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O pessoal que no comentário jornalístico e na blogosfera protestou contra os professores de greve em dia de exame encontrou durante a semana aliados preciosos.
Num dia, um grupo de deputados da JSD, colectivo onde o bom-senso marca escassa presença, exigiu saber quanto custam os sindicatos ao Estado. Ou seja, embora não percebam o alcance da ideia, desagradam-lhes os custos da democracia.
No dia seguinte, foi o sempre poupado Alberto João Jardim que reclamou a mudança da lei da greve.
Benditas companhias.
(Foto:dn.pt)
Do visto até agora, apenas Cristina Esteves na RTP Informação sacou para lead o que de mais relevante foi ontem declarado por Alberto João Jardim ao vencer por 142 votos a candidatura de Miguel Albuquerque, presidente da câmara do Funchal, para a presidência do PSD na Madeira.
Embora fosse a primeira vez que Jardim tinha adversário isso já era sabido há muito. Previsível era também a vitória, mesmo que fosse curta e que anuncie uma retirada mais breve do presidente do governo regional da Madeira. Relevante, relavante é o tom de ameaça ressentida que as palavras de Jardim carregam.
De certa forma as palavras de Jardim legitimam acusações antigas feitas pela oposição e imprensa especializada sobre certos tiques no governo daquela região autónoma.
Sempre tão sedenta de sound bites, a comunicação social deixa quase toda passar pérolas destas.
O tom das críticas e a recusa de Passos Coelho em envolver-se na campanha eleitoral da Madeira fazem mais pelo regular funcionamento das instituições que as tímidas declarações de Cavaco.
Distanciar-se do comportamento de Jardim e das escolhas do partido na região só podem trazer vantagens para a democracia.
Luís Montenegro, presidente do Grupo Parlamentar do PSD, devia aprender com o chefe. No frente-a-frente da SIC-Notícias criticou as contas mas aprovou a obra de Alberto João. Esquece o pormenor (pequeno) de que a obra não teria sido feita se as contas não tivessem sido escondidas.
...e, no entanto, as soluções que apresenta soam demasiado "a casa roubada..."
Ainda por cima, numa altura destas, vir fazer o elogio dos açorianos soa a achincalhamento dos madeirenses. Não é que não sejam crescidinhos para assumir responsabilidades e escolhas eleitorais, mas já o eram no passado quando Cavaco se calou.
O Senhor Presidente da República que sabia desde Julho - quando marcou as eleições regionais - dos malabarismos feitos por Alberto João Jardim com a dívida madeirense continua sem dizer nada sobre a situação no arquipélago.
A ver o que diz nos Açores, região que o costuma preocupar muito mais.
Publicada a meio da tarde, a notícia sobre a dívida dos PALOP a Portugal não voltou a sair dos destaques do Público online durante o resto do dia. Nem mesmo quando Cavaco e Passos Coelho terminaram a reunião para discutir a situação da dívida clandestina da Madeira.
Finalmente, já à noite, Alberto João Jardim misturou alhos com bugalhos e exigiu saber quanto dinheito perdoou Portugal às antigas colónias africanas.
Há coincidências tramadas. O Banco de Portugal divulga o valor da dívida numa altura em que tanto jeito dá a Jardim voltar a usar o velho número das colónias e da ocupação.
A reunião lá terminou e à saida não houve declarações de ninguém sobre a Madeira.
Valerá a pena ficar atento ao Facebook?
Louçã quer que da reunião de amanhã entre o Presidente da República e o primeiro-ministro saia uma decisão sobre a aplicação da lei das incompatibilidades na Madeira.
Cavaco sempre se distinguiu mais pelo calculismo que pela coragem. Em 2008, quando passou pelo arquipélago foi impedido pelo PSD local de presidir a uma sessão solene da Assembleia Regional. Não houve reacção que se visse e recebeu os partidos da oposição em encontros privados, quase clandestinos.
Agora, com Alberto João Jardim apanhado no percurso descendente da roda da fortuna, fará Cavaco o que se impõe?
