Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
(Foto: rotekulturlinks.de)
Angela Merkel tem um futuro terrível. A história reserva-lhe um papel cruel como a mulher estúpida e ideologicamente fanática que conduziu todo um continente para o abismo económico, cercado de gauleteirs igualmente estúpidos e submissos. Da história desta crise não constará a redenção. E é inútil remar em sentido contrário, como se continua a fazer na agenda noticiosa. Os jornais falharam a crise e passam diariamente ao lado da história enquanto se dedicam à propaganda dos interesses dos seus proprietários.
Há dias, Angela Merkel anunciou o mercado único europeu do trabalho, uma coisa que se está a construir num processo que "durará anos, talvez décadas". É fácil de explicar como funciona a brilhante ideia da governante alemã. Primeiro, destroem-se as economias dos países do sul. Terraplam-se direitos sociais e esmagam-se os salários. Depois, essa mole de gente empobrecida emigra Europa fora - com a vantagem de que boa parte dessa gente é, hoje, profissional e academicamente qualificada. Qualquer melhoria salarial em relação ao país de origem será encarada como uma benção.
E quando esses milhões de trabalhadores, não tão bem pagos quanto isso, forem em número suficientemente alto nos países de destino, nas Alemanhas e quejandos, os salários locais acabarão pressionados pelos valores mais baixos dos igualmente qualificados trabalhadores do sul. E a compressão salarial que hoje se sente em Portugal, na Grécia, em Espanha, será então sofrida na pele pelos empobrecidos trabalhadores alemães.
Pelos mesmos trabalhadores alemães que hoje votam em Angela Merkel e que se queixam de andar a trabalhar para os preguiçosos e corruptos parceiros lisboetas, atenienses e madrilenos. Nem nessa altura perceberão como se deixaram embarcar numa narrativa ideológica, falsa e fanática que visava transformar o estado de bem-estar social europeu numa coisa capaz de competir com a selvajaria social chinesa.
(Foto: sicnoticias.sapo.pt)
A António Vitorino saiu-lhe a sorte grande no dia em que a comunicação social publicou que tinha comprado um monte no Alentejo e fugido ao pagamento da sisa.
O então ministro da Defesa de Guterres demitiu-se, foi ilibado das acusações pela Direcção Geral das Contribuições e Impostos, e não mais voltou a servir a cidade dentro de portas. Precocemente senatorizado, descartou, rezam as crónicas, todas as solicitações para assumir funções e cargos públicos em Portugal.
A passagem pelo cargo de comissário europeu não conta. É um exílio dourado, uma vitrina de vaidades, e, apesar das juras, estão por provar os benefícios para Portugal da sua passagem por Bruxelas: o país não chegou de um dia para o outro ao ponto a que chegou. Parece que ainda há-de contar a história da vez em que Durão Barroso lhe passou a perna e lhe ficou com o desejado lugar de presidente da Comissão Europeia.
Na segunda-feira, dia 12, data em que Angela Merkel visitou o eremitério de Belém e o forte de São Julião da Barra, Vitorino vestiu mais uma vez o equipamento de comentador. Na RTP participou numa edição especial de debate, conduzida por Nuno Santo e intitulada O Morto da Europa. Não me recordo do texto exacto, e a coisa não está disponível online, mas em rodapé passou a ideia que Vitorino recusava uma aliança dos países do sul da União Europeia para fazer frente à austeridade.
Daquela cabeça, Vitorino é outro cuja genialidade ninguém contesta, continua a nada sair de jeito para a cidade. Vitorino é um dos rostos da estupidez europeia. Da estupidez que não percebe que só uma aliança forte contra o caminho suicidário pode impedir o afundamento do continente.
Nada do que Vitorino diz se aproveita. Mas continuam a ouvi-lo como se disesse coisas inteligentes. Ele que é incapaz de pensar fora das baias do pensamento único que destruiu o país e o continente. Fala-se dele a simpatizantes do PS, o maior partido da oposição, e muitos são os que o vêem envolto em brumas, um adiado D. Sebastião. Inevitavelmente será um nome equacionado para o bendito Governo tecnocrático. O chato disto, do campeonato dos desejados, é que da última vez que participámos fomos perder a Alcácer Quibir.
Sarkozy reúne-se esta segunda-feira com Angela Merkel para decidirem juntos o futuro de todos nós.
Passos Coelho já vincou a sua convergência de posições com a chanceler alemã.
Conjunturalmente, com escassas excepções, a Europa é governada por partidos neo-liberais.
Parece demasiado tentador, aproveitar a cimeira dos dias 8 e 9 de Dezembro para esticar a corda da austridade e do fim dos direitos laborais.
Mas não se devem esquecer de que, ao longo destes anos todos, na Europa, as maiorias conservadoras têm sempre alternado com as sociais-democratas/trabalhistas.
O facto demonstra a existência, em cada país, de uma certa polarização ideológica (sobretudo teórica) entre as forças em confronto com aptidão governamental.
Tentar uma golpada neo-liberal pode ser clarificador, mas vai deixar pelo menos metade da população europeia contra a urgente reforma da união.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.