Cobiçados... , etc..
Dirão mais sobre quem as elabora que sobre a qualidade concreta do que propõem.
Agora que entregaram o Camões ao enviado de Dalton Trevisan, no Brasil a lista dos candidatos mais imediatos tem pelo menos dois nomes. Um é óbvio, o dramaturgo Ariano Suassuna, autor do picaresco O Auto da Compadecida. O outro também é óbvio. Chama-se Chico Buarque, estudou arquitectura e escreveu poemas com o rigor de uma Construção.
Diz a má língua curitibana que Trevisan não se flagra na rua, sempre fechado em casa. Há décadas, recusando contactar o mundo,
Brasileiro de origem polaca, nascido em 1925, licenciado em Direito, Dalton Trevisan faz contos curtos, despojados. Procura, lembrou Fernando Assis Pacheco, no prefácio ao Cemitério de Elefantes*, a concisão do Haikai, poemas japoneses de três versos.
Anacoreta, o óbvio Vampiro de Curitiba, título de um dos seus livros mais conhecidos, anda mais do que escassamente publicado em Portugal, como aliás a maioria dos escritores brasileiros que interessam.
É literatura para quem gosta de literatura. Silenciosa, exacta, rigorosa. Páginas brevíssimas, intensamente preenchidas. Crueldade, vidas rarefeitas, ternura destruída.
Há anos que receava que o Camões passasse ao seu lado, que o deixasse ir sem dar por ele. Os portugueses nem sabem o que ali está.
* É o único livro do autor publicado em Portugal. Neste momento nem sequer está disponivel no catálogo da Relógio de Água. O resto que se vai apanhando é em edições brasileiras.
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