Cavaco, primeiro-ministro, legou a Guterres um país sem indústria produtiva, sem pescas e sem agricultura, sem parte significativa de transferências devidas da segurança social e com milhares de funcionários de Estado a recibo verde. Legou também o modelo das parcerias público-privadas, que o engenheiro tratou de multiplicar, não pondo fim ao processo de desindustrialização nem de ruína do sector primário. Seguiu com a Expo, que transformou um parque industrial envelhecido num aglomerado suburbano mas caríssimo e à beira-rio. Construiu estádios de futebol.
Quando Guterres se lembrou de taxar as mais-valias bolsistas, os jornais trataram de lhe desfazer o estado de graça. Taxar pelo mesmo imposto pequenos utilitários e jipes, retirados da classificação de viaturas de trabalho, foi na mesma altura considerado um escândalo pelo mercado automóvel.
Vieram Barroso, Portas e Ferreira Leite, sucedidos por Santana, Portas e Bagão Félix e por Sócrates e Teixeira dos Santos. Nem se apostou na Indústria, nem na Agricultura e Pescas, nem no fim das ruinosas parecerias público-privadas. Já eram os tempos do euro, da moeda. Atropelado pela auteridade e por cortes o país lá ia convergindo para o cumprimento do défice, os portugueses para a pobreza, pelo menos os do costume.
Entretanto O BCP e o BPN cresciam. Ocupavam mercado financeiro com figuras de proa do laranjistão à frente. Depois foi o descalabro. Com sortes diferentes, Oliveira e Costa e Dias Loureiro são apenas duas das figuras envolvidas na trapalhada. Suspeitas de crime, constituição de arguidos, nacionalizações. Os lucros privados dos ex-ministros, e outros, resultando na socialização dos prejuízos. O défice trepando brutalmente para evitar "riscos de contágio". O PS voltando a pedir ao FMI para aterrar na Portela.
Agora, sabe-se que as contas da Madeira, secularmente governada pelo PSD local, eram tudo menos fiáveis. Com a tróica bem instalada e com os seus comanditados querendo mostrar serviço, o défice de 2008, 2009 e 2010 terá mais uma vez de ser revisto.
Os comentadores mais sonoros não têm deixado de unir o PS inteiro na responsabilidade da situação que o país atravessa. Afinal, os congressos do socratismo foram marcados pelas vitórias monolíticas do primeiro-ministro. Mas já era tempo de lá juntarem o PSD, que apesar da intervenção dos bancos e da Madeira parece acabar sempre por fugir entre as gotas da chuva. Vantagens de se ser um saco de gatos.
Num dos casos, dizem que era gente de outro chefe, eles que se amanhem que o PSD e a sua cultura nada têm a ver com isso. No outro é uma pandilha que só vai a votos sob a égide do PSD, mas aquilo até é outra coisa, outro partido, como o comprova o M de Madeira, acrescentado à frente do nome.
Duro, Cavaco encrespou-se com o Estatuto Político-Administrativo dos Açores. Convocou o País para uma comunicação de Estado. Com a população suspensa das declarações, correram rumores sobre o estado de saúde de S.Exa., sobre demissões eminentes.
Mas a montanha tinha parido um rato. As críticas fariam sentido, mas nada que justificasse o estardalhaço - muito menos depois da forma como, três meses antes, tinha lidado com o continuado caso madeirense.
Nesse mesmo ano, em Abril, Cavaco visitara a Madeira. Preocupados e cuidadosos, os deputados regionais do seu partido, o PSD, tinham recusado que o chefe de Estado presidisse a uma sessão da Assembleia Regional. Na altura, à chegada ao Funchal, Cavaco achou sensato e adequado elogiar o sucesso das autonomias.
Mas o preocupação de Alberto João Jardim em evitar o contacto de Cavaco com o "bando de loucos" existente naquela Assembleia pode agora ver-se baldada: Representantes desta alegada sucursal madeirense do Júlio de Matos andam dirigindo-se a Belém, queixando-se da falta de condições para eleições livres.
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