Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



As lesões benfiquistas

por Tempos Modernos, em 14.10.16

Farto de os ouvir sem contraditório passei a dar ao desporto uma atenção que já não dava há um par de décadas. E o cenário está longe de ser brilhante. Veja-se a cobertura das sucessivas e incuráveis lesões do plantel do Benfica.

 

Não faltam os programas de debate. Há neles até – a moderar e a comentar – gente por quem tenho estima pessoal e consideração profissional. E, contudo, não se aproveita nada do que dali sai. Guerrinhas estúpidas entre clubes, insultos, ofensas, discussões de lances duvidosos. Horas a fio nisto. Mesmo o que se aproveitava, com profissionais a falar de desporto, parece ter acabado de vez.

 

No último mundial de futebol, antes de Portugal entrar em cena, assistiu-se a inúmeras discussões entre jornalistas por causa das diferenças dos treinos da selecção portuguesa e da alemã. Ambas as equipas estavam no mesmo grupo e iam jogar em Manaus, lugar desgastante e de humidades altíssimas.

 

Longos dias os jornalistas questionaram as vantagens dos alemães estarem a treinar num ambiente semelhante aquele em que iam jogar. A selecção portuguesa treinava noutro sítio qualquer – de condições muito distantes daquelas que iria enfrentar quando começassem os jogos da fase de grupos.

 

Apesar das dúvidas levantadas por jornalistas em estúdio, nunca a nenhum (que desse por isso) ocorreu informar-se com especialistas de medicina desportiva, de treino de alta competição. Em vez de darem a ouvir opiniões abalizadas, limitavam-se a repetir que se calhar a Alemanha fazia bem e Portuga fazia mal.

 

Depois do primeiro jogo (Alemanha, 4-Portugal, 0), lá apareceu um jornalista (salvo erro, Rui Santos) com uma tese ou estudo acerca do treino de adaptação de desportistas de alta competição a condições extremas. O que devia ter sido dado antes, só foi dado depois da porta arrombada. Não existiu o debate que se calhar poderia ter sido feito em antecipação, e com possibilidades de correcção. Os jornalistas não têm de ser especialistas em tudo aquilo de que falam, mas se não sabem, têm a obrigação de ir perguntar a quem sabe para cumprir a sua função informativa.

 

É exactamente o que agora se passa com as lesões do plantel benfiquista. Não basta aos jornalistas, que ocupam dezenas de horas de antena televisiva, referirem a existência de um batalhão de lesionados no plantel benfiquista. Não lhes basta dizerem que é estranho, fazer notícias a dizer que a SAD encarnada já mandou perguntar o que se passa. Não basta aos repórteres dizerem que o Sporting aproveita as redes sociais para mandar bocas ao rival por causa das lesões.

 

Os jornalistas não podem aceitar como boa a explicação de que se trata de azares acumulados ou ficar satisfeitos com informação lacunar – que deviam ter sido eles a tentar obter - deixada escapar por ex-futebolistas em programas de debate.

 

Os jornalistas têm, mais uma vez, de falar com especialistas em medicina desportiva, em treino de alta competição, de lhes perguntar o que se pode passar no departamento clínico, nos treinos da equipa da Luz. Só com essa informação podem questionar a equipa, o treinador, o preparador físico, os médicos. Só com informações de especialistas podem fazer as perguntas certas. E obter as respostas que interessam, as respostas que informam. É só isso que se pede aos jornalistas. O resto, a conversa, tantas vezes entre adeptos alarves, não adianta nada ao seu papel constitucional de informar.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:22



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2012
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2011
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D