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No dia da nomeação de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas, um habitual comentador televiso de política internacional afirmou na televisão que a eleição do português era muito duvidosa, pois não se sabia para onde cairiam os votos da Rússia e da China. Estas afirmações manifestavam completa falta de acompanhamento do processo que lhe pediam para comentar enquanto especialista.
Há muito que todo o noticiário falava do apoio certo da China e de França a António Guterres. Quanto à Rússia, era pública e notória a oposição a Kristalina Goergieva. Se o apoio à primeira candidata búlgara, Irina Bokova, constituiria motivo para vetar Guterres já era dar um passo maior que as pernas. A troca da candidatura búlgar, em cima da hora, sugeria antes o contrário.
Leu-se também um jornalista sério e justamente respeitado manifestar surpresa pela eleição. Estranho. É que era complicado ser-se surpreendido. O desfecho feliz da candidatura de Guterres não foi propriamente imprevisto. Seria essa conclusão de quem tivesse ido cruzando o noticiário da emissora que o próprio Francisco Saarsfield Cabral dirige, a Rádio Renascença, com o do Diário de Notícia e com postados de blogue de Francisco Seixas da Costa, muito bem informado de todo o processo e várias vezes chamado a comentá-lo pela comunicação social.
Tinha este postado pendurado já há algumas semanas. Continua a fazer sentido no dia em António Guterres é confirmado no cargo de secretário-geral pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Publico com alguns acresentos. Para memória futura.
«Primeiro, Durão Barroso desmentiu ter promovido junto do Clube Bilderberg a candidatura de Kristalina Georgieva, a búlgara vice-presidente da Comissão Europeia, a secretária-geral da ONU, em detrimento de António Guterres.
Depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão desmentiu que Angela Merkel tivesse feito a promoção da búlgara de junto de Putin, durante uma eunião do G20.
Há dias, Paulo Rangel lembrou-se de dizer que o ruído da Comissão Europeia em torno da ida de Durão Barroso para a Goldman Sachs, servia para boicotar a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas - um nexo de causalidade curioso.
[A ligação encontrada por Rangel - Comparar e confundir carne do lombo (Guterres) com a carne que serviram aos marinheiros do Potemkime (Durão Barroso) - não lembraria ao diabo. Lembrou ao eurodeputado português. Então vocês não reparam no tipo de gente que Portugal tem?, cantou espalhando lama por toda a parte.
Depois recuou, mas] Paulo Rangel foi eleito pelo PSD que no Parlamento Europeu pertence ao grupo popular europeu, a família política de centro-direita de Durão Barroso, Angela Merkel e Kristalina Georgieva.
As manobras do PPE para tramar Guterres foram bastante ruidosas e tiveram direito a alertas como os de Francisco Seixas da Costa» [O embaixador, antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus e representante de Portugal na ONU, alertou dias mais tarde para o papel desempenhado na candidatura de Kristalian Goergieva por outro eurodeputado do PSD, Mário David. O secretário de Estado de Passos Coelho recusou então receber lições de patriotismo. Mas, se calhar, devia.
Teoricamente tem razão. Ninguém é mais ou menos patriota por apoiar ou deixar de apoiar um português para um cargo internacional. Muitos, logo de entrada, nunca viram motivos para apoiar Barroso na Comissão Europeia. O devastador rasto da sua passagem de dez anos por Bruxelas dão-lhes inteira razão.
O problema é que Mário David mistura várias coisas. A eleição de Kristalina Gergieva é do domínio do internacionalismo monetário e não do da pátria. Nada tem a ver com patriotismo ou com um empenho nacional declarado como aconteceu com Guterres. A mesma falta de transparência existiu aliás com Durão Barroso, cuja eleição foi secretamente cozinhada em directórios mundiais após a cimeira das Lajes.
E David escusava de justificar o seu papel na candidatura da amiga Kristalina com o desconhecimento das intenções de António Guterres, dizendo julgá-lo candidato presidencial. É distracção a mais. Há vários anos que Guterres negara querer entrar numa futura corrida a Belém. E há muito que era conhecida a sua vontade de ocupar o lugar de secretário-geral da ONU.
Mário David e outros fizeram parte de um frente estrangeira e europeia. A Alemanha fez força, coadjuvada por democratas tão pitorescos como os que governam a Húngria e tão musculados como os que estão à frente da Polónia. Com vários candidatos de países da União Europeia na corrida ao lugar de secretário-geral da ONU, a Comissão Europeia assumia um papel de não neutralidade, apoiando uma sua vice-presidente a quem deu licença sem vencimento - apesar dos compromissos de continuidade no cargo assumidos pelos comissários europeus. E Junckers andou mesmo em visitas de promoção de Kristalina Georgeva.
Espantoso, como vincou Jorge Sampaio.]
Marcelo Rebelo de Sousa disse nas Desertas que quer fazer tudo o que puder nos próximos quatro anos e meio, sem pensar em deixar coisas para um segundo mandato presidencial.
Hoje em artigo da Visão fez o elogio do velho companheiro de activismo católico, António Guterres, candidato agora a secretário-geral da ONU, o mesmo que se quiser, diz Marcelo Rebelo de Sousa, poderá "ser Presidente da República".
No final do mandato, o Presidente da República estará pelos 73 anos. Será, parece-lhe, uma boa idade para Guterres regressar à Pátria
(regressar, se for eleito secretário-geral da ONU)
e terminar uma carreira política que tem sido menos do que se chegou a esperar.
(fonte: publico.pt)
Faz hoje vinte anos que a polícia de Cavaco Silva e Dias Loureiro correu à bastonada os estudantes que se manifestavam contra o aumento de propinas no Ensino Superior.
Em editorial no Público, Vicente Jorge Silva iria pronunciar-se contra uns rabos e umas pilas mostradas noutras ocasiões de protesto - estendidos também ao secundário. Com irreprimível e transbordante clarividência inventava a Geração Rasca. Contribuía, e não pouco, para o descrédito da luta estudantil.
Pouco depois, Guterres calaria muitos protestos fixando as propinas no valor "simbólico" do salário mínimo, só que desde então não pararam de crescer e subir.
Hoje, as famílias portuguesas são na OCDE das que mais pagam para manter os filhos no Ensino Superior. E os estudantes que, nessa mesma geração, liam os Independentes e lutavam contra os "rascas" que saíam espancados da Assembleia da República, contra os "rascas" que mostravam pilas e rabos, são hoje secretários de Estado e ministros do nosso bonito contentamento colectivo.
(Foto: Bola.pt)
Sobre o Governo de Santana Lopes, escreveu-se bastamente.
Sobre a prévia tresloucada passagem do antigo primeiro-ministro pela autarquia lisboeta e que até fez cair António Guterres, nem por isso.
Há dias assinalaram-se dez anos sobre o fecho da Feira Popular, uma daquelas decisões inconsequentes, tomadas em cima do joelho por Santana Lopes, com o apetecível espaço imobiliário por lá deixado ao abandono, à ruína.
Deixou um túnel no marquês (cuja lógica viária e para a sustentabilidade de uma política de transportes é mais que duvidosa), um jardim no Arco do Cego (com um pavilhão arruinado e a servir de parque de estacionamento).
Que a Fundação "O Século" tenha perdido a Feira Popular enquanto fonte de rendimentos e tenha de inventar novos negócios para viabilizar projectos sociais é apenas uma das consequências das políticas de Santana Lopes, actos que destroem a longa distância e que muito depois de cometidos continuam a ter consequências.
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