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Há pouco tempo, o canto da varanda, um bloco maciço de cimento e ladrilhos, com perto de um quilo, caiu da altura de um quarto andar, sem que se tivesse dado pela fractura iminente.
Era fim-de-semana e iniciou-se a ronda das capelinhas, quem interditaria a vertical do prédio de maneira a impedir acidentes com as pessoas e as viaturas que habitualmente estacionam no passeio debaixo das varandas.
Passou-se pela PSP e pelos bombeiros e acabou-se a falar a um domingo com o responsável da protecção civil do concelho.
Explicou-se ao simpático senhor que almoçava com a família que podia ser domingo, mas convinha fazer qualquer coisa no imediato, pois ele adiava para o dia seguinte.
Entre ele vir colocar obstáculos à circulação no passeio - que impedissem estacionamentos e a passagem de pessoas - e iniciar uma obra poderia voltar a cair qualquer coisa e morrer alguém.
Apesar da primeira resistência, não foi difícil convencê-lo a vir. Mas depois não contactou ninguém para perceber melhor a situação. E fez asneira. Ao chegar, instalou os obstáculos e foi-se embora. Ficaram sob a varanda errada.
Os donos da varanda lá corrigiram a situação, arrastaram os pinos e as faixas delimitadoras para debaixo da varanda certa. Não contavam era com os vizinhos. Ao longo dos dias seguintes, até se iniciar a obra imediatamente pedida, os obstáculos foram sendo retirados, mudados de sítio, reajustados na posição. Havia quem estacionasse ali, as pessoas continuavam a passar por lá.
Havia sempre alguém que mexia nas balizas e as mudava de sítio como se não estivessem ali para minimizar o risco potencialmente fatal da queda vertical de calhamaços de cimento e ladrilhos. Não lhes ocorria que aquele estendal tinha uma qualquer justificação, nem mesmo tendo pespegada a identificação da protecção civil concelhia. Pensavam lá que pudessem estar a matar alguém.
(Foto: governo.gov.pt)
Segundo o noticiário dos últimos dias, o ministro dos Assuntos Parlamentares tem em mãos um estudo que prevê a entrega a privados das bases de dados de toda a administração pública, o que inclui designadamente, informação classificadas e segredos de Estado.
A ideia, peso as palavras, é do foro da mais absoluta e indigente irresponsabilidade institucional.
Os deputados do PSD e CDS-PP, sempre tão prontos a puxar dos galões do sentido de Estado, acham desnecessário ouvir o ministro.
Pela análise dos dados recolhidos para este artigo de jornal, tenderia a concluir que a falta de chefias poderia ser um dos problemas da administração pública portuguesa, tal é a desproporção entre dirigentes e dirigidos. A conclusão de quem fez o artigo é justamente a contrária.
Acredito, tal como é dito na notícia, que a existência de um chefe para cada 45 trabalhadores do Estado pecará por defeito. No entanto, as assumidas limitações metodológicas do trabalho aconselhariam que se evitasse tirar conclusões sobre cortes no Administração Pública. Mais, ditava a prudência evitar que com ele se fizesse manchete.
Mas isso não é feito e vários dos leitores que comentam - uma entidade abstracta que tipicamente escreve antes de reflectir - acham que os números são escandalosos.
Eu que conheço secções de órgãos de comunicação social com tantas chefias como chefiados - e até mais chefias que chefiados - ponho-me a imaginar que quem faz os comentários deve trabalhar nas colheitas agrícolas ou na indústria pesada, sítios onde se recorre à mão de obra intensiva. Duvido que tenham parado para olhar para os seus próprios locais de trabalho e para fazer umas continhas.
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