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(Foto: bbc.co.uk)
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Segui com curiosidade a figura de Barack Obama a partir da altura em que o vi entrevistado por Jay Leno, ainda estava longe de ser escolhido pelos democratas como candidato à presidência dos Estados Unidos da América. Há quatro anos, por mera motivação pessoal, acompanhei debates em directo, sondagens e análises estatais, o noticiário norte-americano.
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O noticiário português, não me lembrava já e reapercebi-me ontem ao seguir novamente os canais internacionais, não permitia uma visão segura sobre o que se passava realmente no terreno. NotÃcias com dois e três dias eram publicadas como novidade nos onlines dos nossos órgãos de comunicação social. E mais vale olhar sozinho para as sondagens em bruto que ler análises em quarta e quinta mão sobre elas.
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Este ano - há tanta coisa para desesperar, para quê juntar-lhe as incertezas de uma reeleição num paÃs distante? - andei afastado da terça-feira eleitoral. Ontem, ao inÃcio da noite, ainda jornalistas portugueses nos garantiam que só lá para sexta-feira haveria resultados tal era a proximidade entre os candidatos à Casa Branca e grande a probabilidade de que contestassem a votação nalguns colégios eleitorais. Em cheio, como se viu: pouco depois das dez da noite local já se sabia que Obama tinha mais quatro anos de mandato, a maioria dos eleitores dos estados dançarinos tinham-lhe ido parar à s mãos, tal como a maioria dos votos populares e o Senado. E nem no Wisconsin, estado-natal de Paul Ryan, candidato republicano à vice-presidência, ou no Massachussets, onde Mitt Romney governou, se deixou de dar a vitória ao democrata.
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Às 5h da manhã soube que Obama vencera já as eleições. Durante a noite e a madrugada, pelos canais televisivos portugueses, encontravam-se os mesmos analistas de há quatro anos. Vasco Rato, Nuno Rogeiro, gente que fez parte das estruturas ideológicas do Governo de Durão Barroso-Paulo Portas.
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Não fiquei a ouvi-los, confesso. Atrevo-me a dizer que terão sugerido que entre Obama e Romney não há grandes diferenças, que Romney é um republicano moderado, que a eleição de um ou de outro seria indiferente, como se viu nestes quatro anos falhados. Nem todos os analistas da clique PSD e CDS-PP estiveram a favor da invasão do Iraque, mas os executores polÃticos empenharam o paÃs nessa intervenção ao lado de George W. Bush.
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Quatro anos passados, Obama não cumpriu muito do que prometeu. Ann Nixon Cooper já não está entre os vivos como estava em 2008. Os desejos tropeçam sempre na realidade. E a maioria republicana no Congresso tudo fará para minar iniciativas presidenciais. Mas, mesmo assim, é sempre melhor partir de um programa polÃtico onde a justiça e a cidadania prevaleçam do que de um onde se defenda o salve-se quem puder, o darwinismo social e o totalitarismo dos mercados. A ver o que faz agora Obama ao anunciar que "o melhor ainda está para vir".
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A eleição de Romney poria a Europa e os Estados Unidos a puxarem para o mesmo lado. O da austeridade e do empobrecimento sem barreiras. Só que no que toca ao sudeste asiático as paisagens são mais atraentes que os modelos sociais e as leis laborais. E a salvação dos orientais nunca ganhará nada com a miséria dos povos de outros continentes. Angela Merkel não precisa de mais aliados, como lembra Mário Soares. Precisa é que lhe tirem o tapete.
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(Foto: de Ted Aljbe/AFP/Getty Images em businessweek.com)
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A inteligente Angela Merkl pede mais cinco anos de austeridade para convencer o mundo de que vale a pena investir na Europa.
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Que projecto polÃtico mais lindo, santo Deus.
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(Foto: O Juramento do jogo da pena, Jacques-Louis David, em http://associationclaudesimon.org)
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Ao violar a promessa eleitoral de não ratificar o Tratado Orçamental Europeu - que entre outras coisas impõe limite de três por cento ao défice de paÃses da UE - François Hollande não trai apenas os seus.
