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A tradução tornou-se rotineiramente mal paga. E se os clientes pagam mal, é natural que para despachar se evitem grandes preocupações com o rigor. Quanto mais se traduzir, mais se recebe - embora sempre mal. Depois dá bronca. Sai a obra uma coisa achavascada.
Há dias, num canal televisivo, em programa sobre o Código Hays, o código de censura dos filmes norte-americanos que vigorou em força entre as décadas de 1930 e 1950, falava-se do modo como Hollywood edulcorava tudo aquilo em que tocava. Exemplo, o filme Sete Noivas para Sete Irmãos, musical clássico, trazido dos palcos, que pegava no tema do “rapto das mulheres da tribo dos Sabines”.
Ora, trata-se obviamente da tradução para um misto de português e de inglês de episódio da história de Roma conhecido em Portugal como o Rapto das Sabinas. Aquilo que é hoje Portugal tem um convívio milenar com a cultura latina. Não deve haver história clássica que não tenha uma designação em português escorreito. Bastaria um módico de reflexão acerca da língua para que lhes ocorresse haver um equivalente português que evitasse uma directa tradução do inglês original do programa. Passa-se o mesmo com dezenas de topónimos internacionais, de África ao Extremo Oriente, de que a imprensa fala diariamente. Dá impressão que os portugueses não passaram por lá, grafando nomes portugueses daqueles lugares.
Ontem, o canal voltava à asneira. Falava de Maurice Dupin, “pai do famoso romacista Georges Sand”. Talvez não seja assim tão famoso. Afinal, não ocorreu a quem traduziu e a quem fez a revisão que George Sand era uma mulher. De qualquer modo, também anda aí uma tradução de um livro do historiador Peter Burke, acerca do renascimento, onde se referem à igualmente senhora George Eliot, como escritor. Que não se dê por isso entre gente que edita livros ainda se torna mais curioso.
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