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Farto de os ouvir sem contraditório passei a dar ao desporto uma atenção que já não dava há um par de décadas. E o cenário está longe de ser brilhante. Veja-se a cobertura das sucessivas e incuráveis lesões do plantel do Benfica.
Não faltam os programas de debate. Há neles até – a moderar e a comentar – gente por quem tenho estima pessoal e consideração profissional. E, contudo, não se aproveita nada do que dali sai. Guerrinhas estúpidas entre clubes, insultos, ofensas, discussões de lances duvidosos. Horas a fio nisto. Mesmo o que se aproveitava, com profissionais a falar de desporto, parece ter acabado de vez.
No último mundial de futebol, antes de Portugal entrar em cena, assistiu-se a inúmeras discussões entre jornalistas por causa das diferenças dos treinos da selecção portuguesa e da alemã. Ambas as equipas estavam no mesmo grupo e iam jogar em Manaus, lugar desgastante e de humidades altíssimas.
Longos dias os jornalistas questionaram as vantagens dos alemães estarem a treinar num ambiente semelhante aquele em que iam jogar. A selecção portuguesa treinava noutro sítio qualquer – de condições muito distantes daquelas que iria enfrentar quando começassem os jogos da fase de grupos.
Apesar das dúvidas levantadas por jornalistas em estúdio, nunca a nenhum (que desse por isso) ocorreu informar-se com especialistas de medicina desportiva, de treino de alta competição. Em vez de darem a ouvir opiniões abalizadas, limitavam-se a repetir que se calhar a Alemanha fazia bem e Portuga fazia mal.
Depois do primeiro jogo (Alemanha, 4-Portugal, 0), lá apareceu um jornalista (salvo erro, Rui Santos) com uma tese ou estudo acerca do treino de adaptação de desportistas de alta competição a condições extremas. O que devia ter sido dado antes, só foi dado depois da porta arrombada. Não existiu o debate que se calhar poderia ter sido feito em antecipação, e com possibilidades de correcção. Os jornalistas não têm de ser especialistas em tudo aquilo de que falam, mas se não sabem, têm a obrigação de ir perguntar a quem sabe para cumprir a sua função informativa.
É exactamente o que agora se passa com as lesões do plantel benfiquista. Não basta aos jornalistas, que ocupam dezenas de horas de antena televisiva, referirem a existência de um batalhão de lesionados no plantel benfiquista. Não lhes basta dizerem que é estranho, fazer notícias a dizer que a SAD encarnada já mandou perguntar o que se passa. Não basta aos repórteres dizerem que o Sporting aproveita as redes sociais para mandar bocas ao rival por causa das lesões.
Os jornalistas não podem aceitar como boa a explicação de que se trata de azares acumulados ou ficar satisfeitos com informação lacunar – que deviam ter sido eles a tentar obter - deixada escapar por ex-futebolistas em programas de debate.
Os jornalistas têm, mais uma vez, de falar com especialistas em medicina desportiva, em treino de alta competição, de lhes perguntar o que se pode passar no departamento clínico, nos treinos da equipa da Luz. Só com essa informação podem questionar a equipa, o treinador, o preparador físico, os médicos. Só com informações de especialistas podem fazer as perguntas certas. E obter as respostas que interessam, as respostas que informam. É só isso que se pede aos jornalistas. O resto, a conversa, tantas vezes entre adeptos alarves, não adianta nada ao seu papel constitucional de informar.
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