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Bem pode ir ao encontro da boa gente responsável* que vê nesse valor mágico o fim último da história europeia, mas destrói a esperança de milhões. Erigido em salvador da esquerda social-democrata do continente, mostra como os socialistas e trabalhistas continuam amarrados às correntes da terceira via e como na prática se aproximam dos conservadores.
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Angela Merkl bem pode sorrir ao ver cair-lhe o inesperado Hollande no abraço de ursa com que afunda a União Europeia. Só que num momento, em que a crise se adensa, galga fronteiras, não encontrar alternativas nos projectos polÃticos dominantes terá consequências.
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Já desde há uns tempos, que os manifestantes ouvidos pelas televisões, um pouco por todo o lado, andam estranhamente articulados em termos de discurso polÃtico e económico. É uma multidão informada e crescentemente politizada, disposta a avaliar promessas eleitorais, o seu não cumprimento e impactos.
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Será preciso regressar aos ensinamentos de 1789, para perceber o que trazem no bojo essas multidões que por aà andam?
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*No Público de dia 25 de Setembro, atacava-se, em editorial, os verdes por contestarem Hollande e por se oporem ao Tratado Orçamental e não perceberem os sinais do tempo. É o mesmo Público que desde há anos vem estabelecendo profético o caminho europeu trilhado como inevitável, o único verdadeiro e justo. Como se comprova, esse futuro incondicional redundou num presente muitÃssimo mais que imperfeito.
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O bando franco-alemão decidiu agora que a Europa deve ter uma nova constituição refundadora que estabeleça um governo económico comum. Assim uma coisa em forma de imposição, que os habituais publicistas de serviço vão mais uma vez defendendo como inevitável.
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O eixo Sarkozy-Angela Merkl considera-se detentor de uma autoridade imperialista sobre os destinos europeus. Pouco importa que nem sequer encontre legitimidade no campo dos resultados.
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Nada disso impede o pequeno Nicolau de insistir na bizarria de um banco central independente do poder polÃtico, leia-se dependente dos poderes financeiros. Parece que na segunda-feira já haverá novidades cá para os cafres.
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Infelizmente, com a actual composição da esmagadora maioria dos executivos europeus não parece que venham a ser os governantes a tirar o tapete à auto-nomeada dupla de regentes.
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A contas com uma opinião pública envenenada pela história, pelo medo insano da inflação e por um infundado sentimento de superioridade, Angela Merkl é a mulher errada no momento errado.
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Manifestamente, não sabe o que fazer quando tudo arde em seu redor. Quando já toda a gente viu (até à Direita a quem a crise serve) por onde vão euro e Europa. Manifestamente, o continente está falho de lÃderes como Mário Soares lembra mais uma vez.
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A mediocridade convive mal com a diferença. Conseguiu evacuá-la de tudo que é lugar de influência. Os que resistem ou levantam a voz têm mau feitio ou defeitos piores. Ainda por cima a vitória da razão não põe comida na mesa. Por sobre a mediania apenas se ouvem as vozes dos que remam para o mesmo lado: os barretos, os medinas carreiras ou os pulidos valentes.
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Frau Angela Merkl não é uma lÃder, empurra com a barriga. Faz apenas o que a mandam fazer. Não tem o conforto das ideias próprias, nem a inteligência para pereceber que talvez não esteja certa contra a realidade que a bate com a teimosia de uma onda.
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Não tem sequer a desculpa de remar contra uma ideia que outros sabotam e minam. Não. Angelka Merkl navega no barco que construiu. No meio das ondas que ela própria vai soprando.
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Num outro contexto, o de Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt teorizou sobre a banalização do mal. Sobre aquele grupo de gente que, apanhada numa cadeia de comando, se desculpou com o cumprimento de ordens para o facto de ter de assassinado e torturado.
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As voltas da história apanham Angela Merkl como figura do meio numa outra hierarquia de poder. Uma força de outra ordem e carácter, com outros métodos e excessos mas que também anda às voltas com o medo e a destruição.
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A chanceler alemã manda tanto como aqueles gauleiters que William Holden desconsiderava em O Inferno na Terra. E está tão destinada ao fracasso como os militares interpretados por Sig Ruman em filmes de Wilder ou de Lubitsch. Infelizmente não tem um décimo da sua graça.
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